ciência e natureza

Câmeras registram mais de 30 espécies de mamíferos e aves em parques de Goiás

Câmeras do projeto Bandeiras do Corredor investiga hábitos da fauna no sudeste de Goiás, em especial nos parques Pescan e Pema

Tamanduá-bandeira registrado pelas câmeras do projeto (Foto: Reprodução)

Iniciado em julho de 2023 com o objetivo de monitorar a fauna de mamíferos e aves terrestres na região sudeste de Goiás, o projeto “Bandeiras do Corredor” já identificou mais de 30 espécies em aproximadamente um ano e meio de execução. A ação, coordenada por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com a Aliança da Terra e a Semad, é desenvolvida no corredor entre os parques estaduais da Serra de Caldas Novas (Pescan) e da Mata Atlântica (Pema).

“Nós conseguimos dados tanto sobre espécies mais abundantes, quanto sobre espécies raras”, afirma a pesquisadora Alessandra Bertassoni, coordenadora do projeto. “Reunimos informações, por exemplo, sobre qual tipo de espécie está presente em cada habitat, em cada tipo de ambiente, e reforçamos o entendimento de que quanto mais preservado é o ecossistema, mais espécies viverão nele”.

Nesta campanha de campo, os pesquisadores registraram um cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) correndo, que observa curioso a câmera de monitoramento e, no instante seguinte, a marca com jato de urina. Uma irara (Eira barbara) passa em um local no dia 04 de setembro e no dia 13, outro indivíduo passa no mesmo local fazendo marcação territorial, esfregando o corpo em um tronco.

Em outro ponto de monitoramento, uma cena rara registra três iraras juntas. Diferentes câmeras capturaram imagens de tamanduás-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) com filhote de idades que variaram de semanas a alguns meses, demostrando que a espécie está garantindo sua reprodução na área de estudo. A mamãe tatu-galinha (Dasypus novemcinctus) estava caminhando com os seus quatro filhotes gêmeos, que a seguiam de perto. A mamãe gambá (Didelphis sp.) também foi capturada nos vídeos, com seus seis bebês amontoados nas suas costas e se equilibrando para não cair.

Registro de filhotes nas câmeras

Em um registro feito durante o dia, um grupo de quatis (Nasua nasua), cheio de filhotes, reúne-se em uma fonte de alimento. Os catetos (Pecari tajacu) também estavam em bando exibindo seus pequenos filhotes, de vários tamanhos. A coleção de registros com filhotes, das diferentes espécies, será usada para investigar as suas sazonalidades reprodutivas.

Catetos (Pecari tajacu) também foram flagrados se esfregando uns nos outros, comportamento que reforça o grupo social e os elos em que vivem. Outro registro de interação social foi feito com dois cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) que correm brincando e interagindo em frente da câmera. Esses registros que contêm mais de um indivíduo poderão ser usados para investigar ecologia social das espécies.

“Registramos um veado catingueiro (Subulo gouazoubira) com uma das patas dianteiras machucada, e como há registros de diferentes dias do indivíduo, sabemos que está sobrevivendo, apesar da injúria. Esse tipo de registro pode trazer luz às ameaças que os animais sofrem ali na região. Talvez esse machucado possa ser fruto de uma colisão veicular, por exemplo”, complementa Bertassoni.

Parte da dieta alimentar de algumas espécies está sob verificação. Há registros de diferentes câmeras onde cachorros-do-mato (Cerdocyon thous) predaram uma ave grande e anfíbios. O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) foi capturado bebendo água de dia e em outra câmera, em um momento íntimo, defecando. Já o udu-de-coroa-azul (Momotus momota) estava predando uma cigarra e finalizando a sua presa. Com toda sua beleza, o gavião-preto (Buteogallus urubitinga) também apareceu para dar o ar da sua graça. E essa é a primeira vez que o Projeto Bandeiras no Corredor registra a espécie nas câmeras. Outro registro novo foi o tatu-de-rabo-mole (Cabassous sp) que estava cavando sua toca perto da câmera.

O monitoramento da fauna na região abre diversas possibilidades de investigação cientifíca, aumentando o conhecimento sobre as espécies e entendendo melhor sua ecologia e comportamento. Esse é o primeiro projeto a monitorar a fauna nesta região tão importante, que abarca os dois diferentes biomas goianos.