Meio ambiente

Cerrado: especialistas alertam para a destruição

Antes de o processo de devastação começar, o bioma era o segundo maior do Brasil em extensão territorial, perdendo apenas para a Amazônia

A porcentagem de destruição do Cerrado pode chegar a 85%. Este número não representa um consenso entre os estudiosos da área, mas a preocupação em relação ao bioma foi tema de diversas discussões ao longo da última semana, quando comemorou-se o Dia do Cerrado (11/09).

Fundador do memorial do Cerrado e do Instituto do Trópico Subúmido, o professor Altair Sales Barbosa lembra que o número é uma estimativa pois, como explica o professor, o Cerrado é um sistema biogeográfico formado por diversos outros subsistemas. Para ter um número exato, seria preciso investigar o nível de devastação de cada um desses subsistemas.

Antes de se iniciar o processo de devastação, o Cerrado era o segundo maior bioma brasileiro em extensão territorial, perdendo apenas para a Amazônia. “É uma taxa de desmatamento muito superior à taxa de desmatamento da Amazônia se a gente for comparar em proporção, e muito mais rápida do que aconteceu com a Mata Atlântica. Porque o desmatamento [da Mata Atlântica] foi em 500 anos da colonização do Brasil e a do Cerrado foi em 50 anos”, explica a professora do Instituto de Estudos Socioambientais da UFG, Ana Paula de Oliveira.

O problema começou com a implantação de um regime agropecuário nas regiões de Cerrado, que foram consideradas frentes de expansão econômica no Brasil a partir do século XX. Sobretudo durante a chamada Marcha para o Oeste, a expansão do cultivo de terras criado pelo governo Vargas e que se estendeu pelos Estados do Centro Oeste.

“(A implantação da agropecuária) baseava-se na retirada da cobertura vegetal nativa e no seu lugar se implantava um tipo qualquer de vegetação exótica visando a exportação de commodities”, esclarece Altair. Essa vegetação, na maior parte das vezes, consiste em espécies do tipo braquiárias, como o capim plantado para o gado.

Ana Paula esclarece que esse tipo de vegetação dificulta a recuperação da parte do bioma que já foi destruída. Além disso, Altair complementa que o Cerrado é um ambiente que já atingiu seu nível máximo de especialização, o que significa que já “evoluiu” de todos os modos possíveis, por isso sua recuperação é tão delicada.

Para os especialistas, um outro fator dificulta ainda mais a conservação do que resta do Cerrado é o descaso dos órgãos  ambientais. Os professores entram em um consenso de que muito pouco tem sido feito pelo bioma. Altair explica que, na contramão da preservação, o Projeto Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piaui e Bahia), quer reduzir ainda mais a área de preservação ambiental. “Esse projeto está sendo implantado agora na Chapada das Mangabeiras (Jalapão, Tocantins) aonde corre o Rio Parnaíba. Neste local vai ser implantado um projeto para plantação de plantas exóticas como soja e outros grãos”, pontua.

Berço das águas

O Cerrado também tem registrado uma perda grande no que diz respeito aos recursos hídricos. E isso, segundo Ana Paula, afeta as regiões cortadas por esse bioma, que agonizam com a falta de água, sobretudo Goiânia e Brasília e suas regiões metropolitanas.

“O Cerrado guarda nas suas rochas sedimentares os três maiores aquíferos (aquíferos são os alimentadores das águas do brasil), Urucuia, Bambuí e Aquífero Guarani, que distribuem águas para as bacias Amazônica, do São Francisco, do Paraná, Parnaíba e outros rios importantes que desaguam no litoral”, conta Altair.

Além disso, essas águas são responsáveis por manter os animais típicos do cerrado. O professor estima que 99% das espécies nativas já estejam em extinção.

No caso das águas, a produção agropecuária também é um dos grandes vilões. “Houve um aumento no consumo de água principalmente por parte da agricultura a gente vai ver que na região do cerrado foi onde se desenvolveu grande numero de pivôs centrais

Sobre o Projeto Matopiba, Altair explica que o mesmo também vai acarretar danos ao regime hídrico do cerrado. “As águas dos dos rios estão sendo desviadas em tubulações imensas para regar sistemas agrícolas, sistemas de plantação. a maioria dos rios do cerrado esta secando por conta do desvio de suas águas principais para irrigação”.

 

Amanda Sales é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo