PEDIDO DE AJUDA

Catadora tenta trocar produtos de beleza por ovos e salsicha para os filhos em Aparecida

A catadora de Aparecida de Goiânia revela uma rotina difícil na qual carne na refeição só é realidade com doações ou achada em bom estado no

Nesta semana, uma postagem com pedido de ajuda chamou atenção nas redes sociais. Em um ato de desespero, a catadora de material reciclável Ivanice Oliveira, de 35 anos, publicou no Instagram a oferta de troca de produtos de beleza, que seriam rifados para custear o tratamento de saúde da filha, por alimentos como cuscuz, ovos e salsicha para os filhos. Ao Mais Goiás, a moradora de Aparecida de Goiânia revela uma rotina difícil na qual carne na refeição só é realidade com doações ou achada em bom estado no lixo.

Ivanice vive com o companheiro, de 40 anos, sua enteada, de 16, e os quatro filhos, de 2, 4, 8 e 9 anos numa casa alugada no Parque Primavera. Natural do Pernambuco, ela ajuda como pode o companheiro no trabalho de catador de material reciclável. No entanto, a mulher revela que seu sonho mesmo é ter seu próprio carrinho de coleta. “Eu poderia fazer essa ruas próximas aqui, onde o povo deixa muita coisa. Tinha que ser um carrinho médio, porque grande eu não consigo puxar”.

Em meses bons, Ivanice e o marido conseguem fazer até R$ 1 mil com o trabalho. Em outros, o valor obtido com a venda de latinhas, papelão e outros recicláveis varia entre R$ 500 e R$ 600 – esse valor para despesas com o aluguel, água, luz e comida para sete pessoas, o que acaba virando uma missão impossível. Ivanice conta que fica tranquila quando tem ovo, cuscuz e salsicha, que é o que os filhos mais comem. Carne, apenas em ocasiões excepcionais.

Em meses bons, Ivanice e o marido tiram em torno de $R 1 mil com a coleta de material reciclável, valor dividido para sete pessoas (Foto: Arquivo pessoal)

“A gente não compra carne, é muito caro. Quando consigo comprar é carne moída, que faço no macarrão”, afirma. De acordo com ela, antes era possível achar “coisas boas” no lixo, que eram possíveis de aproveitar. Mas agora, é raro. “Uma vez achei um frango inteirinho congelado numa caixa. Eu comentei que a pessoa deve ter ficado com preguiça de fazer”, recorda. No natal do ano passado, Ivanice relata que o marido encontrou uma peça inteira de cupim no lixo. “Mas não deu pra aproveitar, porque tinha pedaço de papel higiênico grudado. Aí demos pro cachorro”.

Produtos de beleza em troca de alimento

Ivanice relata que uma das filhas, a de 9 anos, sofre com leucoma, que é quando a córnea dos olhos é atingida por um problema de opacidade. A menina já foi submetida a uma cirurgia, mas o problema persistiu. Agora, ela aguarda na fila do transplante, o que segundo Ivanice “já está encaminhado”.

No entanto, os cuidados com os olhos da menina precisam ser rigorosos até o procedimento médico. O tratamento envolve o uso diário de dois tipos de colírio: Hyabak e Patanol S. Os colírios, cujo valor somado passa de R$ 100, às vezes não chegam a durar 20 dias. A mulher teve a ideia de começar a fazer rifas de produtos de beleza, como cremes e sabonetes para custear os itens da filha. Porém, a necessidade por comida falou mais alto.

Devido à falta de alimentos em casa, Ivanice publicou no Instagram um pedido de ajuda no qual oferece os produtos em troca de alimentos como cuscuz, ovos e salsicha. “Também aceito doações de materiais recicláveis: papel, plástico e metais”. A postagem acompanha o endereço Pix da catadora para possíveis doações (059.431.524-74), e seu número de telefone.

Foto: Instagram

Ao Mais Goiás, Ivanice diz que chegou a apagar a publicação após receber críticas, mas publicou novamente depois. “Teve uma pessoa que me criticou, fui muito humilhada. Mas aí mandei a postagem pra uma pessoa, e ela disse que não tinha nada demais. Então postei de novo”. Ela afirma já ter recebido vários doações. “Meus amigos, passando pra agradecer. Primeiro a Deus e a todos vocês que ajudaram, compartilhando ou doando. Meu coração está pulando de alegria”, escreveu no Instagram.

No entanto, o objetivo da catadora ainda é realizar seu sonho: um carrinho de médio porte para ajudar o marido no trabalho, que tem conseguido pouco material reciclável em decorrência das chuvas. À reportagem, ela revela sua expectativa. “Deus podia abençoar de eu conseguir esse carrinho. Queria muito”, conclui.