A médica veterinária Priscyla Andrade, 31, morreu nesta terça-feira (2), vítima da síndrome de Haff, conhecida como “doença da urina preta”, em um hospital do Recife. A doença que Priscyla foi acometida é causada por ingestão de peixe contaminado com uma toxina biológica que compromete músculos, rins e outros órgãos.
Ela estava internada desde o dia 18 de fevereiro, em um leito de UTI, no Real Hospital Português, na área central do Recife, depois que passou mal ao comer peixe da espécie arabaiana em um almoço de família. A irmã dela, Flavia Andrade, 36, também desenvolveu a síndrome de Haff, chegou a ser internada no mesmo hospital, mas conseguiu se recuperar e está em casa desde o último dia 24. O peixe foi comprado de um pescador no bairro do Pina, na zona sul do Recife.
Priscyla era médica veterinária e especialista em odontologia equina. Defensora da vaquejada, praticava o esporte pelo haras Maria Bonita, em Sergipe.
A família de Priscyla Andrade ainda não informou onde ocorrerá o velório e enterro do corpo dela. A morte da médica veterinária foi anunciada pela mãe dela, Betânia Andrade, e pela irmã dela, Alyne Andrade, em publicações nas redes sociais no final da manhã de hoje. O estado de saúde de Priscyla tinha se agravado ontem, e familiares e amigos estavam realizando uma corrente de oração para que ela reagisse ao tratamento médico.
“O céu hoje estará te recebendo com muita luz na casa do pai e aqui jamais esqueceremos da sua humildade, caráter, da sua eficiência como profissional, meiga, linda, alegre, sorridente e cheia de luz. Seu sorriso vau ficar na minha memória eternamente. Te amamos, seus pais, irmãos, sobrinhos, Matheus, parentes e amigos”, escreveu Betânia Andrade.
Priscyla chegou a publicar informações sobre o próprio estado de saúde, na semana passada, relatando que tinha conseguido mexer os braços e as pernas, mas ainda estava sem forças nos músculos e que estava lutando para recuperar as funções renais, hepática, respiratória e motora. “Ainda estou na UTI e temos muito que recuperar: função hepática renal, respiratória e motora. Vou sair dessa”, escreveu em um stories no Instagram no dia 24.
Na última publicação nas redes sociais, ela escreveu um texto falando sobre a coragem de recomeçar na vida quantas vezes fosse necessário. “Esteja pronto pra recomeçar sempre que for preciso. E pra você recomeçar, precisa de coragem. Tenho coragem pra recomeçar, e você?”, escreveu publicando uma foto no dia 17 de fevereiro.
Doença rara
A doença de Haff é rara e ocasionada pela presença de uma toxina biológica de algas que são ingeridas por peixes. A substância ataca a musculatura e os rins, deixando a urina escura, segundo o médico infectologista e professor da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), Fernando Maia.
“Pode causar lesão renal importante, algumas pessoas ficam com urina escura, há pessoas ainda que fazem lesão renal a ponto de precisar de diálise, inclusive”, explicou o médico infectologista.
Maia afirmou que com a descoberta deste caso, a população de Pernambuco e Alagoas, por serem estados vizinhos, devem evitar o consumo de peixe neste período até que a situação seja normalizada, pois não há como saber se o pescado está contaminado ou não.
Já o biólogo Cláudio Sampaio explicou que não é possível reconhecer se o peixe está contaminado e destaca que a toxina não está presente apenas na espécie arabaiana, conhecida também como olho de boi. Ele disse que a toxina vai se acumulando ao longo da cadeia alimentar de espécies aquáticas.
“Essa toxina não é muito conhecida, acredita-se que ela entre na cadeia alimentar através da ingestão de peixes que filtram microalgas que produzem essa toxina Uma sardinha se alimenta dessa microalga, essa sardinha é consumida pelo chicharro, que acumula, que é consumida pelo olho de boi (arabaiana) e que atinge uma grande quantidade de toxina”, disse Sampaio, que é professor dos cursos de biologia e engenharia de pesca e coordenador do Laboratório de Ictiologia e Conservação campus Penedo da UFAL (Universidade Federal de Alagoas).
Segundo o governo de Pernambuco, entre os anos de 2017 e 2021, foram registrados 15 casos suspeitos da doença de Haff, sendo dez confirmados por critério clínico epidemiológico (quatro em 2017 e seis em 2020), além dos cinco ainda em investigação.