Esperança

Caso Goyases: Médicos ainda avaliam possibilidade de Isadora voltar a andar

A adolescente Isadora de Morais Santos, de 14 anos, uma das vítimas do tiroteio do…

A adolescente Isadora de Morais Santos, de 14 anos, uma das vítimas do tiroteio do Colégio Goyases, fará um longo tratamento no Centro de Reabilitação Dr. Henrique Santillo (Crer). A adolescente ficou paraplégica após um dos três tiros que a atingiu passar entre a nona e a décima vértebra torácica e atingir a medula.

O anúncio sobre o tratamento de Isadora foi feito nesta segunda-feira (13) pelo diretor da unidade e ortopedista, Válney Luís da Rocha. O médico destacou que Isadora não teve lesão na coluna e, por isso, não foi necessário intervenção cirúrgica. Pelo fato de ter ficado paraplégica, Isadora desenvolveu um quadro de infecção urinária, em que teve febre. Ela precisou utilizar uma sonda durante o tratamento com antibióticos, que já foi retirada e alterada por uma sonda vesical intermitente.

“Todo paciente que teve lesão medular acaba perdendo o controle da bexiga. Isso cria a necessidade de utilizar uma sonda. Como ela ficou 20 dias internada, isso é comum que aconteça. Agora, a sonda vesical esvazia o volume da bexiga a cada quatro horas”, destaca o médico. Válney ressalta que a jovem não apresenta dificuldade para ingestão de alimentos. “Ela come normalmente, sem a necessidade de nenhum auxílio para deglutição e a condição do seu sistema digestivo está adequada”, explica o médico.

Crer

O tratamento da adolescente deve durar pelo menos um ano, segundo o diretor. Ele explica que Isadora ficará de 30 a 40 dias internada. Após seis meses, ela realizará tratamento de fisioterapia na academia do Crer para progredir em cada etapa do recurso terapêutico. O projétil ainda está alojado na medula, mas não houve alteração no quadro clinico da jovem, por isso, a cirurgia para a retirada da bala do local também não foi tida como necessária. “Isadora perdeu a sensibilidade da região umbilical, dos dois membros inferiores, do quadril, do joelho e do pé. Os membros inferiores estão flácidos, totalmente balantes”, relata o médico.

De acordo com o Válney, ainda não é possível dizer se Isadora voltará a andar. Após as primeiras semanas, diz o médico, será possível observar os resultados e a evolução do tratamento. O ortopedista destaca que amigos e familiares devem comemorar cada conquista alcançada durante o processo. “A Isadora se mostrou bastante tranquila, mas um pouco apreensiva. É de extrema importância a participação dos pais e amigos durante o tempo de tratamento e após a alta, já que ambos necessitam estar preparados para receber a adolescente e até ajudar na continuidade do tratamento”, explica o diretor.

Pais

A mãe da adolescente, Isabel Rosa dos Santos, ficou bastante emocionada durante toda a coletiva de imprensa desta segunda. Ela diz estar confiante no tratamento e na possibilidade de a filha voltar a andar. Isabel disse que tem contado com a solidariedade de várias pessoas, desde funcionários dos hospitais até desconhecidos. “A gente fica angustiado, pois não se espera que isso venha acontecer com nossos filhos, mas eu acredito no tratamento e que ela possa vir a dar os primeiros novos passos. Buscamos muita força em Deus e muitas pessoas têm nos ajudado, dentre amigos e pessoas de fora, e isso fez com o que nunca nos sentíssemos sozinhos”, destaca a mãe.

Isabel conta que a filha está em um momento de altos e baixos. A mãe afirma que a Isadora tem pesadelos com o atirador e se questiona como ficou paraplégica. Em outros momentos, conta Isabel, a menina se mostra motivada com o tratamento e quer fazer o possível para voltar a andar. “Isso é normal! Ela só tem 14 anos. Tinha uma vida inteira pela frente e agora ela vai ter que se readaptar a esse novo mundo. Ela sempre diz que terá que andar de rodinha, mas acredito que ela vai se sobressair, pois a Isadora é muito forte”, fala Isabel.

Os pais estão realizando um revezamento enquanto a Isadora está internada na unidade. Segundo eles, a adolescente mantém contatos com os amigos pelo celular, no entanto somente os parentes mais próximos foram liberados para visitá-la. “A família é muito grande de ambos os lados e preferimos dar a preferência a eles, já que só podem entrar quatro pessoas por dia. Em um outro momento os amigos poderão vir para matar a saudade”, relata a Isabel.

Movimentação pela segurança

Diante de recentes casos de violência dentro do ambiente escolar, Isabel e parentes de outras vítimas da tragédia no Colégio Goyases se reuniram e farão uma Audiência Pública nesta sexta-feira (17), às 13h30, no auditório da Assembleia Legislativa. O intuito da reunião é levantar um questionamento sobre o que pode ser feito em relação a segurança dentro das escolas. Isabel conta que não se pode justificar o crime no fator bullying. Para ela, os pais também têm que estar presentes e saber mais sobre a vida de seus filhos no âmbito da educação.

“Eu também sou educadora e quero levantar essa discussão. Nenhuma família deve passar pelo o que a minha está passando ou pelo o que a família dos adolescentes mortos estão passando. Hoje os pais querem passar a obrigação da educação somente para a escola. Dentro de casa tem que ter conversa, diálogo. Minha filha estava tomando morfina para aliviar a dor e a gente não podendo fazer nada. Eu posso ajudar minha filha desta forma e irei fazer”, desabafa a mãe.

Pais buscam levantar debate sobre segurança nas escolas (Foto: João Paulo Alexandre/Mais Goiás)

Crime

No dia 20 de outubro, um adolescente de 14 anos abriu fogo na sala da turma do oitavo ano do Colégio Goyazes, localizado no Conjunto Riviera, em Goiânia. Dois adolescentes, João Vitor Gomes e João Pedro Calembo, 12 e 13 anos respectivamente, morreram na hora. Isadora e mais três adolescente ficaram feridos. Três foram levados para o Hospital de Urgência de Goiânia (Hugo) e uma vítima foi encaminhada para o Hospital dos Acidentados.

O autor dos disparos foi ouvido pelo titular da Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais (Depai), Luiz Gonzaga Junior, e disse que pegou a arma de trabalho da mãe e disparou contra os colegas porque era vítima de bullying. Os pais do adolescente são policiais militares.

O adolescente foi contido por uma coordenadora da instituição no momento em que o menino recarregava a arma com um novo cartucho. No dia 21 de outubro, a juíza plantonista Mônica Cézar Moreno Senhorello acatou o pedido do promotor de Justiça do Ministério Público de Goiás (MP-GO), Cássio Sousa Lima, de internar, provisoriamente, o jovem por 45 dias.

O prazo é o estimado para a conclusão do processo e a decisão da Justiça. Só ao fim do processo, virá uma decisão definitiva. A internação máxima, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, é de três anos.

 

Estudante que atirou em colegas sofria bullying na escola pela suposta falta de higiene. (Foto: Divulgação)

*João Paulo Alexandre é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo.