TRANSPORTE COLETIVO

52,6% dos usuários de ônibus não trabalham em atividades essenciais, diz pesquisa

Números mostram ainda que a maioria dos passageiros se desloca da periferia e de cidades da região metropolitana para bairros nobres da capital

Ônibus lotado em Goiânia (Foto: Jucimar de Sousa/Mais Goiás)

Uma pesquisa realizada pela Redemob em toda a rede de transporte de coletivo da região metropolitana apontou que mais da metade dos passageiros se deslocam pela região para trabalharem em atividades não essenciais. No total, 52,6% vão de ônibus para atividades que não deveriam estar funcionando, de acordo com o último decreto publicado pela prefeitura de Goiânia.

Os resultados foram apresentados durante uma coletiva de imprensa realizada com o diretor executivo do Consórcio, Leomar Avelino. A pesquisa foi realizada com 516 passageiros no dia 15 de março entre as 6h e às 10h, em 10 terminais de ônibus.

Entre as pessoas que utilizam o transporte coletivo para trabalhar, 26% afirmaram que são empregadas domésticas. Outros 18,3% disseram que trabalham no comércio e 17,4% na indústria. Esses três setores, somados, representam 61,7%, um percentual bem maior do que os que afirmaram trabalhar na área da saúde (10,3%) ou supermercados (5,4%).

Outro ponto apresentado é a origem e o destino dos passageiros. A maioria deles saem de bairros da periferia de Goiânia ou de cidades da região metropolitana e vão para bairros com maior poder aquisitivo, como o Setor Central, Setor Bueno e Setor Oeste da capital.

Lockdown e continuidade transporte coletivo

As medidas restritivas impostas pela prefeitura de Goiânia dividiram opiniões na pesquisa. Os números mostraram que 51% dos entrevistados aprovam o lockdown na cidade. Além disso, 76% dos usuários disseram que, apesar das medidas, o transporte coletivo deve continuar funcionando.

A pesquisa também perguntou aos usuários quantas vezes por semana eles utilizam o sistema e em quais horários. 63,1% responderam que trabalham de cinco a seis vezes por semana, 74,9% entram às 7h e 8h e 60,9% saem às 17h e 18h.

Cumprimento do decreto e escalonamento

Durante a coletiva, Leomar Avelino afirmou que os problemas com lotações no transporte coletivo acontecem porque o decreto não está sendo cumprido. Ele ressaltou também as aglomerações no sistema são um problema nacional.

“A gente não conhece lugar nenhum no Brasil que conseguiu superar o problema da lotação. A pesquisa mostrou que temos um lockdown de direito, mas não temos um lockdown de fato”.

Lemoar comentou também a respeito da decisão judicial e da alteração no último decreto da prefeitura de Goiânia, que determinaram que os ônibus só transportem pessoas sentadas.

“A maior lotação acontece no Eixo Anhanguera. Ele é a espinha dorsal do nosso sistema e recebe uma demanda de 16 municípios e de uma centena de linhas alimentadoras. A Metrobus tem feito todos os esforços, mas não consegue impedir a lotação no horário de pico”.

“Há um esforço gigantesco por parte das empresas”, continuou. “Toda a frota disponível está rodando. Foram colocados 220 ônibus a mais, mas essa determinação é tecnicamente impossível. Para atendermos isso, precisaríamos de 2 mil ônibus a mais. Mesmo se existisse essa possibilidade, o sistema todo travaria nos terminais”, completou o diretor executivo.

Para Leomar, apenas com o cumprimento efetivo do decreto e um escalonamento do funcionamento das atividades essenciais seria possível atender às determinações impostas. “Com a conjugação desses fatores, afirmo com certeza que há uma grande possibilidade de evitar que as pessoas sejam transportadas em pé”, concluiu.