Wajngarten fala ao Senado em audiência que deve elevar temperatura de CPI
Ex-chefe da Secretaria de Comunicação de Jair Bolsonaro (sem partido), o publicitário Fábio Wajngarten será…
Ex-chefe da Secretaria de Comunicação de Jair Bolsonaro (sem partido), o publicitário Fábio Wajngarten será ouvido nest quarta-feira (12), a partir das 9h, pela CPI da Covid, no Senado, em uma audiência que deve elevar a temperatura dos trabalhos.
Wajngarten será questionado sobre críticas feitas ao Ministério da Saúde e ao ex-comandante da pasta general Eduardo Pazuello. Em entrevista à revista Veja, em abril, afirmou que houve “incompetência” e “ineficiência” no processo de negociação com a farmacêutica Pfizer.
Devido ao histórico de polêmicas envolvendo o ex-secretário, que costumava atacar adversários usando as redes sociais, senadores se preparam para uma audiência mais tensa, possivelmente com embates verbais entre entre o depoente e opositores do governo.
As declarações de Wajngarten são tidas como fundamentais para o futuro da Comissão Parlamentar de Inquérito, pois se trata de um personagem com relação direta e próxima do presidente da República, que vivia a rotina do Palácio do Planalto e que participava de reuniões na sede do Executivo federal.
Congressistas devem questioná-lo sobre os encontros no Planalto da cúpula formada no ano passado para debater, entre outros assuntos relacionados à pandemia, o incentivo ao uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no combate ao coronavírus.
O grupo, comandado pela Casa Civil, contava com a participação do presidente da República e uma espécie de assessoramento da médica e pesquisadora Nise Yamaguchi, entusiasta de medicamentos sem eficácia comprovada.
Na tarde desta terça-feira (11), o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, confirmou à CPI da Covid que, em reunião no Planalto, Nise sugeriu que Bolsonaro poderia editar um decreto na tentativa de alterar a bula da cloroquina/hidroxicloroquina.
O dirigente do órgão regulatório disse ter ficado irritado com a proposta e alertado que a mudança não poderia ocorrer por meio de decreto presidencial.
A modificação ou não na bula do medicamento se tornou alvo de questionamentos na CPI depois que o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou aos senadores ter sido apresentada nessa reunião a sugestão de um decreto em papel “não timbrado” para mudar a bula. Mandetta foi ouvido pela CPI em 4 de maio.
Segundo membros da comissão, Wajngarten será questionado ainda sobre o motivo pelo qual ele teria se dedicado a participar de articulações relacionadas à aquisição de vacinas — atividade fora da sua área de atuação no governo.
Um outro ponto que deve ser abordado é a veiculação de campanhas publicitárias do Palácio do Planalto no que diz respeito à imunização no país.
A oposição acredita que o governo federal falhou em não promover campanhas mais assertivas a favor da vacinação, do distanciamento social e do uso de máscaras.
Governistas enxergam o depoimento de Wajngarten com cautela, porque, ao mesmo tempo em que ele demonstra querer blindar Bolsonaro, suas falas devem atingir o Ministério da Saúde e, consequentemente, o governo federal.
“É ruim essa posição. Agora o cara sai atirando e bota a culpa nos outros”, disse um senador governista, sob reserva, ao ressaltar a proximidade que Wajngarten tinha com Bolsonaro.
Críticas a Pazuello
Na entrevista à “Veja”, Wajngarten isentou Bolsonaro de responsabilidades pela lentidão no processo de compra de vacinas contra a covid e atribuiu a culpa ao Ministério da Saúde, então comandado pelo general Pazuello, que também será ouvido pela CPI, na semana que vem.
“O presidente está totalmente eximido de qualquer responsabilidade nesse sentido. Se as coisas não aconteceram, não foi por culpa do Planalto. Ele era abastecido com informações erradas, não sei se por dolo, incompetência ou as duas coisas.”
Para o publicitário, o ministério só não efetivou a compra de imunizantes de milhões de doses da vacina da Pfizer —uma das críticas que levaram à queda de Pazuello— por “incompetência e ineficiência”.
Wajngarten evitou, no entanto, fazer uma menção direta ao general: “Estou me referindo à equipe que gerenciava o Ministério da Saúde nesse período”.
“Quando você tem um laboratório americano com cinco escritórios de advocacia apoiando uma negociação que envolve cifras milionárias e do outro lado um time pequeno, tímido sem experiência, é isso que acontece.”
De acordo com a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Wajngarten dirá à CPI que, na contramão do ministério, insistiu para que o governo comprasse as vacinas russa (Sputnik V) e indiana (Covaxin) já no ano passado.
Ele também deve relatar ter advogado em favor do acordo com a Pfizer, mas as conversas esbarraram na burocracia da pasta.
Quem já prestou depoimento à CPI
- Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde
- Nelson Teich, ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, ministro da Saúde
- Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa
Próximos depoimentos previstos (nem todas as convocações já foram aprovadas, e as datas ainda podem sofrer alguma alteração):
- Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência: 12 de maio
- Representantes da Pfizer: 13 de maio
- Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores: 18 de maio
- Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde: 19 de maio
- Mayra Pinheiro, do Ministério da Saúde, conhecida como “capitã cloroquina”: 20 de maio
- Representante do Instituto Butantan: 25 de maio
- Representante da Fiocruz: 26 de maio
- Representante da União Química: 27 de maio