Assembleia universitária reúne 5 mil pessoas na UFG contra o corte de verbas na educação
Se a redução das verbas se confirmar, todas as universidades federais irão interromper suas atividades até outubro, diz reitor
Mais de 5 mil pessoas se reuniram na tarde desta segunda-feira (13) para discutir o cortes ao orçamento da Universidade Federal de Goiás (UFG) na assembleia universitária. O evento foi convocado pelo reitor da Instituição, Edward Madureira, para que a comunidade acadêmica fosse informada dos impactos da do contingenciamento no funcionamento da universidade.
A assembleia teve início às 14 horas e se estendeu por toda a tarde. Ela foi aberta pela fala do reitor, que expôs o orçamento e a realidade financeira da UFG nos últimos anos. Em seguida, a discussão foi aberta entre os presentes. Ao final, cerca de 4 mil pessoas realizaram um abraço simbólico na universidade
“A assembleia universitária não é deliberativa”, informou Edward ao Mais Goiás. “Mas em situações difíceis como essa, é importante conversar com todos para que possamos mostrar os riscos que a universidade está sofrendo”.
Orçamento estagnado
De acordo com o reitor, o maior impacto do corte anunciado pelo governo federal será com o pagamento dos fornecedores. “Na UFG, o corte será de R$ 27 milhões. Teremos que interromper o pagamento de fornecedores, o que afetará os serviços de água, energia elétrica e vigilância, bem como a manutenção da frota e dos prédios”, ressaltou Edward.
Ele explicou que o orçamento da universidade está estagnado nos últimos anos. Por outro lado, a universidade continua ampliando atividades. “A UFG não para de crescer. Abrimos 10 novos programas de pós-graduação só em 2019. No total, temos 44 doutorados aqui. A despesa cresce e a receita tem se mantido a mesma nos últimos anos”, explica o reitor.
Edward explicou ainda que, se os cortes se confirmarem, nenhuma universidade federal ou instituto federal irá se manter até o fim do ano. “É absolutamente impossível”, disse. “Em conversa com os reitores das Instituições Federais de Ensino de todo o país, chegamos à conclusão de que todas irão interromper o funcionamento entre o final de agosto e o começo de outubro”.
Atendimento à comunidade
O prejuízo nos cortes não será apenas da comunidade universitária. Os mais de 2.5 mil projetos de extensão promovidos pela UFG também serão afetados. Eles atendem cerca de 500 mil pessoas por ano, de acordo com a reitoria da UFG, e também dependem desses recursos para continuar funcionando.
Um exemplo desses projetos são as ligas acadêmicas. São projetos ligados aos cursos da saúde que realizam atendimentos e assistência médica para a população.
O corte irá afetar também, indiretamente, o Hospital das Clínicas (HC). “A princípio, o hospital não será afetado, porque ele é financiado pelo SUS”, disse o reitor. “Mas a manutenção do prédio, por exemplo, é feita pela universidade. O HC é da UFG e ele também não ficará imune”.
Comunidade universitária
A redução no orçamento também mobilizou as entidades representativas de professores, técnico administrativos e estudantes da UFG. O presidente do Sindicato dos Docentes da UFG (Adufg), Flávio Alves da Silva disse que a rotina dos professores será muito afetada.
“Já estamos sofrendo com cortes desde 2015. Agora a situação está muito pior”, disse Flávio. “Teremos dificuldades em realizar aulas práticas, fazer viagens de estudos com os estudantes e em promover pesquisas científicas. Essa é a primeira vez que vejo um ministro da educação brigar por cortes ao invés de lutar por mais verbas. Parece um filme de terror”, finalizou.
O coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos das Instituições Federais de Ensino Superior de Goiás (SINT-IFESgo), Fernando Mota, ressaltou que os cortes irão afetar toda a população que usufrui dos serviços prestados pela instituição. Além disso, ele teme a precarização das condições de trabalho.
“Esses cortes irão prejudicar o nosso trabalho em várias áreas. Vai impactar, por exemplo, na aquisição de equipamentos de proteção individual, fundamentais para a segurança no trabalhos. Teremos problemas também com materiais de laboratório utilizados nas aulas práticas”, disse Fernando.
A diretora da Associação Nacional de Pós-graduandos, Raísa Vieira, acredita que a fala do reitor foi importante porque desmontou alguns “mitos” sobre o funcionamento da universidade. Ela afirma também que a redução no orçamento irá prejudicar muito a produção científica.
“60 bolsas de pesquisa de mestrado, doutorado e pós-doutorado foram cortadas. O impacto é grande porque são pessoas que entraram agora na pós-graduação e que não terão condições de realizar suas pesquisas científicas. Muitos programas não terão turmas porque não será possível subsidiar o trabalho desses alunos”, afirmou.
Reação
Tanto a reitoria quanto à comunidade estão se mobilizando para impedir que os cortes de verbas se concretizem. Edward afirmou que a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) marcou uma reunião com o ministro da educação, Abraham Weintraub, para discutir o orçamento das instituições federais de ensino superior. “Vamos conversar com o ministro na quinta-feira (16). Os reitores querem demonstrar para ele a gravidade da situação”.
Além disso, diversos setores da educação estão organizando uma greve nacional da educação. Marcada para o dia 15 de maio, o movimento pretende reunir trabalhadores, professores e estudantes de todos os níveis para garantir que os recursos não sejam cortados.
Em Goiânia, a comunidade universitária irá promover um café da manhã no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE), com o objetivo de conversar com os pais dos alunos de ensino fundamental e médio sobre as consequências da redução de verbas. À tarde será promovida uma manifestação no centro da cidade. A concentração será às 15 horas na Praça Universitária.