A cidade que ninguém vê

Cerca de 450 pessoas vivem em situação de rua em Goiânia

A Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) de Goiânia anunciou, na última semana, que cerca…

A Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) de Goiânia anunciou, na última semana, que cerca de 450 pessoas vivem em situação de rua na capital. Em entrevista ao Mais Goiás, o secretario responsável pela pasta, Robson Azevedo, disse que a quantidade de pessoas que vivem nas ruas aumentou muito nos últimos anos.

“Estamos intensificando as abordagens às pessoas que vivem em situação de rua aqui em Goiânia. Queremos conscientizá-las de que precisam de ajuda. Nós oferecemos acolhimento, atendimentos apropriados e, inclusive, encaminhamos a um abrigo aquelas que quiserem sair das ruas”, explica.

Segundo informações da pasta, a abordagem é realizada por equipes da Especializada de Abordagem Social (Seas) compostas por psicólogos, assistentes sociais e educadores sociais. A permanência dessas pessoas nas ruas preocupa a prefeitura e, por isso, os agentes buscam conscientizá-las da necessidade de receber ajuda.

“A Semas tem dois abrigos que estão à disposição. Aqueles que apresentam interesse em serem acolhidos e não possuem problemas de saúde são encaminhados para a Casa de Acolhida. Já as pessoas que desejam ser auxiliadas, mas não têm interesse de sair das ruas, são conduzidas ao Centro Pop. Lá eles podem tomar banho, lavar as roupas, etc.”, conta.

Segundo o secretário, aqueles que querem sair das ruas e desejam mudar a sua história são levados para unidades terapêuticas. Uma das maiores preocupações da prefeitura é a falta de documentação pessoal dessas pessoas.

“Muitas pessoas que vivem em condição de rua não possuem documentos pessoais ou os perderam. Nós estamos desenvolvendo um projeto em parceria com as polícias Civil e Militar para identificar esses indivíduos e proporcionar mais dignidade a elas. Decidimos pedir apoio à polícia pelo fato de, as vezes, sermos recebidos de maneira hostil pela população de rua quando nossa intenção é apenas conversar”, informa.

A intenção do projeto, segundo Robson, é aprimorar as ações de conscientização realizadas por agentes da Semas. O principal objetivo é combater os núcleos chamados de cracolândia e trabalhar em proteção de vida dessa população. Também participarão da iniciativa a Defensoria Pública e o Ministério Público para preservar a vida dessas pessoas sem ferir os seus direitos.

Pastoral de rua

Dezenas de voluntários, sensibilizados com o sofrimento dessas pessoas, semanalmente se organizam e saem às ruas da cidade levando não apenas alimento, mas também conforto e atenção aos necessitados. É o caso da Pastoral de Rua do Santuário Sagrada Família, situada na Vila Nova Canaã, região Central de Goiânia.

Ao Mais Goiás, um dos coordenadores de missões da Pastoral de Rua, Júnior Santos, contou que a organização possui duas equipes atuando nos Setores Campinas e Centro, em todas as terças-feiras e sextas-feiras do ano. Durante as ações sociais, os voluntários entregam refeições e roupas para aproximadamente 250 pessoas que vivem em condição de rua.

“Nossa iniciativa vive de doações, desde o gás para preparar os alimentos até as roupas. Nós vamos atrás dessa população, oferecemos o alimento e pregamos a palavra de Deus. Caso essas pessoas tenham interesse de sair das ruas e mudar de realidade, nós as encaminhamos para as instituições responsáveis”, declara.

Segundo Júnior, essa população vive em condições realmente precárias. “Muitos dos que estão nas ruas vivem sem nada. Às vezes, uma pessoa é esfaqueada porque tem um papelão para dormir e o outro não”, conta.

Para o coordenador, a maior dificuldade está em obter vagas em casas de recuperação para aqueles que desejam mudar de condição. Grande parte dessas instituições têm custo muito elevado e as opções gratuitas são poucas e muito concorridas.

Banho Sagrado

Uma das iniciativas desenvolvidas pela Pastoral de Rua é o Banho Sagrado, que tem por objetivo proporcionar à população de rua banhos periódicos. A ação foi pensada pelos próprios membros da organização. O projeto foi criado com base em ações semelhantes praticadas por outros estados, mas aperfeiçoado e moldado para a realidade da capital.

Segundo a Pastoral, o projeto é construir um banheiro móvel com uma repartição para homens e outra para mulheres. Até agora já foi instalada a caixa d’água na estrutura de uma carretinha que será usada para a levar água aos chuveiros e lavabo. Antes de ser colocado à disposição da população, o banheiro ainda precisa receber a instalação hidráulica, elétrica, a bomba d’água e o acabamento.

A intenção é levar a estrutura duas vezes por semana até às pessoas para proporcionar a elas as devidas condições de se higienizar. O valor total estimado para construir o banheiro é de R$ 18 mil. A previsão é que a estrutura esteja pronta no dia 18 de abril de 2019.

(Foto: Reprodução/PUC TV)

*Thaynara da Cunha é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo