HOMOFOBIA

Vítima de homofobia, homem em crise de pânico é espancado por grupo ao sair de boate em SP

Agressores não levaram carteira nem celular de Luciano Lechinieski, de 31 anos, o que reforça indícios de crime motivado por intolerância

Vítima de homofobia, homem em crise de pânico é espancado por grupo ao sair de boate em SP (Foto: Reprodução)

O fotógrafo e desenhista Luciano Lechinieski, de 31 anos, resolveu, há cerca de dez dias, deixar tudo para trás no Paraná e embarcar rumo a São Paulo, em busca de oportunidades melhores de emprego. Com histórico recente de depressão — sobretudo durante o pior da pandemia, quando sequer conseguia sair de casa — , ele decidiu, já nos primeiros dias na capital paulista, superar alguns de seus medos e aceitar o convite de um amigo para curtir o feriado de carnaval numa boate na região da Barra Funda. Às 3h da manhã da última sexta-feira (22), quando tudo parecia ir bem na festa, o amigo foi embora e sugeriu que ele, que ainda se divertia, ficasse com um outro pessoal. Não demorou para que o rapaz tivesse uma crise de pânico e, durante o surto, decidisse que precisava deixar o local. Estranho em uma terra estranha, homossexual e sob fragilidade psíquica, foi vítima da crueldade de um grupo que o encontrou escondido entre dois carros e se aproveitou de seu aparente estado de vulnerabilidade.

— Eu não sou acostumado a sair, ir em festas, e não bebo. Esse dia eu até acabei bebendo um pouco, e isso me deixou um pouco mais ansioso. Eu tenho problema de ansiedade e depressão. Por estar sozinho lá na festa, com pessoas que eu não conhecia, tive um ataque de pânico e saí da boate. Lá fora, percebi que não conseguiria mais voltar e a gente sabe como é a situação da violência em São Paulo. Então, me escondi entre dois carros e lá fiquei, sentado, tentando me acalmar, respirar para que o pânico passasse — conta Luciano. — Foi quando passaram duas pessoas e tiraram o boné que eu estava usando. Eles ficaram rindo e jogando meu boné de um para outro. Eu pensei que eles estavam brincando. Um deles, então, disse para eu ir até ele buscar o boné. Eu fui e me deparei com várias pessoas estranhas. Nesse momento, minha memória é só de flashes de socos, chutes, pontapés.

O rapaz acredita que ficou apagado durante pelo menos 1 hora no meio da rua. Ele estima que tudo aconteceu a cerca de 100 metros da boate Fabrique Club, na Rua Barra Funda. Os agressores não levaram absolutamente nada; quando recuperou a consciência, Luciano encontrou a pochete intacta, com carteira, celular e até o carregador que levara. Os indícios reforçam a possibilidade de que ele tenha sido vítima de um crime de intolerância, motivado apenas pelo fato de ser gay. Para o fotógrafo, o grupo já sabia que perto dali acontecia uma festa com temática LGBTQIAP+ e que poderiam encontrar alvos vulneráveis. Ele acredita que até seu estilo, expresso na roupa que usava, tenha contribuído para que fosse visto por aqueles criminosos como um alvo.

— Eles não estavam na balada. Eles me atraíram até esse lugar e me bateram. Nunca pediram nada, não levaram nada — relata o rapaz. — Eles com certeza se aproveitaram da minha vulnerabilidade que, entre aqueles dois carros, ficou evidente. Eu não sei o que motiva esse tipo de crime, mas é uma situação muito complicada… principalmente quando você está sozinho. Muita gente se aproveita de situações como essa. Quando penso no que aconteceu, nos flashes, é tudo muito triste, porque eles claramente se divertiam com a situação.

 

Luciano foi socorrido por uma brigadista que atuava em frente à boate. No hospital, ele conta que os médicos concluíram que fraturou duas regiões do rosto — no maxilar e em área próxima à bochecha —, e precisará de cirurgia para que não fique com sequelas permanentes. Ele afirma que irá registrar um boletim de ocorrência sobre o caso ainda esta semana. Por enquanto, portanto, não há investigação por parte da Polícia Civil sobre o crime.

— Ainda estou com bastante dor e estou conseguindo falar agora porque tomei analgésicos. A tomografia indicou que estou com duas fraturas no rosto. O médico disse que não corro risco de vida, mas que preciso fazer duas cirurgias de reconstrução com urgência para que eu não fique com sequelas.