Após operação por maus-tratos, clínica é interditada; diretoria e internos rebatem acusações
Direção da unidade afirma que crimes nunca ocorreram no estabelecimento. Declaração bate de frente com três depoimentos colhidos pela PC. Local deve providenciar alvarás para reabertura
Alvo de investigação sobre maus-tratos, superlotação e cárcere privado, a Clínica Ágatha, situada em Aparecida de Goiânia foi interditada por tempo indeterminado. O estabelecimento, segundo a Polícia Civil (PC), deverá permanecer fechado até que alvarás da Vigilância Sanitária e do Corpo de Bombeiros, sejam obtidos pela instituição de recuperação. Até o momento, três pessoas relataram à PC que foram vítimas de agressão nas dependências da clínica. Dois outros pacientes foram ouvidos e, desta quinta-feira (21), até a próxima semana, membros da diretoria deverão prestar depoimento. Diretoria, internos e familiares contestam a ocorrência de crimes no centro de reabilitação.
De acordo com o delegado Diogo Barreira, responsável pelo inquérito, os dois internos que prestaram esclarecimentos, negaram ter conhecimento dos supostos crimes praticados no estabelecimento. “Eles negam, mas temos relatos das vítimas que afirmam ter apanhado. Os mesmos também apontaram a prática do cárcere privado. Não conseguimos comprovar as agressões, até então, são apenas relatos. No entanto, no local, constatamos locais para fixação de grades e membros da equipe da clínica confessaram, informalmente, que deixam os internos trancados no local à noite”.
“Uns defendem o estabelecimento, mas outros apontam crimes; temos que averiguar”, completa o delegado. Segundo ele, a investigação tem um prazo de 30 dias para ser finalizada.
Contestação
Segundo o policial, em 2016, um estabelecimento fixado no mesmo prédio chegou a ser interditado em 2016. Diretoria da Clínica, ouvida pelo Mais Goiás, rebate a hipótese de que a Clínica Ágatha tenha sido interditada anteriormente, assim como contesta as denúncias de maus-tratos, superlotação e cárcere privado. A alegação do estabelecimento, é apoiada por depoimentos de internos e familiares.
Para o diretor da unidade, Thenison Tavares, a PC cometeu um equívoco. “Até agora nós não entendemos qual a intenção dessas denúncias e a finalidade dessa operação. Até porque estamos aqui desde novembro de 2017 e nunca fizemos nada de errado. O que eu ouvi a polícia dizer hoje para os repórteres foi que nossa clínica já há sido fechada pela vigilância sanitária anteriormente, em 2016, o que não é verdade, uma vez que naquela época, o que funcionava aqui era uma tal de SOS Resgate, que eu nem tenho ideia de que era e que nada tem a ver conosco”.
As afirmações de Thenison são corroboradas por internos, familiares e um voluntário. Eles alegam, em vídeos, serem tratados de forma humana. Um casal, cuja identidade será preservada, reforçou a tônica. O filho deles está internado na unidade há quatro meses e precisou ser levado para casa em razão da interdição. “Meu filho já passou por outras duas ou três clínicas e não se adaptou em nenhuma delas, mas aqui, sim, ele era bem atendido e aceitava bem o tratamento. Agora não sei o que vou fazer, pois em casa ele é bastante agressivo. Temo pela minha vida e pela da minha esposa”, declarou.
A informação de que o local estaria superlotado também foi rebatida pelo diretor da clínica. “Nós temos capacidade para 80 internos, mas sempre operamos com um número bem menor”, garantiu Thenison Tavares. Sobre a acusação de que no local haveriam dependentes internados compulsoriamente, Eliane de Jesus Reis, que também é diretora da clinica, garantiu que os poucos que se encontram nesta situação, foram encaminhados para lá junto com um pedido assinado por um juiz. Pelo menos dois destes internos compulsórios, ainda segundo ela, não querem deixar a clínica.
Apesar de não ter sido fechada permanentemente, o centro de reabilitação terá que encaminhar todos os internos para seus familiares até a próxima sexta-feira (22), quando o instituto deverá passar por novas vistorias. “A partir daí vamos precisar fazer as adequações exigidas pela vigilância para que possamos voltar a funcionar. Já estamos providenciando, agora essa denúncia de agressões e maus tratos nunca existiu e nem existirá”, afirmou Eliane.
Réplica
Em nota, a Polícia Civil ressalta que internos alegaram os maus tratos e contaram, ao serem ouvidos, que ficam trancados nos quartos à noite com grade e cadeado, o que configura cárcere privado. “O fato, inclusive, foi reconhecido pelo monitor e pelo proprietário da clínica”, consta no documento.
Veja vídeos com depoimentos sobre a clínica: