Aprovações aumentam 10%, mas candidatos que conseguem a CNH são menos da metade
Conversamos com candidatos que ainda não foram aprovados para saber os problemas e buscamos o que tem sido feito pelo Detran
Quem já tentou tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em Goiânia conhece a fama da cidade. No último ano, a taxa de aprovação dos candidatos na Capital era de apenas 34%. No entanto, esse número subiu para 44% desde julho, depois de mudanças realizadas nos trajetos das provas. As estatísticas do órgão mostram que em 2017, o mês de agosto foi o que mais registrou aprovações: 2.294. As informações são do gerente de habilitação do Detran, Rodrigo Rezende.
A universitária Geovana de Oliveira é uma das que ainda não conseguiu tirar sua CNH. Ela está há um ano e três meses com o processo de habilitação na categoria B (carros) aberta. Nesse período, a estudante já passou quatro vezes pela prova prática, ainda sem sucesso.
A manicure Vânia Nunes compartilha uma situação parecida. O seu processo, com duração de um ano, venceu e, depois de sete tentativas, não houve aprovação. As duas não são exceção, a maioria dos candidatos não passa na primeira tentativa. Ao longo do processo há muita preocupação e, por vezes, desistência.
Trajeto
“Acredito que inúmeros fatores possam ter colaborado para os meus maus resultados até hoje, mas posso destacar alguns pontos que mais me incomodaram. É claro que a ansiedade e o nervosismo para a prova contam muito, mas não conhecer o percurso da prova dentro do Detran pode ter sido um dos fatores nas primeiras vezes”, afirma Geovana.
A prova prática de habilitação é realizada em um percurso que consiste em uma pista dentro do pátio do Detran e de um trajeto externo, na rua. Rodrigo explica que a pista interna foi aberta para aulas práticas no local, que devem ser agendadas com a própria autoescola, em horários determinados pelo órgão.
Além disso, Goiânia conta com quatro locais de realização de prova, não apenas a sede do Detran, no Setor Cidade Jardim, como antigamente. Rodrigo aponta esse fator como uma influência positiva nas taxas de aprovação. “Nós hoje temos quatro locais de prova em Goiânia que são na sede, na região noroeste (Setor Finsocial), na região sul (no Parque Macambira) e na região leste (Conjunto Riviera)”, pontua.
O gerente de habilitação esclarece ainda que as pistas para a prova de motocicletas estão mais completas e com mais obstáculos, para garantir que os candidatos estejam realmente aptos à direção. Outra mudança no percurso foi o trajeto, que agora deve seguir a padronização de 20 minutos ou 1,5 quilômetros.
De uma forma ou de outra, muitos candidatos descrevem motivos de sobra para ficarem tensos no período de testes. “A longa espera e a quantidade de provas no mesmo período, a quantidade de exacerbada de pessoas circulando no local de prova, totalmente desorientadas sobre onde ficar, andar ou até mesmo esperar para fazer a prova”, elege Geovana como fatores que aumentam o nervosismo dos candidatos. Rodrigo explica que a reforma dos locais de espera está prevista, para garantir mais conforto a quem vai fazer o exame.
Em relação ao nervosismo, o gerente conta que existe um projeto em andamento para realizar “aulões” com especialistas que tem o objetivo de solucionar os problemas e dar mais tranqüilidade aos candidatos.
Examinadores
Há candidatos que também revelam experiências ruins com os próprios examinadores. “Eles deveriam ter mais contato com os candidatos, ser menos ásperos. Os candidatos já chegam com medo da abordagem deles com o pessoal. Poderia ser uma abordagem mais humana”, explica Vânia.
A manicure conta que já se sentiu lesada por um examinador. “Eu mesmo fui vítima, lá dentro da prova do Detran um pedestre não quis passar na faixa de pedestres e o examinador disse que eu teria que ter conversado com ele. Eu fui reprovada por causa disso, eu achei uma injustiça comigo”, relata. Vânia entrou com um recurso para rever sua reprovação.
Rodrigo explica que a ação do examinador está baseada no Código Brasileiro de Trânsito e que os profissionais ganham por hora de trabalho, não por processo, por isso não justificaria reprovar propositalmente.
“Acredito que o examinador não esteja ali para reprovar ninguém, mas o mesmo também não considera muito a subjetividade do condutor. Acho que por ser um processo bem rápido e ele já ter feito várias avaliações antes, e possivelmente várias depois, acaba que leva tudo muito no automático, o que eu acho sim que prejudica pelo nervosismo de quem está prestes a fazer a prova”, pontua Geovana.
O gerente de habilitação do Detran afirmou que existe um projeto em andamento para colocar câmeras dentro dos carros, no intuito de que nenhuma injustiça ou irregularidade passe despercebida.
Desistência
“É um sonho de todo mundo a habilitação. Para mim foi um sonho frustrado”, conta Vânia que aguarda o recurso perante o Detran. Como o processo venceu, caso a ação não dê resultados, é preciso reiniciar toda a burocracia que ronda a habilitação.
“Bom eu não penso em desistir, mas não vou tirar mais na capital Goiânia, transferi meu processo e espero que agora dê certo”, explica Geovana. Muitos candidatos optam por mudar os processos para o interior.
Rodrigo explica que a padronização das pistas também tem sido implantada no interior e que em muitos municípios a taxa de aprovação também aumentou. A ideia é que o processo seja realizado em todo o Estado.
* Amanda Sales é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo