Brincadeiras lúdicas podem auxiliar crianças e adolescentes com hábitos tecnológicos; Entenda
Psicopedagoga afirma que atividades são porta de acesso para interação com o mundo
Brincadeiras lúdicas podem auxiliar crianças e adolescentes com hábitos tecnológicos, isso é o que uma oficina de ioiô realizada em escolas e parques de Goiânia busca resgatar. Benefícios para relações interpessoais, concentração e criatividade são reforçadas por especialistas educacionais em Goiás.
O tatuador Thiago Dornelas de 37 anos é pai do estudante, João Pedro de 13 anos e conta que o filho é da geração tecnológica, mesmo tendo incentivado quando criança a manter os hábitos de brincadeiras. Como exemplo, o ioiô, brinquedo do qual relata ter usado em sua época de infância e juventude.
“Quando ele nasceu tinha muitos eletrônicos, mas ainda não tinha aquele ‘boom’ entre as crianças e adolescentes. Mas, ele mesmo assim não gostava, sempre comprei brinquedos, a única brincadeira que ele gostava é do jogo de tabuleiros”, conta.
“Eu brinquei com ioiô, e na época foi uma febre, inclusive muitas marcas utilizaram dessa brincadeira. Brinquei de ioiô, peão, carrinho de rolimã”, completou.
Thiago conta ainda que sua geração não tinha tantas opções. “Eu fiz parte de uma geração que não tinha muita escolha. Acho que a minha geração viveu a melhor fase dessa transição. Conseguimos nos adaptar melhor nessa questão de brincadeiras lúdicas e as tecnologias”, afirma.
Benefícios das brincadeiras lúdicas para crianças e adolescentes
O professor de Educação Física, André Luís Seabra explica que a criança ao brincar de amarelinha, de ioiô, bete, salva bandeira está construindo sua biografia de movimento.
“Ao mesmo tempo explorar a característica motivadora da ludicidade, o que implica em se manter o corpo ativo não para realizar atividades mecânicas, ou exercícios físicos sistematizados, ao contrário, quando a criança e os jovens brincam, mentalmente estão relaxados, dispostos a realizar tarefas juntos, explorar possibilidades”, afirma.
Segundo o professor, com a rotina do brincar e jogar, o Sistema Nervoso Central vai desenvolvendo sinapses, comunicações nervosas integrando formas de controle corporal.
“O crescimento físico é estimulado, a atividades física através do brincar e jogar provoca o incremento de certos hormônios no organismo, dentre estes podemos destacar o GH (o hormônio do crescimento), os músculos se fortalecem, o coração trabalha mais, se condiciona, há a diminuição na ansiedade e principalmente aumenta os vínculos de amizade”, pontua
Na avaliação do educador, o contexto da infância nos dias atuais é preocupante. “Com a biografia da motricidade sendo limitada, envolvendo basicamente a musculatura envolvida na coordenação motora fina (músculos menores), teremos crianças hábeis com os dedos e com a visão, e descoordenadas com seus membros (pernas e braços) e tronco”, alerta André Luís Seabra.
Brincadeiras desenvolvem relações interpessoais
Para a psicopedagoga Ivone Aparecida Pereira, a brincadeira estimula os aspectos cognitivos, sociais, afetivos e motores. “A brincadeira é a porta de acesso a interação com o mundo. A criança brinca para experimentar, fazer trocas, testar seus limites, assimilar regras e sobretudo, para imaginar”, afirma.
Segundo a especialista, existem crianças com quartos cheios de brinquedos e de eletrônicos que desaprenderam o jeito de brincar e de interagir. “Brincar sempre foi uma atividade importante, mais ainda nos tempos atuais em que as crianças e adolescentes estão mais tempo dentro de casa e diante das telas. Elas estão privadas também do contato físico, do afeto, das trocas e dos compartilhamentos”, destaca.
“Algo aparentemente pequeno, mas que, impactará de maneira importante na forma de relacionar-se das crianças e adolescentes do contexto atual”, completou a especialista.
Como melhorar o desenvolvimento da criança com atividades lúdicas?
A psicopedagoga Ivone Aparecida Pereira explica, que se há um contexto que não favorece as relações e as trocas afetivas, é preciso criar oportunidades de convivência.
“A criatividade é tudo. É possível encontrar diversão dentro de casa nas atividades coletivas, confeccionando brinquedos, jogos ou fazendo artesanato. A pandemia impôs a todos nós mudança de hábitos e de cuidados, mas ainda assim é possível pensar em alternativas saudáveis de convivência”, pontua.
“Nesse tempo de pouco contato físico e de muita exposição às telas, as brincadeiras ao ar livre, os jogos, os passeios em parques, o contato com os animais e com a natureza se faz fundamental. É preciso criar oportunidades de convivência segura que possibilita trocas e interações para preservar a saúde mental das crianças”, completou.
Oficina de ioiô em Goiânia
Tatiana Esguerra de 36 anos é a organizadora da oficina de ioiô ministrada por ela mesma, em escolas infantis de Goiânia e aos sábados no Parque Vaca Brava a partir das 17h.
A atividade promovida por Tatiana é gratuita e atende crianças a partir dos 6 anos até os adultos. E para brincar basta que o interessado tenha o brinquedo, no caso o ioiô.
“Sempre fui fã de ioiô e aos 10 anos me apaixonei pelo brinquedo. Comecei a treinar e fiz parte de uma equipe profissional e cheguei a ser campeã brasileira em 2012 durante um evento em Brasília. De 20 mulheres participantes em fiquei em primeiro lugar e hoje realizo essas oficinas. O ioiô exige criatividade, concentração e paciência”, conta.