78,9% das mulheres vítimas de violência em Goiânia morreram por causa das agressões em 10 anos
Estudo goiano busca mapear trajetórias de mulheres vítimas de violência através dos sistemas públicos de saúde
Em Goiânia, 78,9% das mulheres vítimas de violência doméstica que morreram de 2010 à 2020, tiveram o óbito por consequência de agressões. A informação é de um estudo feito pela Secretaria de Saúde de Goiânia (SMS) em conjunto com a organização global de saúde pública Vital Strategies. O levantamento aponta que, no últimos 10 anos, Goiânia teve 8.295 notificações de violência intencional contra mulheres de 10 a 59 anos de idade. Deste total de notificações, 139 das mulheres morreram. Entre as que perderam a vida, 109 (78,9%) morreram por consequência de agressões. Já as demais, morreram por causas externas.
O levantamento analisou 13 bases de dados, todas elas com registros de atendimentos feitos pelos sistemas de informação da SMS de Goiânia nos últimos dez anos (2010 a 2020). Entre as bases, estão a do sistema de mortalidade (SIM), que possibilita a identificação de casos de mulheres vítimas de violência que foram a óbito. Mas, também estão sendo analisados o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) e a do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS).
Todas essas análises ajudarão a identificar os registros de uma mesma pessoa nos diferentes sistemas públicos de saúde da capital. Com esse histórico, é possível estudar as trajetórias de mulheres vítimas de violência e desenvolver estratégias de combate à violência.
“Essa análise aprofundada permite identificar quais são os indicadores que podem ser usados para monitoramento de casos de mulheres vítimas de violência com maior risco de agravamento (que levem à internação ou óbito). Além disso, é possível identificar ‘oportunidades perdidas’, ou seja, casos em que uma intervenção precoce poderia ter evitado o desfecho fatal”, afirma a médica epidemiologista Fátima Marinho, que atuou no projeto.
Mulheres vítimas de violência têm mais chances de morrer que o restante da população geral de Goiás e de Goiânia
O estudo chama atenção para o fato de que mulheres vítimas de violência têm quatro vezes mais chances de morrer por causas externas, como feminicídio ou suicídio, que o restante da população geral de Goiás e de Goiânia. Além disso, o tempo entre a primeira denúncia e o registro da morte é muito curto. A maior parte das vítimas que foram a óbito faleceram em até 30 dias.
O estudo também considerou fatores que reduzem risco de internação e morte. Dados preliminares indicam ainda que encaminhamentos realizados para delegacias especializadas e serviços da Justiça reduziram o risco de internação da vítima em 40% e 55%, respectivamente. Dessa forma, o levantamento indica que mulheres que denunciaram as agressões tiveram ficaram mais protegidas.
Principais agressores de meninas e mulheres são pessoas conhecidas ou os próprios parceiros
O estudo comprovou também que, em Goiânia, a maior parte dos casos de violência contra meninas e mulheres é cometido por pessoas próximas das vítimas. Entre as mulheres de 20 à 34 anos, 35% dos casos de violência são cometidos por parceiros íntimos. Dos 35 aos 59 anos, esse número sobe para 42%, veja:
Principais agressores (notificações Sinan) de meninas e mulheres por faixa etária:
- De 10 a 14 anos: familiares (40,0%)
- De 15 a 19 anos: desconhecidos (38,7%)
- De 20 a 34 anos: parceiros íntimos (35%) e desconhecidos (33%)
- De 35 a 59 anos: parceiros íntimos (42%) e desconhecidos (28%)
O estudo, que ainda segue em andamento, resultará em um relatório completo com recomendações e sugestões de encaminhamentos para melhoria da estratégia de enfrentamento da violência contra mulheres no município.
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