Caso João de Deus

Advogado é suspeito de invadir fazenda de João de Deus em busca de dinheiro

Polícia Civil investiga situação e advogado com procuração do médium pode ter prisão decretada após acusar autoridades

2Sofá rasgado, todos os quadros retirados das paredes, portas quebradas e fechaduras arrombadas. Este cenário revirado nem parecia a Fazenda Agroindustrial Dom Inácio, na rodovia que liga o distrito de Souzânia — 20 quilômetros de Anápolis — a Ouro Verde. O fato, em busca de encontrar dinheiro ou objetos de valores escondidos, aconteceu na manhã da última quarta-feira (26), mas só foi registrado no dia seguinte, na delegacia de Anápolis. O local é propriedade de João Teixeira de Faria, de 76 anos, o médium João de Deus. Advogado é alvo de investigação, apontam fontes.

A porta aos fundos da casa sede estava com sinais de arrombamento. Ao entrar na porta que dá acesso ao imóvel principal da fazenda, o que se podia ver era uma verdadeira cena de destruição. Tudo havia sido revirado e objetos estavam quebrados. Na cozinha da casa, até as panelas foram jogadas no chão. Todos os detalhes do caso estão em um Registro de Atendimento Integrado (RAI).

POLÍCIA
A queixa de invasão de propriedade privada e dado ao patrimônio público e possivelmente furto foi registrada na Central de Flagrantes da cidade de Anápolis, a 60 quilômetros de Goiânia. O caso, que tem como denunciante o caseiro funcionário do local, Abadio da Cruz Monte, de 48 anos, está sob número 878.646-9, na Polícia Civil. O caseiro foi à delegacia acompanhado de um dos advogados de João de Deus, .

Fontes do Mais Goiás apontam que um advogado, com procuração de João Teixeira de Faria, que teve a identidade preservada, está sob suspeita e pode ter prisão decretada a qualquer momento.

João de Deus Foto: Walterson Rosa/Folhapress
João de Deus (Foto: Walterson Rosa/Folhapress)

R$ 50 MIL BLOQUEADOS
R$ 50 milhões das contas do líder espiritual João Teixeira de Faria, o João de Deus. O médium está preso, suspeito de abusar sexualmente de mulheres durante atendimento espiritual na cidade de Abadiânia (GO), e nega as acusações. O dinheiro será usado para reparação das vítimas, caso ele seja condenado pelos crimes O advogado de defesa, Alberto Toron, disse que não recebeu qualquer informação sobre essa decisão.

Na quinta, o juiz Wilson Safatle Faiad revogou uma das prisões do médium, que é investigado também por posse ilegal de arma de fogo. Ele continua preso em razão do mandado de prisão preventiva, relativo às acusações de abuso sexual. No caso da arma, o juiz condiciona a revogação ao pagamento de uma fiança no valor de R$ 1 milhão, uso de tornozeleira eletrônica e entrega do passaporte. Preso desde o dia 16 de dezembro, quando se entregou à Polícia Civil, ele está detido no Núcleo de Custódia do Completo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO). Lá, ele dorme sozinho, mas passa o dia em uma cela com outros quatro presos.

A defesa do médium pediu a soltura dele pelos crimes sexuais ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas ambos negaram o habeas corpus em caráter liminar. Agora, o pedido foi feito ao Supremo Tribunal Federal (STF). A procuradora-geral da República Raquel Dodge, se posicionou contra a soltura do médium.

(Foto: divulgação/MPGO)

79 MULHERES

Ao todo, o Ministério Público de Goiás já ouviu 79 mulheres e recebeu mais de 600 notificações de abusos sexuais. Os promotores preparam uma denúncia contra João de Deus por estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude. “O MP está trabalhando nesse momento na produção da primeira denúncia que será oferecida. Essa denúncia, além de envolver o fato dessa vítima concluída pela Polícia Civil, abarcará também outras três vítimas que estão incluídas no procedimento de investigação criminal conduzido pelo MP”, explicou a promotora Gabriella Clementino.

O documento deve ser entregue à Justiça no máximo até domingo, 30, prazo legal estabelecido já que o médium está preso preventivamente. A promotora disse que, no entanto, que pretende entregar a denúncia até está sexta-feira, 28. “Já temos trabalhos concretos, que identificaram provas suficientes para oferta de denúncias”, completou. Sobre essa denúncia, a defesa do médium explicou que aguarda “serenamente” a apresentação para só então se manifestar.

Foto: Cesar Itiberê / Fotos Públicas

CASO
João de Deus continua preso após ser acusado de abusar de centenas de mulheres durante tratamentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia. As denúncias vieram à tona após repercussão de entrevistas de algumas vítimas no programa Conversa com Bial, da TV Globo. Em seguida duas forças-tarefas, da Polícia Civil e Ministério Público (Goiás e São Paulo), respectivamente, foram criadas para apurar as denúncias.

Agentes da Polícia Civil (PC) encontraram mais R$ 1,6 milhão em dinheiro, além de armas e um par de algemas em uma propriedades do médium em Abadiânia, Anápolis e Silvânia. Várias pedras preciosas também foram apreendidas e serão periciadas.