Economia

67% das grandes indústrias de Aparecida tem dificuldade em recrutar mão de obra capacitada

O deficit de mão de obra especializada na Indústria de Aparecida está principalmente nos segmentos…

O deficit de mão de obra especializada na Indústria de Aparecida está principalmente nos segmentos de tecnologia da informação e automação. Em Aparecida, 67% das grandes empresas dos polos industriais do município apontam dificuldade de recrutamento em pessoal capacitado. A demanda aparecidense é uma realidade em todo estado. Para atendê-la uma parceria entre o Sistema S, indústrias, startups e governos federal, estadual e municipal visa formar 45 mil profissionais nos próximos cinco anos.

De acordo com dados da Secretaria Municipal de Trabalho, o maior gargalo está na mão de obra qualificada em Aparecida, principalmente na área de tecnologia e inovação. Na Indústria, essa demanda recai sobre os profissionais de tecnologia de automação e programação de maquinários. A alta demanda por mão de obra qualificada é confirmada pelos dados do Mapa Estratégico da Indústria Goiana – Projeto Goiás 2020, realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG).

Um dos estudos que compõe o mapeamento feito pela FIEG, do Polo Industrial de Aparecida de Goiânia, coletou dados de 110 empresas e revela que, independentemente do porte ou distrito, a maior dificuldade encontrada no recrutamento é a falta de pessoal capacitado. Dos entrevistados, a dificuldade atinge 67% das empresas de grande porte; 73% das de médio porte e 82% e 83% sobre as micro e pequenas empresas, respectivamente.

Tecnologia e automação

Diretor de operações da empresa aparecidense Support Automação, que presta serviço na área industrial há 25 anos, Murilo Campos afirma que a dificuldade de mão de obra em tecnologia e automação sempre existiu, especialmente em áreas de programação e manutenção de maquinário industrial. A Support atua na distribuição, manutenção e programação de máquinas industriais para empresas de médio e grande porte dentro e fora de Goiás.

“Distribuímos as marcas líderes elétricas em automação industrial e revendemos peças no parque fabril. Se quebra uma peça, as indústrias recorrem à gente para fazer substituição e dar suporte. Também fazemos montagem de painéis elétricos e centros de controle de motores, que acionam as máquinas por meio de desses painéis”. Além disso, a empresa presta serviços de programação e melhorias nas máquinas.

Murilo é formado em Engenharia Elétrica na Universidade Federal de São Paulo (USP) há quase 10 anos e começou atuando na área técnica da empresa. O engenheiro galgou espaço na direção operacional após qualificação profissional dentro da companhia. “Pela falta de mão de obra especializada em tecnologia em todo país, sempre tivemos a cultura de formar pessoas da região, recém-formados e estagiários. Fornecemos o treinamento necessário para que possam atuar nestas áreas dentro da empresa”, explica.

De acordo com o estudo dos Polos Industriais de Aparecida que compõe o Mapa Estratégico da Indústria Goiana 2020, desenvolvido pela FIEG, 67% das empresas de grande porte entrevistadas no município possui um plano de capacitação dos colaboradores. Quando as empresas são de médio e pequeno porte, esse número cai para 40% e 28%, respectivamente.

Formação massiva em tecnologia

Uma parceria entre o Instituto Gyntec, Federação das Associações das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação em Goiás (Assepro-GO), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-GO) e Instituto Euvaldo Lodi (IEL) estão desenvolvendo um programa capacitação tecnológica para atender às demandas das empresas de tecnologia goianas para profissionais qualificados em TI. O projeto deve qualificar 45 mil pessoas em áreas de tecnologia nos próximos cinco anos, em Goiás.

O Diretor da Faculdade de Tecnologia SENAI de Desenvolvimento Gerencial, Dario Queija de Siqueira, está a frente desse projeto pelo Senai-GO. “Nesta iniciativa que estamos prestando, temos o planejamento de formar milhares de pessoas em diversos cursos de formação que vão de operador de computador até programadores e desenvolvedores de sistema dos mais variados níveis”, explica Dario.

Obstáculos

Uma das maiores dificuldades apontadas por Dario no atendimento da demanda na área de tecnologia é a falta de interesse do público. “Mesmo com grande demanda no mercado e ótima remuneração inicial para pessoas especializadas em tecnologia, há pouco interesse de formação na área. Na minha opinião, isso é resultado de uma deficiência em habilidades matemáticas do brasileiro em geral”, aponta.

No Mapa Estratégico da Indústria Goiana 2020, desenvolvido pela FIEG, 53% das indústrias aparecidenses ouvidas no estudo apontaram que a maior dificuldade para qualificação profissional dentro das empresas foi o pouco interesse dos funcionários.

Outro obstáculo apontado por Dario é a facilidade que outros países tem de empregar profissionais da área para trabalho à distância. “Muitos profissionais de tecnologia atuam em outros países, morando no Brasil e isso acaba refletindo no aumento do gargalo desses profissionais nos parques industriais nacionais”, afirma.

Capacitação Interna vs Capacitação Externa

Para a Associação Pró-desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás (Adial), o esforço coletivo dos setores da Indústria, empresariado e Estado com objetivo de diagnosticar as principais demandas de qualificações e estabelecer um plano de trabalho conjunto para atendê-las é o melhor caminho para aumentar a mão de obra qualificada nas indústrias de Goiás.

O presidente-executivo da Adial, Edwal Freitas Portilho, explica que as indústrias já atuam na capacitação de profissionais por meio do sistema S. “De forma isolada, cada indústria tem uma deficiência de mão de obra específica e esses gargalos precisam ser diagnosticados”, afirma. Para Edwal, o levantamento sobre as demandas deve ser feito em sinergia com órgãos públicos, sistema S, e empresários para que seja elaborado um plano de trabalho conjunto.

Grande parte da dificuldade do aumento da qualificação profissional está em adequar os horários dos cursos à pluralidade de rotinas dos trabalhadores. “Às vezes o trabalhador está empregado, mas os cursos ofertados coincidem com o período de trabalho. Um diagnóstico preciso e profundo para que ocorra essa adequação é importante para aumentar a qualificação”, pontua Edwal.

Edwal ainda diz que é muito comum que as próprias indústrias realizem a especialização de seus funcionários, mas ele explica que além do processo ser oneroso para o setor industrial, acaba ficando restrito aos funcionários daquela empresa que realiza a formação. “É muito importante que os programas de incentivos de qualificação profissional tenham uma atuação mais efetiva nos maiores centros de formação. Além de ficar mais barato, é mais benéfico para o setor industrial de forma geral”, pontua.