O jovem Tomás Simões é engenheiro ambiental e sanitarista. Com apenas 25 anos, ele já persegue um mestrado em sua área aqui na UFG, mas ainda consegue dividir o seu tempo pacato entre profundos estudos acadêmicos com batalhas insanas, tensas e demoradas de tanques de guerra em campos de batalha variados por todo o mundo. Quer dizer, além de acadêmico, Tomás é jogador semiprofissional de World of Tanks e único membro goiano da equipe brasileira Red Canids e disputou o mundial do jogo em Varsóvia.
O World of Tanks, criado pela Wargamig, é um jogo de combate de tanques lançado em 2010 que, embora seja muito pouco conhecido no Brasil, já se tornou um dos principais focos de e-sports na Rússia, na China e em boa parte do leste europeu. Apenas agora o jogo começou, aos poucos, a se popularizar no Brasil e nos EUA, mas ainda longe de chegar no nível de popularidade de Dota 2 e League of Legends, por exemplo. “Aqui o game é bem recente em termos de competição e está entrando em parceria com a Level Up. A falta de um servidor localizado nas terras tupiniquins é um dos grandes impedimentos para o jogo se popularizar rapidamente, porém com as recentes competições online (XLG) e presenciais (BRMA SP) e agora esta parceria com uma empresa nacional, temos esperanças que o jogo comece a se popularizar aqui e quem sabe trazer um servidor ou cluster para o Brasil”, conta ele.
Jogador de longa data, Tomás conta que o interesse por WoT não teve nada de especial e surgiu mais por ser um consumidor ávido de materias históricos: “Desde pequeno eu já jogava diversos outros jogos geralmente no PC, particularmente sou um fanático pela engenhosidade acerca de veículos blindados e sempre gostei de pesquisar sobre a história dos conflitos modernos ao redor do mundo, em janeiro de 2013 comecei a jogar pelo simples fato do jogo possuir vários veículos famosos da Segunda Guerra como o Tiger (alemão), T-34 (soviético) e o Sherman (americano), todos blindados ícones deste conflito”. Antes disso, ele já jogava com certo afinco outros MMOs, mas nada a nível competitivo: “Desde os meus 14 anos eu já jogava alguns títulos famosos como Dota e Counter-Strike, mais nunca de forma competitiva a ponto de chegar em torneios maiores. Sempre fui um jogador eclético em termos de tipos de jogo, gostava de jogo de estratégia a jogos de tiro, sendo online ou não”.
Já o time foi criado em 2012, originalmente chamado de Game-Over. Hoje, além de mudar de nome, ele é composto por oito e-atletas de vários estados brasileiros. O time foi formado originalmente por mera diversão, sem a expectativa de um dia disputar o mundial: “O nosso capitão (GANDORFO) criou o time que na época se chamava GAME-OVER em 2012 se eu não estiver enganado, nesta época eu nem jogava, a ideia dele era de juntar os amigos e se divertir competindo nos torneios internos sem muito compromisso, o que é bem normal pra qualquer grupo de amigos jogadores no Brasil”, conta Tomás.
Tomás é o mais alto, de óculos
No final das contas, a equipe acabou sendo a única brasileira a ir ao mundial. A competição aconteceu no início de abril, em Varsóvia (Polônia). Quase tudo na viagem foi bancado pela Wargaming e os patrocinadores da equipe ajudaram com os outros gastos. “Neste ano houve duas formas de ser selecionado pro mundial, competir nas Ligas de Ouro dos servidores (1° e 2° lugar classificariam para um total de 8 vagas) ou vencer a qualificatória pra uma das 4 vagas de Wild Card que foram distribuídas pelo mundo. Nós conseguimos vencer a qualificatória no Brasil para 1 dessas Wild Card. Antes de competirmos com a INTZ pela vaga brasileira fechamos um acordo de patrocínio com a organização Red Canids para nos apoiar nesta empreitada inédita”.
Se você acompanha e-sports e reconheceu o nome Red Canids, isso é normal. Várias organizações privadas patrocinam equipes em vários jogos. Os mais famosos continuam sendo League of Legends, Dota e Counter-Strike, mas estas empresas já começam a se virar para World of Tanks, percebendo o crescimento do jogo e a profissionalização de seu jogadores. Infelizmente, a equipe perdeu os dois jogos da fase de grupos e foi eliminada antes das quartas de final. Mas isto não tira o mérito de serem os únicos brasileiros entre a elite mundial do WoT.
Além disso, a competição só motivou a equipe a se dedicar mais: “Nós pretendemos continuar competindo no servidor norte americano para conseguir novamente uma vaga para o mundial. Estamos estruturando o time para competir na Liga de Ouro ou Prata desde ano e apesar de o calendário de competições nacionais ainda não ter sido revelado, acreditamos que possa haver novamente torneios presenciais e online com premiação em dinheiro”. Tomás avalia o e-sports como um novo cenário muito inovador e pouco explorado do mundo dos games, especialmente por poder associar todo o imaginário do esporte convencional – torcida, ídolos, contratos estrambólicos – com os jogos virtuais estabelecidos: “É algo inovador e muito diferente do que normalmente se vê nos esportes comuns, pelo simples fato de que qualquer espectador poder interagir seja dentro do jogo ou durante as partidas com seus ídolos e até se tornarem ídolos de outros. O crescimento pra mim é algo bem real, apesar da crise que o país vive atualmente, acho que esse mercado só tende a crescer pois ele movimenta diversos setores direto ou indiretamente e associado ao grande público jovem presente no cenário”.
Ele se refere a si mesmo e aos colegas como semiprofissionais porque, embora tenham retorno financeiro, WoT ainda não se popularizou o bastante para eles poderem se dedicar exclusivamente ao jogo: “Pra gente houve retorno financeiro sim, já competimos em diversas temporadas na Gold League do servidor norte americano, torneios nacionais online e presenciais. Infelizmente no Brasil pra se viver como um jogador profissional é algo bem difícil, existem algumas equipes de outros jogos mais conhecidos no cenário que possuem atletas profissionais, mas é algo bem novo no país. Nosso time é composto basicamente por atletas semiprofissionais com bastante tempo de convivência no jogo, a maioria tem trabalha ou estuda em paralelo as competições”.