Vídeos falsos mostram pessoas grudando moedas no braço da vacina contra covid-19
É falso que a vacina contra o coronavírus seja capaz de magnetizar a pele no…
É falso que a vacina contra o coronavírus seja capaz de magnetizar a pele no local da aplicação, ao contrário do que alega uma idosa em um vídeo que viralizou no Facebook e foi verificado pelo Projeto Comprova.
Em vários outros experimentos também publicados na internet, é possível ver que basta um pouco de umidade para que uma moeda, ímã ou qualquer objeto pequeno e leve fique grudado no braço de qualquer pessoa —tendo ela tomado ou não a vacina.
Segundo professores de física da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), que responderam ao boato que circula online, o efeito de adesão, propiciado por forças intermoleculares, é o responsável pelo truque. O princípio científico define a tendência que superfícies e partículas formadas por moléculas diferentes têm de “grudar” uma na outra.
Além disso, o único metal presente na composição das vacinas —em dose baixíssima— é o hidróxido de alumínio, que não tem capacidade magnética nessa proporção.
O Instituto Butantan, responsável pela fabricação da Coronavac, também já desmentiu as alegações.
A reportagem entrou em contato com a mulher que aparece no vídeo e com a autora do post no Facebook, mas não teve retorno até a publicação desta verificação.
COMO VERIFICAMOS?
Tentamos entrar em contato com a idosa que aparece no vídeo que viralizou, para checar se ela fez o “experimento” acreditando mesmo nele ou se, de forma proposital, adotou algum truque. Encontramos o perfil dela no Facebook, com as informações que ela mesma fornece no vídeo, mas ela não respondeu aos nossos contatos por mensagem na rede social. A usuária que publicou o vídeo também foi contatada pela plataforma.
Depois, buscamos outras publicações online sobre o assunto, e encontramos um post do Centro de Referência para o Ensino da Física, publicado em maio, que já explicava a impossibilidade da hipótese de uma “vacina magnética”.
Também encontramos outros vídeos publicados na internet por pessoas que provaram que é possível fazer o truque mesmo sem estar vacinado contra a Covid-19.
Buscamos ainda o posicionamento do Instituto Butantan, responsável pela fabricação da Coronavac no Brasil.
Por fim, consultamos outras verificações publicadas por checadores brasileiros e de outros países sobre o assunto.
VERIFICAÇÃO
Vídeo
No vídeo que viralizou, a idosa, que se apresenta como Matilde Rodrigues, da cidade de Salto do Pirapora, em São Paulo, diz ter tomado as duas doses da Coronavac —uma em cada braço. Então, ela faz um “experimento”, colocando uma moeda de um real sobre o local onde supostamente foi imunizada. A moeda adere à pele nesses pontos, mas não gruda em outras partes do braço. Por isto, ela afirma que a vacina “deve ter algum ímã”.
Adesão à pele
Em maio, os professores do CREF (Centro de Referência para o Ensino da Física), da URFGS, Fernando Kokobun e Fernando Lang da Silveira, fizeram um post com explicações do que pode provocar a adesão de uma moeda ou outros objetos metálicos ou magnéticos à pele.
Em um vídeo, os professores mostram que uma moeda de R$ 0,50 adere facilmente ao braço de uma pessoa, em local onde não havia sido aplicada nenhuma vacina. O efeito, segundo eles, é produzido “sem magnetismo algum, apenas com uma leve hidratação do local (caso a pele esteja seca) onde se deseja a adesão da moeda. Se a pele estiver seca, basta passar um pano úmido no local, para que a moeda, levemente pressionada à pele hidratada, tenha aderência suficiente para ali ficar”.
No Twitter, o médico e doutorando da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Ricardo Parolin, também publicou um vídeo, mostrando que, mesmo sem ter tomado a vacina, foi capaz de provocar a adesão de uma moeda ao próprio braço, passando antes uma toalha levemente molhada no local.
Para os professores da UFRGS, todo o boato é uma “teoria conspiratória”, e tudo não passa de um “comum efeito de adesão propiciado por forças intermoleculares”.
Composição da vacina
O único componente metálico da vacina do Butantan e do laboratório Sinovac é o hidróxido de alumínio. De acordo com a instituição brasileira, trata-se de um “componente adjuvante, seguro, aprovado e utilizado há décadas”, que não causa problemas de saúde. Os adjuvantes são compostos que estimulam a produção dos anticorpos e melhoram a resposta imune do organismo após a vacinação.
“Segundo o diretor de ensaios clínicos do Instituto Butantan, Ricardo Palacios, materiais paramagnéticos como o alumínio fazem parte da composição do corpo humano e só podem ser influenciados magneticamente por forças muito potentes, como as usadas nos aparelhos de ressonância magnética nuclear”, diz a publicação no site do Butantan.
E o diretor ainda complementa: “Em situações cotidianas, as pessoas não se expõem a essas grandes forças magnéticas. A quantidade de alumínio existente na composição do corpo humano e a exposição diária por ingestão é muito maior que a administrada na vacina, que não é capaz de alterar significativamente a proporção de alumínio de uma pessoa”.
Kokobun e Lang da Silveira, da UFRGS, apontam ainda que a quantidade da substância presente em uma dose de vacina é um milésimo da encontrada em comprimidos de antiácido —que não possuem qualquer efeito magnético.
Todos os possíveis efeitos colaterais gerados pela Coronavac, que não incluem magnetismo, estão descritos na bula do imunizante.
POR QUE INVESTIGAMOS?
O Comprova verifica, em sua quarta fase, conteúdos sobre a pandemia ou políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais.
O vídeo em questão acumula mais de 40 mil interações em um único post no Facebook, e já foi compartilhado diversas outras vezes em outras plataformas, como o Twitter, Youtube, Instagram e Whatsapp. Outros vídeos semelhantes, com as mesmas alegações, também se espalham por todas essas redes, inclusive em outros países, aumentando a desconfiança do público com as vacinas – apontadas por especialistas como a principal medida para solucionar a pandemia.
O Comprova já concluiu que era falso um boato que associava a imunização ao câncer, danos genéticos e ‘homossexualismo’ e que a OMS não recomendou uma terceira aplicação da Coronavac.
Outros conteúdos sobre a suposta “vacina magnética” já foram desmentidos no Brasil por UOL, Estadão, G1, Aos Fatos e AFP. Fora do país, o tema também foi checado pela BBC, Verifica, Animal Politico, FactCheck.org e Maldita.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.