Coronavírus | Reflexo

Bares: retorno das atividades é marcado pela incerteza

Apesar da animação do retorno, muitos empresários temem que movimento não seja o mesmo ou até mesmo um recuo das autoridades sobre o decreto

Covid-19: governo do DF restringe funcionamento de bares até as 23h

Após o decreto estadual, assinado nesta segunda-feira (13) pelo governador Ronaldo Caiado (DEM), autorizar a reabertura de bares e restaurantes, muitos empresários se preparem para se adequarem as mudanças exigidas nos protocolos sanitários para a volta das atividades. Aquisição de álcool em gel, distanciamento de mesas e cadeiras, compra de estoque, treinamento de pessoal. É ampla a lista de preparos para ser obedecida até nesta terça-feira (14).

Apesar de toda movimentação animar o setor, os empresários admitem que a reabertura acontece no momento de incerteza. Isso porque muitos temem que não haja movimento e até mesmo um possível recuo das autoridades sobre o retorno das atividades de boa parte dos segmentos. De acordo com o presidente do Sindicato dos Bares e Restaurantes de Goiânia (Sindbares), Newton Emerson, pelo menos 30% dos 12 mil estabelecimentos cadastrados na capital não deverão retornar às atividades. A maioria é de pequenos estabelecimentos que não aguentaram o período de quarentena.

Apesar disso, a expectativa é boa pois, segundo ele, os estabelecimentos não serão responsáveis pelas contaminações, já que estão fechados desde o início da pandemia e que adotarão medidas mais rígidas para o funcionamento. “Sabemos que não será como antes. Mas nos preparamos para esse novo normal. É uma retomada importante, por isso teremos bastante cuidado para haver continuidade”, alegra-se.

Animação x incerteza nos bares

Fernando Celso, proprietário do Celsin & Cia, destaca que os 15 colaboradores estão desde às 7 horas da manhã fazendo todo o processo de limpeza e esterilização de móveis e utensílios após quatro meses fechados. Ele conta que um treinamento foi realizado com a equipe para adaptação e, com ajuda de uma empresa, estão fazendo todos os preparativos necessários para o retorno.

Ele conta que houve a compra de máscara, totens com pedal para o álcool em gel, viseira para garçons, termômetros para aferir temperatura de colaboradores e clientes. Além disso, as mesas deverão ser distanciadas em dois metros. Com isso, Fernando destaca que o clima de incerteza é grande e a expectativa de reabertura é como se fosse abrir um novo estabelecimento.

“Vamos funcionar com 40% da capacidade e ficamos ansiosos para saber como será esse ‘novo normal’. Antes, com 30 anos de mercado, sabíamos o que saía em cada dia da semana. Agora, não sabemos se sairá mais bebidas ou comidas. Se vai ter gente ou não. Pessoas já reservaram mesas para amanhã, mas trabalhamos com a incerteza de que também não pode vir ninguém”, pontua o empresário.

Fernando destaca que o clima também é de incerteza sobre uma possível decisão do governo em voltar atrás – o que não é descartado pelo decreto –  ou até mesmo com a concessão de uma liminar da Justiça. “Sabemos que o movimento não será o mesmo, mas no meu caso comprei cerveja, mantimentos, refrigerantes para quatro dias, até mesmo para ver como será o movimento. Para esse retorno gastamos R$ 50 mil e caso tenha uma decisão judicial, pode ocorrer perda desse estoque por causa da validade. Se a gente fechar de novo, será uma quebradeira geral”, ressalta.

O empresário recebe com empolgação a notícia de funcionamento até a meia-noite, como determina o decreto municipal, mas afirma que o horário é complicado para o movimento de final de semana. “Tá bem melhor do que estava querendo ser negociado, que era funcionar até às 22 horas. Mas pro final de semana é cedo. Pelo menos as nossas reivindicações foram atendidas. Se tivesse condição, eu não voltaria agora, mas as contas não esperam e precisamos arriscar”, afirma.

Mais flexível

Robson do Nascimento, proprietário do Birutão Bar, destaca que as medidas dos decretos poderiam ser mais flexíveis. Ele pontua que o estabelecimento não pode ser multado em R$ 4,7 mil caso o cliente não use a máscara. “Se ele está indo num bar para beber e utilizar a máscara para isso, ele nem vai sair de casa. Vai preferir beber em casa. Ele vai ficar tirando e colocando a máscara a todo momento?”, pontua.

Ele destaca que todo o estabelecimento foi adaptado com avisos. Além disso, os garçons utilizarão máscaras, álcool em gel em todo o salão e o distanciamento das mesas. “Tenho recebido ligações para reservas de mesas para amanhã. Mas e se uma pessoa vier comemorar o aniversário? Já que apenas quatro pessoas são permitidas por mesa? Nesse momento de que o governo está precisando de dinheiro, a fiscalização vai cair em cima. E não vai ser em bares de setores afastados não. Vai ser dos grandes empresários”, afirma.

Robson afirma que o prejuízo dos quatro meses sem funcionar chegou a R$ 200 mil.; Ele teve que demitir alguns funcionários e esse valor consistia no pagamento dos diretos trabalhistas. A expectativa de reaver esse valor seria com o funcionamento integral do local. Segundo ele, fechar a meia-noite é praticamento impossível para um estabelecimento que já tinha costume de encerrar atividades às 2 horas da manhã.

“Como que eu vou mandar um cliente embora que pedir uma cerveja a mais. Eu vou ter que ficar olhando o relógio quando der 22 horas. Aí passa um fiscal e o que acontece? Serei multado. Será uma faca de dois gumes”, finaliza.