Cinco hidrelétricas que abastecem Goiás correm risco de colapso, diz estudo
Ambientalista diz que desmatamento do Cerrado agrava crise hídrica no Estado
Projeção da Operadora Nacional do Sistema Elétrico (ONS) aponta que pelo menos oito grandes usinas hidrelétricas no Centro-Sul do Brasil devem ficar com seus reservatórios perto do colapso total até 30 de novembro, fim do período de estiagem. O relatório aponta que as represas de Furnas, Nova Ponte, Itumbiara, Emborcação e São Simão (que ficam em Goiás) esgotarão seus volumes úteis antes do recomeço das chuvas. Ambientalista alerta que desmatamento do Cerrado aprofunda crise hídrica no Estado.
Segundo levantamento da ONS, o volume útil de Serra da Mesta está 36,93%, nesta segunda-feira (7), responsável por 43,06% do subsistema Tocantins. Já o de Itumbiara está com volume atual de 12,88% e é responsável por 7,68% do subsistema do Parnaíba.
“Considerando-se as previsões de afluência obtidas com a chuva de 2020, prevê-se a perda do controle hidráulico de reservatórios da bacia do rio Paraná no segundo semestre de 2021. A perda do controle hidráulico na bacia do Paraná implicaria em restrições no atendimento energético nos subsistemas Sul e Sudeste/Centro-Oeste”, alerta a ONS na nota técnica.
Desmatamento
O presidente da Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente (Arca), Gerson de Souza, aponta que há dois contextos de crise hídrica a serem debatidos: em relação a abestecimento de água e para o fornecimento de energia elétrica. Para ele, esse agravamento tem relação direta com a ação humana e aponta como preocupante o contexto da crise e irreversível o desmatamento no Cerrado.
Gerson de Souza afirma que a crise de abastecimento de energia vem com a antecipação do agravamento da seca para agosto. O ambientalista afirma que os indícios de agravamento da seca aparecem em Goiás já há quatro meses do fim da estação chuvosa. Ele aponta que já não chega aos resevatórios água suficiente tanto para abastecimento, quanto para a geração de energia.
“No Cerrado temos um radical processo de desmatamento que nunca parou e é impossível de ser revertido. Esse reflorestamento de Cerrado estrito senso como os campos sujos, das gramíneas, das pequenas árvores retorcidas, é difícil. Pois são plantas não domesticadas, que vivem muito tempo e estão no topo de escala de evolução, de especialização biológica, e precisam de condições espefícias para vingar”, aponta.
Vegetação
A vegetação do Cerrado em pé tem função essencial para a manutenção do regime das águas. O ambientalista explica que arvoredos típicos do bioma têm raízes muito profundas, o que facilita a entrada de água no solo, formando um lençol muito rico, que verte aos poucos durante o ano inteiro, nas nascentes. Assim, o Cerrado é muito rico em nascentes e em cursos de água perenes, em que quase não há rios intermitentes, como acontece na Caatinga.
No entanto, o Cerrado é geologicamente muito antigo, por isso há a tendência de ter o terreno plano. O que facilita o processo de mecanização do campo, com uso de plantedeiras e colhedeiras, e consequente desmatamento. Quando a fronteira agrícola chegou ao Cerrado para produção, os goianos desmataram para fazer plantações extensivas, especiamente com a entrada da soja na década de 1980.
“Com o desmatamento, a água não infiltra nos lençois freáticos, corre rapidamente pela terra, aumentando assoreamento nos rios, preenchendo os rios de terra. Ficando a água superficial. Ao mesmo tempo em que, ao não infiltrar, não recarrega os lençóis freáticos. Estamos já vendo esse processo com efeitos muito radiacais, com nascentes parando de verter água, devido ao empobrecimento dos lençóis. Os rio perdem a sua quantidade de água, tanto pelo assoreamento quanto pela falta de lençóis freáticos”, explica.
O ambientalista considera o cenário pior possível e a reação dos governos e da sociedade são pontuais, sobretudo quando a crise já se agrava.