UMBANDA

Após 34 anos, Goiânia retoma realização de procissão em homenagem aos Pretos Velhos

Tradição celebra a ancestralidade e vivência nos terreiros de religiões afro-brasileiras

Após 34 anos, Goiânia retoma realização de procissão em homenagem aos Pretos Velhos (Foto: Clicks de Terreiro - Divulgação)

Centenas de pessoas usando vestes claras, segurando velas, e adornadas com elementos sagrados para as religiões afro-brasileiras e de matriz africana, como guias, panos de cabeça, patuás e imagens de Pretos Velhos. Quem passou pelo Setor Universitário, em Goiânia, na tarde do último domingo (5), presenciou uma procissão com a presença de mais de 30 terreiros unidos para homenagear uma das entidades mais conhecidas pelos brasileiros: os Pretos Velhos da Umbanda.

Organizada pelo Conselho de Umbanda do Estado de Goiás (CUEGO), o encontro uniu diversos povos que cultuam o sagrado e a ancestralidade afro-brasileira. Segundo o sacerdote Mestre André, há 32 anos a capital não tinha uma manifestação desta magnitude em homenagem aos Pretos Velhos. “É o resgate de uma tradição que iniciou nos anos 70 em Goiânia com Edson Nunes e nos anos 80 com o saudoso Luiz Fernandes, ambos dirigentes em suas épocas da Federação de Umbanda e Candomblé do Estado de Goiás”, explica.

A procissão contou com o apoio da Polícia Militar do Estado de Goiás (PMGO), da Guarda Civil Metropolitana (GCM) de Goiânia e Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM) registrou a participação de aproximadamente mil pessoas. Durante o cortejo, que saiu do Centro Espírita São Miguel Arcanjo, no Setor Universitário, seguiu pela Quinta Avenida, 10º avenida e finalizou o percurso na Praça Cívica, não foram registradas intercorrências ou quaisquer atos de intolerância.

A celebração, que busca o respeito à liberdade e diversidade religiosa, registrou a presença de autoridades de religiões diversas, dentre elas, católica, evangélica e mulçumana, além de representantes do Terecô, Candomblé, Omolokô e Jurema, em um grande ato ecumênico. A Câmara Municipal de Goiânia foi representada pelos vereadores Anselmo Pereira e Léo José, que atuam na defesa dos povos de terreiro na capital.

Durante a abertura do evento, foram entregues moções de aplausos e póstumas para líderes religiosos pela Casa de Leis e pelo CUEGO. Em seguida, ritos ancestrais como a defumação e louvação ao Povo da Rua marcaram o início do cortejo, que foi puxado pelas anciãs, seguidas Yabás, curimbas de Pretos Velhos e a representação do Cruzeiro das Almas. A procissão seguiu com cada centro segurando suas bandeiras, com o canto de pontos e orações por todos, principalmente os aflitos.

Para o conselheiro do CUEGO e sacerdote de Umbanda Ailton Gomes, a procissão representa um gigantesco passo da religião no combate à intolerância religiosa. “É uma quantidade de terreiros enorme, com mais de mil adeptos das religiões afro-brasileiras. Isso para nós é muito significante, porque nós recuperamos uma tradição passada de mais de 30 anos e retornamos em alto estilo, com organização, com planejamento de uma grande procissão”, disse o sacerdote.

Em nome da Câmara Municipal de Goiânia, o vereador Anselmo Pereira destacou que todos tem por dever respeitar e fazer com que todas as expressões religiosas sejam respeitadas. “A valorização e respeito ao trabalho que fazem, do bem, da caridade, sem olhar a quem. É esse o propósito que estamos reunidos, para dizer que não aceitamos, em hipótese alguma, que haja retaliações a qualquer tipo de manifestação religiosa nessa cidade”, defendeu. Durante a procissão, crianças desfilaram com a Tocha da Paz, que simboliza a união dos povos, o amor a Deus, e a luta contra a violência, o racismo e a violência religiosa.

A procissão deste ano teve, dentre suas homenagens, a reverência à Vó Erotildes, benzedeira descendente direta de escravos que fundou o Centro São Espírita São Miguel Arcanjo, em 1950 — a Casa é uma das mais antigas do estado. A sacerdotisa, que faleceu dia 26 de julho de 2016, realizava procissões pelo bairro, costume retomado pelos atuais dirigentes, padrinho Zelismar e Madrinha Ester. Durante a procissão, crianças desfilaram com a Tocha da Paz, que simboliza a união dos povos, o amor a Deus, e a luta contra a violência, o racismo e a violência religiosa.