Pais deixam de matricular filhos na pandemia e Aparecida perde 2.235 alunos da Educação Infantil
Pais deixaram de matricular 2.235 crianças no Ensino Infantil da rede municipal de Educação em…
Pais deixaram de matricular 2.235 crianças no Ensino Infantil da rede municipal de Educação em Aparecida durante a pandemia. Dados do Instituto Rui Barbosa revelam que em 2020, havia 11.658 alunos de 0 a 5 anos matriculados na rede pública infantil. Este ano, o número caiu para 9.423 crianças.
A pandemia fez com que o deficit de crianças atendidas na Educação Infantil em Aparecida piorasse. Do total de 50.418 crianças entre 0 a 5 anos residentes no município, apenas 18,6% estão nas escolas. Em 2020 esse índice era de 23,1%. Os dados foram obtidos por meio do cruzamento de informações do levantamento feito pelo Instituto Rui Barbosa com dados da Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida.
Entre o dia 17 de março de 2020 e o dia 9 de agosto de 2021 as aulas presenciais na rede municipal de ensino de Aparecida foram interrompidas em todas as unidades de ensino por causa da pandemia da Covid-19. As aulas foram ministradas apenas pelo Regime de Aulas Não Presenciais (REANP), conforme determinação dos Conselhos Estadual e Municipal.
Educação infantil à distância não existe, afirma Fórum Goiano de Educação Infantil
Uma carta aberta do Fórum Goiano de Educação Infantil divulgada no auge da pandemia, afirma que Educação Infantil à distância não existe. O documento defendia ainda que deveria ser feito um trabalho intersetorial apoiando as crianças e suas famílias neste momento tão adverso e mais excludente.
“Não se imagina uma educação de crianças menores de seis anos que prescinda do toque e das trocas afetivas e do acompanhamento em forma de cuidados e de procedimentos educativo-pedagógicos. Brincadeiras e interações de natureza assistivo-educativa são eixos essenciais na qualidade do trabalho da Educação Infantil, assim como interações entre crianças e as condições de liberdade de movimento, de expressão e de investigação do meio ambiente e de contextos sociais”, diz o documento.
Deficit de acesso a aulas remotas chegou a 25% durante a pandemia, em Aparecida
Em 2020, o Mais Goiás apurou que a quantidade de alunos que não conseguiam acesso as aulas remotas naquele ano letivo chegou a 25% dos alunos matriculados no município. A reportagem revelou que não apenas a falta de acesso total à rede inviabiliza a inclusão, mas o tipo e velocidade de conexão à internet também é uma barreira para acompanhamento de aulas remotas durante a pandemia.
A alternativa para pais dos alunos que não conseguiam acesso às aulas online era recolher atividades impressas nas escolas que, posteriormente, eram corrigidas por professores. Na ocasião, o diretor da Escola Municipal Nova Olinda, Marcos Acácio afirmou que a modalidade de ensino a distância é um desafio na educação de crianças em todo o país e que o ensino fica prejudicado pela diminuição da relação aluno e professor.
Pais deixaram de matricular por causa de aulas online, diz prefeitura de Aparecida
Em nota, a Secretaria Municipal de Educação de Aparecida de Goiânia (SME) alega que de acordo com dados da Central de Matrículas da SME, o ano letivo de 2020 foi encerrado com 10.543 alunos na Educação Infantil, incluindo os CMEIs, Escolas Municipais de tempo parcial e Entidades Conveniadas.
Em 2021, segundo levantamento mais recente, feito no mês de setembro, o número dessa mesma etapa de ensino caiu para 9.399 crianças matriculadas. A pasta alega que essa diferença está relacionada às desistências durante o período de aulas online.
A SME alega ainda que, durante o ano de 2021, essas mesmas vagas ficaram disponíveis no site e que também foi feita a convocação do Cadastro Reserva. Porém, como as vagas eram destinadas para atendimento em tempo parcial, não houve adesão como ocorreu no ano de 2020, antes das aulas presenciais serem interrompidas.
É necessário compreender os motivos da evasão escolar, diz especialista
A professora doutora e pesquisadora do Instituto Federal Goiano (IFG) e membro do Comitê Gestor do Fórum Goiano de Educação Infantil, Telma Aparecida Teles afirma que o número de crianças fora das unidades de ensino aumentou em razão da pandemia e alerta que é fundamental compreender junto às famílias os motivos dessa não permanência nas escolas.
“É necessário realizar uma busca ativa que vise ampliar o acesso, aumentar o número de vagas e de profissionais da educação e promover a formação continuada para professores e professoras”, disse Telma. Além disso, a pesquisadora afirmou que há a necessidade de melhorias na infraestrutura das instituições educacionais.
Telma ainda afirma que a maior parte do número de vagas na pré-escola ainda é de período parcial e não integral como seria os princípios praticados na Educação Infantil desde 1996, quando essa passa ser reconhecida como parte da educação básica na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Das 9.399 vagas para crianças de 0 a 5 anos do Ensino Infantil de Aparecida, pelo menos 32% são de período parcial. Estas, são todas as 3.012 vagas de escolas do agrupamento 4 e 5, que correspondem à pré-escola infantil. Ou seja, 100% da educação na pré-escola da rede municipal em Aparecida são de período parcial. As 4.923 vagas do CMEIs são todas de período integral e correspondem à 52% do total de vagas na Educação Infantil do município.
Há também 1.433 vagas em escolas conveniadas com a prefeitura que se dividem em período parcial e integral. A assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Educação afirmou que não conseguiu detalhar quantas destas seriam de período parcial, pois o sistema que controla as conveniadas já havia fechado no momento da solicitação dos dados e a pasta alegou que não tinha acesso à informação.
“Acreditamos que, para que o compromisso político, social e educacional seja cumprido e que essas crianças que não retornaram às escolas, retornem, é necessário a realização de buscas coletivas intersetoriais entre educação, saúde, assistência social, criando diferentes mecanismos para compreender os motivos que levaram esse distanciamento entre a criança e família da instituição educacional”, concluiu.
“É fundamental ampliar o número de vagas”, diz especialista
A pesquisadora afirma ainda que é fundamental ampliar o número de vagas em cumprimento ao Plano Nacional de Educação (PNE) e criar possibilidades diferenciadas a partir das necessidades das crianças e das famílias. A falta de número de vagas é um dos principais fatores que elevam o deficit de crianças na Educação Infantil.
“O triste é que as crianças que não vivem esse momento, que é direito constitucional, não poderão vivê-lo posteriormente. Precisa-se garantir a todas as crianças o direito ao acesso e permanência na instituição educacional”, concluiu Telma.
A pequena Alice Gabrielly Sousa vai completar três anos em janeiro do próximo ano. Desde seu nascimento, a mãe, Gabriela Sousa, tenta matricular sua filha em um Cmei de Aparecida de Goiânia, mas nunca conseguiu. Este ano é a terceira vez que Alice fica no cadastro de reservas para uma vaga na creche da sua região.
Gabriela Sousa trabalha como diarista desde o nascimento de Alice e não teve alternativa, a não ser pagar uma pessoa para que cuide de sua filha enquanto trabalha. “Eu recebo apenas um salário-mínimo e 40% da minha renda acaba indo para a cuidadora de minha filha”, afirma Gabriela, que está grávida de outro bebê.
“Estou no cadastro reserva há tanto tempo que minha filha vai completar três anos. Quando ela era recém-nascida, me falavam que ela não conseguiria vaga para berçário porque estava muito difícil, muitas mães também estavam precisando. Se, um dia, eu conseguir alguma vaga, ela já vai ter perdido a oportunidade de ter sido matriculada em uma creche porque já estará na idade de ir para escola”, lamenta.