Após pedido de prisão de João de Deus, Natal para crianças de Abadiânia tem clima tenso
Em discurso, mulher do médium pediu preces para João de Deus: 'Continuem rezando para que a verdade prevaleça'
Esperada pela população carente de Abadiânia, a festa da entrega de presentes de Natal promovida por João de Deus deste ano foi feita sob clima de tensão e alegria protocolar. Neste sábado, 15, horas antes de o médium ser considerado foragido da polícia e procurado pela Interpol, sua mulher Ana Keila Teixeira ao microfone pedia preces para o marido e alegria no coração: “Apesar das turbulências, peço que todos continuem rezando para que a verdade prevaleça”.
Médium que ficou conhecido internacionalmente, João de Deus está com a prisão preventiva decretada pela Justiça, acusado de abusar sexualmente de mulheres. Ele afirma ser inocente. Desde que a prisão foi anunciada, policiais percorreram mais de 20 endereços em busca do médium, mas sem sucesso.
Desta vez, ele foi lembrado de forma indireta pela mulher no discurso e também nas camisetas usadas por pessoas da organização. Branca, ela trazia um retrato do médium, de braços abertos, exibindo na cabeça uma toca de Papai Noel. A roupa trazia ainda os dizeres: “Obrigado João de Deus.”
Não havia na festa um número significativo de voluntários que atendem em seu centro. A maior parte dos frequentadores eram os “filhos de Abadiânia”, como são conhecidos os habitantes que nasceram e cresceram na cidade. Adultos procuravam ficar em silêncio e fugiam de perguntas sobre a prisão preventiva, num sinal de respeito. A festa, ao contrário do que ocorre em outros anos, acabou cedo.
Às 14h, brinquedos já haviam sido desmontados e pouco depois, a rua já era lavada. Abadiânia é dividia pela BR-60. Na parte onde ocorreu a festa, dos “filhos de Abadiânia”, a previsão é de que as denúncias contra João de Deus não provoquem grande impacto. “Aqui o comércio não depende dele. Não vai ficar nem melhor, nem pior”, afirmou um morador da cidade, que não quis se identificar.
Depois que as denúncias de abuso sexual vieram à tona, na semana passada, o receio de ser identificado aumentou. A figura de João de Deus, aos 76 anos, provoca não apenas adoração, mas temor – sobretudo da população mais pobre.
A apreensão é evidente na parte oposta da cidade, onde pousadas e lojas floresceram graças ao turismo movimentado com a Casa Dom Inácio de Loyola. Anualmente, cerca de 120 mil pessoas visitavam o local em busca de tratamento com o médium.
O maior receio dos comerciantes é de que, com a credibilidade comprometida, o turismo religioso caia e leve junto seus empregos e a renda. Nesta semana, a primeira depois de o escândalo surgir, o movimento foi muito abalado. Várias reservas de hotéis foram canceladas, o número de ônibus com fiéis se reduziu de forma expressiva. “Tinha dia, que víamos 30”, contou na quarta a voluntária Jacira Oliveira Soares.