*João Paulo Alexandre é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo
Abastecimento de água em Goiânia depende de cuidados com o Rio Meia Ponte
Goiânia completou 84 anos na última terça-feira (24), mas grande parte da população não teve…
Goiânia completou 84 anos na última terça-feira (24), mas grande parte da população não teve muito o que comemorar. Um dos motivos o centro do Estado ser escolhido para a construção da Capital foi a abundância de água do Rio Meia Ponte e da grande quantidade de córregos que cortaria a cidade. No entanto, na semana do aniversário, muitos moradores sequer tinham água em suas torneiras.
Hoje, o Rio Meia Ponte, é o principal ponto de captação de água para abastecer Goiânia e a Região Metropolitana. Ele atende a uma parcela considerável dos habitantes dos mais de 1 milhão que moram na região. A tendência é que a população aumente nas próximas décadas. Diante disso, a cidade estará preparada no quesito hídrico para atender à demanda?
Para o pesquisador e professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Antônio Pasqualetto, as providências tomadas pelo poder público quanto ao abastecimento de água não são eficazes. Prova disso são os diversos bairros que ficaram sem água nos últimos dias. “O governo tem que melhorar o Plano Estadual de Recursos Hídricos, que precisa de uma boa atualização sobre o modo de captação e utilização de água em diversos pontos do Estado. Somente assim conseguiremos conciliar crescimento sustentável sem comprometer o desenvolvimento”, explica Antônio.
Ainda segundo o professor, o Rio Meia Ponte contribui com cerca de 50% para o abastecimento da cidade. A outra metade vem da captação do Ribeirão João Leite, que é o principal afluente do Meia Ponte. “Tivemos a construção do Sistema Produtor Mauro Borges, que deve ampliar o abastecimento da capital quando estiver em completo funcionamento. Porém, somente isso não basta, já que a proporção demográfica de Goiânia deve dobrar em até 15 anos”, destaca o professor.
“O clima não pode justificar a falta de funcionalidade do serviço. A ausência de matas ciliares e o uso da água em irrigações ilegais auxiliam para que o reabastecimento no lençol freático não aconteça. Isso prejudica não somente os moradores, mas a economia do Estado”, afirma Antônio.
Outorgas
A água do Rio Meia Ponte não é utilizada apenas para abastecimento da Capital e Região Metropolitana. Por meio da Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (Secima), algumas outorgas são concedidas para a utilização do recurso para outros fins. Diogo Lourenço, gerente de outorgas da pasta, lembra que a secretaria está intensificando a fiscalização para que a água seja priorizada para o abastecimento da população. “Estamos com várias vertentes para monitorar a utilização de água, um deles é fiscalizar as captações não permitidas e as outorgadas, para ver se estão de acordo com a normalidade. Se não estiver ou sempre que for necessário, estamos lacrando as bombas”, explica Diogo.
Entretanto, Lourenço afirma que a falta de água registrada nos últimos dias está ligada à anomalia climática. O diretor destaca que, mesmo com todo o trabalho feito, ainda não é o suficiente para aumentar o volume hídrico do rio. “Estamos há cinco anos seguidos com chuvas de menor intensidade. As medidas tomadas na fiscalização ajudaram a aumentar o volume do rio, mas que não é suficiente”, relata o gerente.
Falta água
O presidente da Saneago, Jalles Fontoura, destaca pontos importante sobre a utilização do Meia Ponte no abastecimento da Capital neste período de seca. Fontoura conta que a captação realizada é de 900 litros por segundo. Situação crítica, segundo ele, já que a companhia possui outorga de captação de 2,3 mil litros por segundo. “Por esse motivo, algumas regiões da cidade estão com dificuldade de serem abastecidas, principalmente a região sudoeste de Goiânia e alguns bairros de Aparecida. O Ribeirão João Leite acaba não atendendo esses locais”.
O Sistema de Abastecimento Mauro Borges começou a funcionar em setembro deste ano, mas beneficiou apenas 96 bairros da capital. O presidente destaca que o sistema iniciou produzindo 500 litros por segundo e hoje já distribui 1000 litros por segundo. “Apesar disso, sabemos que temos alguns desafios para a ligação de toda a rede, como a extensão, ampliação de adutoras e outros trabalhos técnicos, que não têm efeito imediato”, acrescenta Jalles.
Fiscalização
A Saneago trabalha com a Secima na fiscalização do uso da água do rio. O empresa oferece apoio na identificação de lugares de captação exagerada. Além disso, a companhia oferece apoio logístico como alimentação em mutirões de fiscalização junto ao órgão estatal. “Estamos com verba de mais de R$ 2 milhões para a preservação de mananciais no Estado e é o que estamos fazendo. O Rio Meia Ponte nasce em Itauçu e, durante seu curso, ganhou o título de mais poluído de Goiás”, destaca o presidente.
Fontoura explica que alguns estudos já estão sendo realizados para o futuro do abastecimento da capital, como a captação do Rio Caldas e a recuperação de matas ciliares dos rios e alguns afluente para que possa ocorrer renovação do recurso natural. “O Mauro Borges tem água para abastecer Goiânia até 2040. Em seu total funcionamento, o Rio Meia Ponte ficará apenas para abastecimento das cidades de Trindade e Goianira. Sabemos que as condições climáticas estão imprevisíveis. Por isso, alguns estudos já estão sendo viabilizados para que a falta d’água não se torne mais cruel em nossa Capital”, finaliza o presidente.