Após 248 casos de Leishmaniose, Porangatu deve construir abrigo para cães e gatos
Decisão é da juíza Ana Amélia Inácio Pinheiro; número registrado no município representa 23,45% do total em Goiás
Após 248 casos de Leishmaniose Visceral Canina registrados somente esse ano, a Prefeitura de Porangatu deverá construir abrigo para cães e gatos na cidade. A determinação é da juíza Ana Amélia Inácio Pinheiro, e se trata de ação civil pública com pedido de liminar do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). A cidade fica na região norte do estado e o prazo é de 12 meses.
A Leishmaniose Visceral (LV), de acordo com o Ministério da Saúde, é uma doença causada por um protozoário da espécie Leishmania chagasi. É transmitida por meio da picada de insetos conhecidos popularmente como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras, birigui, dentre outros. A transmissão ocorre quando fêmeas infectadas picam cães ou outros animais infectados e depois picam outros animais ou até humanos, causando a enfermidade.
Na área urbana, de acordo com o laboratório Fio Cruz, o cachorro é o principal reservatório do parasita. Dentre os principais sintomas estão a perda de pelo, descamação da pele, emagrecimento, atrofia muscular, hemorragias nasais, anemia e alterações nas e articulações e em órgãos como rins e fígado.
Segundo levantamento da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO), dentre os 1.058 casos da doença registradas no estado em 2019, 248 foram em Porangatu (23,45%). Dados divulgados pela pasta ainda mostram que em 2018 foram registrados 116 em Goiás. Isso significa que, de forma geral, o número de casos da doença está 113% mais alto que no ano passado.
Outras medidas determinadas pela Justiça é que os profissionais do Centro Zoonoses do município passem por treinamento. E que haja campanhas de conscientização sobre posse responsável dos animais e castração. Foi proibido, ainda, que o Poder Municipal faça o sacrifício de cães e gatos saudáveis. A repressão estabelecida em caso de descumprimento da ordem judicial é multa diária de R$ 1 mil.
Quanto à pratica de eutanásia, o MP denunciou que cães recolhidos pela unidade de zoonoses local foram vítimas de maus tratos e mortos apenas sob suspeita de estarem com leishmaniose. Contudo, não foi feito exame para comprovar a doença.
A magistrada Ana Amélia requereu instauração de processo administrativo disciplinar para apurar a denúncia. “Não há como se coadunar que sejam praticados atos cruéis para o extermínio de animais, transformando esses centros em verdadeiros matadouros, quando referidos locais deveriam ser utilizados para promoção do bem-estar e melhora da saúde dos animais”, pontua a juíza.
O Mais Goiás tentou contato com o Centro de Zoonoses e com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porangatu na quarta-feira (4) e quinta-feira (5). No entanto, as ligações não foram atendidas. O espaço está aberto, caso haja interesse em se manifestar
Abrigo pode ser também uma bomba relógio
“Abrigo pode ser também uma bomba relógio”, é o que afirma o presidente da Comissão de Saúde Pública do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Goiás (CRMV-GO), Geraldo Edson Rosa. “Não adianta pegar o animal da rua e colocar em um local, em muitos casos insalubre, e sem examiná-lo antes”, explica.
De acordo com o veterinário, membros do Conselho estiveram em Porangatu no primeiro semestre de 2019 para orientar o município sobre os cuidados necessários quanto a saúde pública dos animais. “O primeiro passo é ter equipe de veterinários na Prefeitura, deve haver também a vigilância do flebótomo (parasita responsável pela contaminação), e também a limpeza de lotes baldios, já que o protozoário se reproduz em material orgânico”, pontua. Além disso, reitera a importância da conscientização sobre posse responsável e campanhas de vacinação.
Por fim, quanto aos números levantados pela SES, o presidente faz duas constatações. “Sobre os dados de 2018 e 2019, devemos ter cuidado para saber se esse número de fato aumentou ou se a vigilância melhorou. Mas de qualquer forma, a Leishmaniose é uma doença séria e não tem uma receita de bolo para evitar”, diz. “Se for o caso de um animal for diagnosticado com a doença, a eutanásia é o indicado pois é um caso em que suprime a dor de um animal e protege o coletivo”, finaliza.