TRADIÇÃO

Catira está desvalorizada em Goiás, avalia catireiro

Grupo "Os Filhos de Aparecida" tem apoio municipal, mas falta incentivo para outros catireiros de Goiás

Grupo de catira Os Filhos de Aparecida (Foto Fabiano Araújo)

O servidor público Rafhael Milhomem, membro do grupo “Os Filhos de Aparecida” desde 1999, sente que seu grupo é privilegiado por contar com o apoio da Prefeitura de Aparecida de Goiânia. No entanto, segundo ele, a situação não é a mesma para outros grupos do estado. “Considerando o cenário como um todo, a catira está desvalorizada e sem investimento. Como reflexo disso, vários grupos que existiam acabaram”, opina.

Criado na catira desde que nasceu, Rafhael recorda que, anteriormente, os encontros anuais contavam com diversos grupos de todo o estado de Goiás para uma grande festa. Segundo ele, atualmente, o número de participantes reduziu significativamente e por isso, a cultura merece apoio e credibilidade. “A catira é uma prova de brasilidade, como diz o nosso violeiro Nilo de Jesus Coelho. É uma cultura linda e maravilhosa que, por onde passa, deixa o povo feliz. Por isso, ela merece destaque e apoio”, defende.

Para manter a cultura viva e atrair novos praticantes, os integrantes do grupo “Os Filhos de Aparecida” criaram o projeto “Catira na Escola”. O projeto é realizado nas escolas municipais de Aparecida de Goiânia, levando aulas da modalidade para os estudantes da rede pública. “É uma forma de manter essa tradição viva. O projeto é lindo e já atinge mais de 500 crianças”, revela Rafhael.

O servidor público acredita que é possível ver a tradição em alta novamente, mas para isso, é necessário apoio e investimento por parte do setor público e privado, para os diversos grupos existentes em todo o estado.

Tradição familiar premiada

Fundado por Nilmari Alves Siqueira, avó de Rafhael Milhomem, o grupo “Os Filhos de Aparecida” foi campeão no Festival Nacional de Catira, realizado em 2010, na cidade de Uberaba (MG). No mesmo evento, os integrantes foram convidados a participar de um documentário, o “Catira: uma tradição de 450 anos”, produzido pela Fundação Cultural de Uberaba/MG (FCU), em 2013.

Além dos festivais e encontros de catira, o grupo se apresenta durante todo o ano em diversos tipos de festividades, levando a cultura popular para várias regiões do estado e do país. “Eu costumo dizer que, conversando direito, nos apresentamos até em velório, e isso já aconteceu. Geralmente, as apresentações são feitas em eventos públicos e privados, eventos no interior, clubes e outros lugares”, conta Rafhael.

João Brito de Oliveira Filho, criado entre catireiros e um dos pioneiros do grupo “Os Filhos de Aparecida”, acredita que a prática deve ser perpetuada. “Para mim, a catira é como um esporte. Não existe diferença. Tanto pela convivência coletiva quanto pelo desenvolvimento do corpo e da mente”, relata.

A catira

A forma de expressão cultural é bastante conhecida no Centro-Oeste brasileiro. Sua origem é constantemente debatida por praticantes, pesquisadores e admiradores. Os estudos indicam que a dança é resultado de uma mistura de diferentes povos e culturas. A hipótese mais aceita é que a dança carrega influências europeias, indígenas e africanas, misturadas e incrementadas com a cultura caipira tipicamente brasileira.

Como parte importante da cultura sertaneja e caipira, a catira se tornou uma forma de diversão e entretenimento para os trabalhadores do campo, como boiadeiros e lavradores. Com o uso das palmas das mãos e dos pés seguindo a melodia da viola, a cultura sobrevive graças às famílias, que passam a catira de geração em geração.