DESTAQUE NO CENTRO-OESTE

Amputações em Goiás crescem 41% em dez anos

Estado é o que concentra maior número de procedimentos no Centro-Oeste

Amputações em Goiás crescem 41% em dez anos (Foto: Reprodução - Arquivo Pessoal)

Goiás teve aumento de 41% no número de amputações em um período de dez anos, segundo dados da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Os indicadores da instituição ainda apontam que entre 2012 e 2021 (último ano com dados completos) o estado teve 4.810 procedimentos, o maior número do Centro-Oeste.

Os três estados da região Centro-Oeste, junto com o Distrito Federal, somavam 13.182 procedimentos de retirada de membros entre 2012 e 2021. Até março de 2022, outras 139 cirurgias foram feitas em Goiás.

De acordo com especialistas da instituição, os números mostram a necessidade do desenvolvimento de tecnologias cada vez mais avançadas para as próteses, o que significa, para as pessoas amputadas, melhor qualidade de vida e retomada da independência.

Além disso, o acompanhamento multidisciplinar para pacientes que passam por esses procedimentos é considerado fundamental para a adaptação à nova realidade e às próteses que, rotineiramente, precisam de ajustes ao corpo do paciente.

Um exemplo de desenvolvimento dessas tecnologias é o trabalho da empresa alemã Ottobock, que atua desde 1919 neste mercado. Além da pesquisa e fabricação das tecnologias, a instituição tem investido no Brasil na abertura de clínicas especializadas na protetização dos usuários. No final de 2022, a empresa inaugurou em Goiânia a primeira clínica do Centro-Oeste. No espaço, são oferecidos serviços para reabilitação de pessoas amputadas ou com mobilidade reduzida.

Um dos casos atendidos é o da publicitária e influenciadora digital Letícia Silvério, 28 anos. Aos cinco anos de idade ela teve um câncer na perna esquerda. Mesmo após se recuperar, ficou com sequelas nos movimentos e, aos 14 anos, por iniciativa própria, decidiu amputar o membro. Desde então passou a usar próteses.

A publicitária destaca a necessidade da adaptação e que isso depende tanto da pessoa quanto do acompanhamento feito pelos profissionais. “Eu vejo que o tempo para se adaptar a uma prótese varia de pessoa para pessoa. Na primeira prótese que eu usei, já saí andando. Mas, com o tempo, tive que retomar o processo de acompanhamento pois adquiri alguns vícios de marcha, o que não era positivo para mim”, explica.

Atualmente, Letícia usa como prótese o joelho 3R80, produzido pela empresa alemã. O técnico ortopédico da clínica na capital, Leonardo Ferreira, comenta que é importante sempre o treinamento e ajuste adequados ao paciente. “Protetização não é uma receita de bolo. É necessário um tratamento completo de reabilitação e adaptação do paciente, independente de qual seja o componente que ele utilize. Isso acontece desde o começo do processo, antes mesmo de a pessoa receber a prótese, e depois que passa a utilizá-la. Por isso deve ocorrer o acompanhamento de toda a equipe técnica”, afirma.

Além do joelho, outro componente da perna mecânica é o encaixe, que liga o joelho ao corpo. Ferreira comenta a importância dos encaixes provisórios para que a pessoa se acostume à nova realidade e, posteriormente, migre para uma estrutura mais definitiva. “O membro residual (parte da perna que ficou após a amputação) não é desenhado para receber todo o peso corporal, algo que, a partir de então, passa a acontecer. Por isso é necessário todo um período de acompanhamento e preparação. Os ajustes são comuns e devem acontecer. Sempre digo que a protetização acontece não no menor tempo, mas no melhor tempo para cada pessoa”, diz.

Letícia, por exemplo, comenta que teve mudanças corporais depois que passou a utilizar próteses e precisou alterar o encaixe. “Estou em um momento de perda de medidas e pretendo perder mais com o tempo. Por isso é fundamental ficar com um encaixe provisório no início da protetização para que o técnico possa fazer os ajustes necessários”.