Alunos de escolas públicas e particulares lutam para fazer o Enem
Exame Nacional foi confirmado pelo Ministério da Educação mesmo com medidas de contenção da pandemia. Estudantes menos privilegiados enfrentam mais desafios rumo à conquista do acesso ao Ensino Superior
Com acessos diferentes a dispositivos eletrônicos que permitem conexão às plataformas de compartilhamento de conteúdos, professores da rede pública e particular buscam se adaptar às exigências de isolamento social impostas pela pandemia de covid-19. Para deixar a situação ainda mais complexa, o Ministério da Educação (MEC) confirmou a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a ser realizado em novembro. Escolas, estudantes e professores se adaptam ao regime excepcional.
Com a pandemia do coronavírus Sars-Cov-2, um dos segmentos que foi mais atingido pelas medidas de isolamento social foi a Educação. Sobretudo porque havia risco que aglomeração de estudantes e também no posterior retorno deles às famílias, o que poderia agravar o alastramento da doença. Em todo o mundo, aulas foram canceladas.
Goiás não foi diferente. Em decreto do dia 15 de março, o governador Ronaldo Caiado (DEM) determinou que as aulas presenciais nas redes públicas e privadas fossem suspensas. Por enquanto não há previsão de retorno. Há indicação, feita pelo próprio governo do estado, de que as aulas poderiam retornar em agosto. No entanto, caso não haja índice de isolamento social alto, o futuro ainda é incerto.
Nesse cenário volátil, professores avaliam que estudantes de ambas as redes enfrentam dificuldades e desafios, mas concordam que grande parte daqueles que dependem do ensino público são menos privilegiados, o que pode aumentar a diferença de acesso dessas pessoas às universidades.
Adaptações
A professora de história Nathália Freitas diz que o período inicial foi de adaptação. Tanto para os professores quanto para os alunos. Ela, que dá aulas no Colégio Agostiniano, escola tradicional da rede privada em Goiânia, observa que esse primeiro período foi difícil. Foi preciso criar um ambiente de estudo e ensino dentro das casas. Para isso, foi necessário fazer alterações não só de material, como compra de equipamentos para áudio e vídeo e também de busca pela melhor forma de se interagir e construir o processo de aprendizagem na nova realidade.
Ela observa que essas mudanças fizeram com que a carga de trabalho dos professores aumentasse. É preciso preparar as aulas, mas também o material prévio, slides, didática e o ambiente para as aulas virtuais. No entanto, Nathália lembra que os estudantes de ensino privado são privilegiados. Justamente porque podem ter acesso a equipamentos, materiais e internet para que a rotina de aulas permaneça próxima do nível considerado normal.
Por isso, para esses alunos, o fato de o Enem ter sido confirmado, embora cause apreensão, o impacto pode não ser tão grande. “Estamos tentando traçar o melhor traçar o melhor caminho para as aulas. Mas percebo que a escola presencial é insubstituível. As relações presenciais fazem toda a diferença. Uma pergunta em uma sala de aula, de um aluno, leva a um debate em que construímos um caminho para a aula. O Ensino a Distância perde um pouco disso”, salienta.
Ensino público
O professor de matemática Neydiwan Ferreira também precisou se adaptar. Ele dá aulas no Colégio Estadual Coração de Jesus, no Setor Aeroviário, em Goiânia. A princípio, tanto os educadores quanto os estudantes acreditavam que o período de quarentena seria breve. A partir do momento que entenderam que era mais persistente, a rede estadual passou a criar um meio de tentar trabalhar com os alunos pela internet.
Passaram a usar, a princípio, a plataforma Google Classroom, que permite postar atividades. Porém, perceberam que a plataforma em determinado momento não permitia a inserção de muitas atividades, sendo preciso excluir mais antigas para postar novas. A partir daí, passaram a usar o Messenger, com algumas salas e o aplicativo Zoom de videoconferência.
No entanto, tiveram outro problema. A taxa de desemprego aumentou. O que fez com que muitos pais começassem a conter despesas não essenciais. Uma delas é a internet. A presença dos alunos nas salas virtuais caiu para menos de 20%. A escola passou a confeccionar cadernos quinzenais. O aluno que não tem acesso à internet vai até a escola, busca o material necessário para estudo em casa. Assim, os estudantes têm sido atendido de duas ou três maneiras diferentes.
Enem
Neydiwan, no entanto, afirma que a confirmação do Enem veio como alívio e pesar. Principalmente por parte dos alunos, eles estavam angustiados, pois achavam que iriam terminar o ensino médio sem ingressar na universidade. No entanto, com a confirmação do Enem, o alívio deu lugar à aflição, pois agora imaginam que serão prejudicados. O tempo exíguo, adicionado com as dificuldades no acesso às aulas presenciais podem prejudicá-los.
“Vejo que haverá um distanciamento maior entre estudantes da rede pública e privada em 2020. Embora os dois sentem esse momento. Não existe uma cultura de o aluno ser autodidata, o papel do professor como mediador é bonito pedagogicamente falando, mas na prática o aluno é muito dependente da figura do professor. O aluno de escola pública tem várias deficiências históricas que precisamos corrigir, que o estudante de particular não tem. Ainda tem a pandemia para agravar”, explica.
Certame
De acordo com dados divulgados pelo próprio MEC, um milhão de estudantes já haviam realizado inscrição para participar do Enem 2020, na última segunda-feira (11). Foram apenas 8 horas para que o número de inscrições atingissem a marca no primeiro dia do período de inscrições, que devem ir até 22 de maio.
Neste ano, o ministério irá adotar o Enem impresso, a ser aplicado nos dias 1° e 8 de novembro; e a versão digital, executada em 22 e 29 de novembro. O exame terá quatro provas objetivas com 45 questões de múltipla escolha e uma redação em língua portuguesa.
SAIBA MAIS:
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