Violência brasileira supera a mexicana e empata com a do Iraque
Brasil registrou 65.602 homicídios no ano retrasado, um aumento de 4,2% em relação ao ano anterior. São 31,6 mortes para cada 100 mil habitantes
O Brasil registrou 65.602 homicídios no ano retrasado, um aumento de 4,2% em relação ao ano anterior e, o mais preocupante, um número recorde que equivale a 31,6 mortes para cada 100 mil habitantes – mais do dobro, por exemplo, da taxa de homicídios do Iraque em 2015 (ano mais recente com estatísticas da OMS, a Organização Mundial da Saúde).
A banalidade da morte violenta brasileira salta mais aos olhos quando se considera que o país não vive conflitos externos ou internos relevantes há décadas.
Para comparação: o México, com 129 milhões de habitantes, vive em conflito entre cartéis de narcotraficantes e forças do governo há anos. Em 2017, o país teve 29.168 assassinatos, ou 22,5 por 100 mil habitantes, segundo dados da Organização das Nações Unidas e do Banco Mundial. No mesmo ano, o Brasil entregou a taxa revelada nesta quarta-feira (5), de 31,6 mortes violentas por 100 mil habitantes.
A Colômbia teve em 2017, 24 homicídios por 100 mil habitantes. O índice tende a declinar com o acordo de paz entre governo e a as Farc, assinado em 2016. Os colombianos ainda enfrentam uma guerra interna contra grupos subnacionais, dos quais o Exército de Libertação Nacional se destaca. Ainda assim está melhor colocado no ranking do que o Brasil.
O Brasil quase empata com o Iraque, país que passou por uma violenta guerra sectária na esteira da invasão americana de 2003 e que, em 2017, vivia reflexos disso e os efeitos do combate ao grupo terrorista Estado Islâmico. Assim, naquele ano houve uma taxa de 34,4 mortos por 100 mil habitantes no país, marginalmente acima da registrada no Brasil.
Já o Afeganistão, outro país que passou por violentos dez anos após as guerras em reação ao 11 de Setembro de 2001, segue convivendo com a insurreição do Taleban e de outros grupos. Na realidade, a agremiação fundamentalista ganhou tanto território que pode até voltar a partilhar o poder, a depender de negociações intrincadas em curso.
Lá, 2017 teve 9,67 assassinatos por 100 mil habitantes. Uma taxa “paulista”, para ficar na propaganda dos governos tucanos do maior estado brasileiro. Se quiserem encontrar consolo na hipocrisia, as autoridades brasileiras podem mirar a Síria. Arrasado por uma sangrenta guerra civil que envolveu grupos diversos, de sunitas seculares ao Estado Islâmico, contra o governo central em Damasco, a Síria teve 182,9 mortos por 100 mil habitantes em 2017.
O número já era metade do registrado no pico da guerra, três anos antes, e vem decaindo desde que a intervenção russa em favor da ditadura local aproxima o conflito de um fim.
É um dado de difícil aferição, tomado da fonte mais confiável, a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos. Seja como for, fornece uma medida comparativa com a guerra diária nas ruas do Brasil, país que teve conflito em suas fronteiras pela última vez nos anos 1860 e que não registra embates internos relevantes desde 1932.