APURAÇÃO

Advogado diz que homem morto após entrar em viatura pode ter sido torturado, em Goiânia

“Vai haver uma nova perícia para identificar o que houve antes da morte. Essa abordagem nem foi registrada"

Prisão de PMs que abordaram jovem encontrado morto é prorrogada em Goiânia (Foto: reprodução)

Alan Araújo Dias, advogado do homem de 24 anos que foi encontrado morto após ser colocado em uma viatura da Polícia Militar (PM), em Goiânia, declarou ao Mais Goiás que o corpo de Henrique Alves Nogueira tinha lesões que não existiam no momento da abordagem. “Existem lesões que podem indicar tortura”, relata o que ocorreu antes da suposta execução. O caso aconteceu na última quinta-feira (11).

Os policiais que participaram da ocorrência alegam que houve confronto. No entanto, vídeos registrados por câmeras de segurança mostram que Henrique não ofereceu resistência à abordagem e foi colocado no automóvel pelos militares. Os envolvidos no caso foram afastados.

Segundo o advogado, a abordagem ocorreu às 8h, conforme câmera de vídeo. O suposto confronto e o registro da ocorrência às 22h do mesmo dia. Alan ressalta, ainda, que os responsáveis pela abordagem e por acionar a Polícia Civil foram os mesmos agentes da PM.

“Ele sofreu uma abordagem sem mandado e sem nenhum ilícito. A família procurou por ele o dia todo e, à noite, ficou sabendo que morreu em confronto. Aí foram atrás da filmagem.” O jurista explica que as imagens da câmera de segurança mostram Henrique entrando na viatura com a mesma roupa que foi encontrado à noite. “Passou o dia na viatura, não houve confronto”, acredita o advogado.

Vale citar, Henrique tinha passagens por tráfico de drogas e roubo (2017), e por receptação (2019). Este último, explica Alan, é o único que ainda tramita. “Eles [PMs] abordam a pessoa na rua, veem que tem passagem e começam a pressionar e a torturar para entregar outros nomes.” Para o advogado, foi provavelmente isso que ocorreu antes da suposta execução.

“Vai haver uma nova perícia para identificar o que houve antes da morte. As imagens comprovam que não tinha agressão antes [dele entrar na viatura]. Nem lesão nem nada ilícito. Essa abordagem nem foi registrada.” Em relação a família, o advogado diz que eles estão com medo e abalados. “Estão se resguardando neste momento.”

Relembre o caso

Segundo o relato dos policiais na ocorrência, a equipe realizava patrulha pelo Setor Jardim Real Conquista, quando se deparou com dois homens em uma motocicleta. Os militares narram que deram ordem de parada, mas o condutor da moto fugiu. O carona, segundo eles, confrontou os policiais e foi atingido no revide. A ocorrência teria acontecido na noite de quinta-feira (11)

No entanto, imagens de câmeras de segurança mostram que Henrique foi abordado na manhã de quinta-feira, no Jardim Europa. No registro, é possível ver o momento em que o jovem anda pela rua e é abordado pelos policiais do Patrulhamento Tático. Os militares fazem a conferência de documentos e conversam com o homem. Momentos depois, o colocam na viatura.

De acordo com informações da Delegacia de Homicídios (DIH), a corporação foi acionada por volta das 22h para atender a ocorrência do suposto confronto, em uma estrada de terra do Real Conquista. Ainda na versão dos militares, o jovem estava com uma arma, uma mochila e grande quantidade de drogas. Nas imagens, porém, não há registro do homem com nenhum dos objetos.

Em nota, a PM informou que afastou os policiais assim que tomou conhecimento do caso. A corporação afirmou que não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta e determinou a abertura de um Inquérito Policial Militar para apurar a conduta dos envolvidos.

A Polícia Civil investiga o caso e tenta descobrir o que ocorreu entre o período em que o homem foi abordado e o momento em que ele foi localizado morto. Henrique deixa esposa e uma filha de 4 anos.