Velório de vítimas de ataque a escola reúne cerca de 1,5 mil pessoas em SC
Por volta das 11h, os caixões com os corpos deixaram o ginásio e foram levados em cortejo para o cemitério municipal
O velório das cinco vítimas do ataque a uma creche em Saudades (SC) foi uma mistura de consternação e indignação em um ginásio do Parque de Exposições Theobaldo Hermes. A despedida começou ainda na noite da última terça-feira (4) e reuniu cerca de 1,5 mil pessoas na manhã desta quarta-feira (5), segundo estimativa do Corpo de Bombeiros.
Ao lado dos pequenos caixões brancos das crianças estavam os pais delas. Choravam aos pés dos filhos, segurando suas mãos — uma das mães soluçava alto, inconformada com a partida precoce da filha.
Por volta das 11h, os caixões com os corpos deixaram o ginásio e foram levados em cortejo para o cemitério municipal, a cerca de 500 metros do local do velório.
As crianças foram sepultadas lado a lado enquanto as professoras foram enterradas em outros pontos do cemitério. A mãe de uma das crianças assassinadas desmaiou no final da cerimônia.
O aposentado Audivir Stertz, 64, é amigo de uma das famílias das crianças. Com dois netos, de cinco a oito anos, e esperando outros, ele se coloca no lugar dos pais das vítimas. “A gente nunca espera que isso aconteça. Aqui o pessoal é muito unido, todos se conhecem. Quando chega alguém desconhecido, a gente já desconfia.”
O idoso conta que ontem voltava do interior da cidade, onde foi cortar lenha, quando foi avisado pela esposa do ocorrido. Stertz mora próximo ao hospital da cidade e foi às pressas consolar o amigo, avô de uma das crianças. “Nem tive coragem para ligar para ele. Fui direto.”
Ontem, lojistas e moradores colocaram faixas pretas e cartazes com a palavra “luto” nas portas de estabelecimentos e casas das ruas principais da cidade. O clima é perplexidade cidade de cerca de 10 mil habitantes, localizada na região de Chapecó, no oeste de Santa Catarina.
Um taxista que pediu para não se identificar relatou à reportagem que o suspeito teria ido trabalhar antes do ataque e que, no intervalo, o jovem pegou a bicicleta e foi até a escola para cometer o crime.
O taxista disse conhecer a família do suspeito, considerado como alguém calmo, e observou que o pai dele tentou tirar a vida duas vezes, sendo demovido por familiares.
Na missa, o bispo dom Odelir lamentou as perdas. “Não temos como não se solidarizar. Estamos juntos. Que essas situações não se repitam mais. A sociedade brasileira precisa de novas referências.”
Além disso, o bispo fez referência às mortes pela pandemia do coronavírus. “É uma tragédia no meio da outra. No Brasil são mais de 410 mil famílias que perderam os entes queridos de forma precipitada.”
O representante da Igreja Católica observou que ataques a escolas foram registrados nos Estados Unidos e em São Paulo e que não imaginava que isso fosse ocorrer em uma cidade pequena como Saudades.
“Vamos continuar lutando para que essas crianças e professoras que não sobreviveram possam nos ajudar a sonhar um mundo melhor.”
Detalhes do velório
As cinco pessoas mortas no ataque ao CEI (Centro de Ensino Infantil) Pró-Aquarela foram veladas em uma cerimônia coletiva.
Os corpos das crianças chegaram na quadra do Parque de Exposições Theobaldo Hermes por volta das 3h da manhã, logo em seguida ao da professora Keli Adriane Aniecevski, 30, e da agente educacional Mirla Renner, 20.
Segundo boletim médico divulgado hoje, uma criança ferida no ataque está estável na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) pediátrica. O jovem apontado como o autor da ação está sedado em recuperação pós-operatório. Os dois estão no Hospital Regional do Oeste, em Chapecó.
Centro de Valorização da Vida
Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valorização da Vida) e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.