Defesa

Advogado diz que Felipe Gabriel tentou suicídio um dia antes de matar ex-sogro em Goiânia

Defesa acusa ex-namorada de crimes e endossa que o suspeito tem problemas psicológicos

Foto: Jucimar de Sousa - Mais Goiás

Felipe Gabriel Jardim Gonçalves, preso pela Polícia Civil suspeito de matar o ex-sogro, João do Rosário Leão, teria tentado tirar a própria vida um dia antes de cometer o crime, em Goiânia. A afirmação foi feita pelo advogado de defesa, Júlio de Brito, na tarde desta quarta-feira (29), ao Mais Goiás. De acordo com o advogado, “não precisa ser médico para saber que normal ele não estava”, ao justificar que seu cliente, possivelmente, estava em um surto psicótico quando atirou na cabeça do idoso.

Segundo o advogado de defesa, no último sábado (25), Felipe teve uma discussão com a ex-namorada, Kênnia Yanka, e com João do Rosário após uma festa junina. A confusão teria deixado o rapaz bastante abalado psicologicamente, tanto que, no dia seguinte, ele supostamente tentou contra a própria vida e, dois dias depois, matou o ex-sogro.

“No sábado (25), a confusão se deu porque ele estava na quadrilha com família da vítima e tinha que fiscalizar uma obra da AMT, uma pintura que ia liberar um acesso de uma ciclovia. Ela [ Kênnia Yanka ] começou a brigar com ele, achou que ele estava com rolo com mulher. […] Ela brigando com ele, ele tinha que trabalhar, mas ela discutindo, discutindo. Ela empurrou ele, ele empurrou ela, o pai dela deu um tapa nele e eles brigaram feio”, afirma Júlio de Brito.

“Ele queria ir embora, tomaram a chave do carro dele. Como não queriam dar, ele chamou um uber. Ela ligou de volta, ‘pode vir pegar a chave’. Ele voltou e ela não queria dar a chave pra ele. Então a razão que levou o Felipe a esse surto psicótico precisa ser investigada”, disse o advogado de defesa.

Câmeras de segurança gravaram o momento da discussão, no condomínio onde João do Rosário morava. Vale citar, que esse foi o dia em que o pai de Kênnia viu pela primeira vez o Felipe sendo agressivo e apontando a arma para a filha. Foi depois disso que João do Rosário procurou a polícia e, esse fato, teria sido o motivo de ele ter cometido o crime, segundo a Polícia Civil.

Vale citar que, a defesa de Felipe não enviou nenhuma evidência que comprove essa versão da discussão dos fatos.

Versões diferentes

Kênnia Yanka conta outra versão sobre essa discussão no sábado (25). Segundo ela, a família havia chegado em casa depois de ter passado por duas festas juninas. Felipe queria ir embora para a casa dele, mas a namorada e o sogro pediram para que ele dormisse lá porque estava bêbado.

Eles discutem e Felipe aponta a arma para o sogro e atira para cima. Depois da confusão, o rapaz pega o carro e vai embora. Segundo Kênnia, o pai dela nunca bateu no ex-namorado. Entretanto, ela afirma que o suspeito apontou uma arma para o rosto dela.

“Ele começou a gritar comigo e meu pai falou: ‘você não gritar com ela não’. Ele já pegou a arma e atirou para cima. Na mesma hora já apontou para o meu pai. Eu entrei na frente e ele ficou com a arma na minha cara”, relatou Kênnia.

 

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É importante citar que essa não é a primeira vez que Felipe é acusado de ações violentas contra namoradas. Em janeiro de 2021, uma mulher com quem ele se relacionava conseguiu medidas protetivas contra ele, baseadas na Lei Maria da Penha. Informações da Polícia Militar (PM) apontam que esse pedido aconteceu porque, no mês anterior, Felipe Gabriel teria agredido a mulher após uma festa, por uma crise de ciúmes.

Suspeito de matar ex-sogro tirou foto antes de tentar suicídio

No domingo (26), quando supostamente estava prestes tentar suicídio, Felipe enviou uma foto para a ex-namorada para mostrar a situação. A imagem, que não foi compartilhada ao Mais Goiás pela defesa do suspeito, mas sim por Kênnia, mostra um dos braços do rapaz com marcas de sangue.

Na versão do advogado de defesa, Kênnia teria ido até a casa de Felipe assim que viu a foto. Na ocasião, a mulher teria implorado para que os dois reatassem o relacionamento, mas o rapaz negou. Depois disso, ela ainda teria ameaçado o rapaz.

“No domingo (26), antes de acontecer isso [ o homicídio ], ele tentou suicídio. Ele mandou uma fotografia. Tive acesso a essas provas. Ele mandou uma fotografia para a ex-namorada dele. A namorada dele esteve lá pedindo para ele reatar com ela e ele não quis reatar com ela. Ela então falou que o pai dela ia matar ele. ‘Já que você não quer voltar comigo, vou deixar meu pai te matar então’. Ele tentou suicídio, estava abalado”, declarou o advogado de Felipe.

Foto enviada por Felipe Gabriel para a ex-namorada, para informar que iria se suicidar (Foto: Reprodução – Arquivo Pessoal)

Ao Mais Goiás, Kênnia diz que a versão do advogado é mentirosa e que nada disso aconteceu. Ela conta que era Felipe quem sempre a ameaçava e, justamente por isso, tinha medo de colocar fim ao relacionamento. Quando a relação chegou ao fim, ela não teria procurado o rapaz para reatarem, nem mesmo depois de receber a foto.

Ainda de acordo com Kênnia, como estava embriagado no dia anterior, Felipe cortou um dos dedos ao tentar abrir uma lata de cerveja. Na casa dela, no sábado (25), uma familiar se ofereceu, inclusive, para fazer o curativo no rapaz.

A mulher compartilhou com o Mais Goiás a foto que recebeu de Felipe no domingo (26). Na imagem, que mostra apenas um dos braços do rapaz, é possível ver marcas de sangue, mas nenhum corte no braço. Kênnia acredita que ele tenha desfeito o curativo e passado o sangue do corte do dedo no braço, para causar um impacto emocional.

Acompanhamento psicológico desde os 5 anos

O advogado de Felipe, mais uma vez, reforçou a tese de que ele estava em um surto psicótico antes e enquanto cometeu o crime. Segundo Júlio, o rapaz já teria um histórico de transtornos psicológicos e fazia acompanhamento com uma psiquiatra desde os 5 anos de idade.

“Não precisa ser médico para saber que normal ele não estava. […] A gente sabe que ele não estava bem. Ele faz tratamento com psiquiatra desde o 5 anos de idade, a médica dele é neurologista. Hoje ela mora em Curitiba, mas nós vamos atrás dos prontuários médicos dele”, disse o advogado.

Questionado se Felipe faz acompanhamento médico com alguma psiquiatra e/ou psicológica com frequência, o advogado respondeu que ‘ele faz acompanhamento psiquiátrico sim’, mas sem dizer com que constância. Alegou ainda que somente a médica poderá trazer mais esclarecimentos. O advogado também não respondeu à perguntas ou enviou nenhuma comprovação de que o cliente tem algum diagnóstico por transtornos psicológicos.

O Mais Goiás não conseguiu localizar a psiquiatra de Felipe.

Medicamentos

A reportagem questionou a defesa de Felipe acerca do uso de medicamentos para o tratamento de transtornos psicológicos. Tudo isso levando em consideração que Felipe faz acompanhamento com uma psiquiatra desde os 5 anos de idade. E, principalmente, que nos últimos dias, vinha passando por momentos de estresse, como a discussão no sábado e os pensamentos suicidas no domingo.

Em reposta, o advogado de defesa ignorou perguntas sobre a piora das condições psicológicas de Felipe. Também não respondeu o motivo de nenhum profissional que cuidava da saúde mental do rapaz ter agido para evitar os danos do surto. Júlio disse apenas que Felipe fazia uso de remédios psicotrópicos, mas que estes não era receitados por sua psiquiatra, mas sim pela ex-namorada.

De acordo com a defesa, Kênnia o forçava a consumir medicamentos como Rivotril, Venvanse, Ritalina, Atenzi e ainda comprava receitas, de forma ilegal, para a aquisição dos mesmos.

“Eu queria saber porque que a ex-namorada do Felipe fornecia remédios psicotrópicos para ele. Eu vi provas, eu vou juntar isso na defesa dele. Ela comprava receitas amarelas de fornecedores, que forneciam para a farmácia dela. Ela ainda fazia pedidos para o Felipe, de insistência, de ‘ah se você pegar duas caixas é melhor, porque usa a mesma receita‘, para adquirir quantidades maiores. […] A causa do surto do psicótico que o Felipe teve precisa ser investigada. O Judiciário precisa fazer um teste de sanidade mental dele”, declarou Júlio.

Questionado se alguém, além do casal, sabia sobre o uso de remédios sem prescrição, o advogado não respondeu. A defesa também não enviou nenhum documento que prove que Kênnia adquiria os medicamentos de forma ilegal e também não enviou nada que mostre que ela o forçava a se medicar.

Já Kênnia, disse à reportagem que nunca forçou o ex-namorado a se medicar e, muito menos, comprava receitas para medicá-lo. Ela afirma também que durante um tempo fez uso de Ritalina e, por isso, tinha esse medicamento em casa. A medicação foi comprada com uma receita, feita especialmente para uso dela.

Entretanto, a mulher explica que Felipe, por saber que ela tinha Ritalina, pedia permissão para ela usar. Na época, ele alegava que precisava ficar mais concentrado para estudar para um concurso da Polícia Militar.