Esquema de Pirâmide

Com protelação de repasses, investidores acusam empresa de golpe de mais de R$ 80 milhões

A empresa All Invest, em Goiânia, que deveria investir na Bolsa e repassar lucros aos…

A empresa All Invest, em Goiânia, que deveria investir na Bolsa e repassar lucros aos clientes, já teria lesado mais de 800 pessoas, segundo investidores que procuraram o Mais Goiás. E pelo constante atraso no cumprimento das obrigações financeiras, já se fala em um suposto esquema de fraude. Segundo uma das fontes, que referiu não se identificar, os prejuízos já ultrapassariam a casa dos R$ 80 milhões entre os clientes da companhia. E ainda diz que, há mais de sete meses, a companhia, que se apresenta como uma consultoria, protela o repasse de rendimentos com adiamentos semanais, por meio de notas. O texto mais recente promete o depósito para esta terça-feira (7). Mas a promessa já se repetiu inúmeras vezes.

Os clientes depositavam quantias para serem administradas pela instituição e, em seguida, receberiam retornos financeiros, no esquema popularmente chamado “pirâmide”. “Tenho hoje, líquido, depositado na empresa pelo menos R$ 130 mil”, revela a advogada mineira de Pouso Alegre, Ana Carolina da Mota Pais. A jurista já mobiliza ação contra a All Invest, com outros credores. “Com juros e cumprimento dos contratos, sem as correções pós vencimento do contrato, R$ 192.800 para receber.”

Ela explica que chegou à companhia por intermédio de um amigo, em fevereiro de 2019. Depois de algumas pesquisas, resolveu investir, e o primeiro acordo foi cumprido. Porém, depois de renovar os investimentos, ela parou de receber como os demais. Desde de 2 de maio do ano passado.

“Mais tarde descobri que a empresa não tinha inscrição na CVM (comissão de Valores Mobiliários), nem autorização para fazer transações na bolsa de valores, enfim, estava irregular”, relatou.

Conversa de WhatsApp

Segundo ela, nem mesmo um acordo feito em juízo com uma credora foi cumprido. Inclusive, em uma das conversas que a advogada teve em julho passado, ela questiona um cheque sem fundo e a ausência de depósito na conta. A consultora que a atendia alega erro na assinatura do titulo executivo, mas também mudanças na forma de pagamento, além de pedir 20 dias úteis para a quitação.

Clique AQUI e leia na íntegra a conversa entre as duas.

Mais denúncias

Segundo uma das fontes, ele teria investido R$ 5 mil, sem retorno. “A empresa dizia trabalhar com bolsa de valores. Já existe denúncia na Polícia Civil, mas nada acontece há mais de sete meses”, relata. O homem ainda afirma que existem casos, também, no Pará, São Paulo e outros Estados.

Conforme o entrevistado, a empresa promete atuar como uma espécie de bolsa de valores. Os clientes investem dinheiro e receberiam mensalmente o valor do lucro. Porém, desde maio não há retorno, apenas promessas.

Contato

No site oficial da empresa, cujo CNPJ aponta localização na Av. T-9, está descrito: “Somos uma empresa de consultoria especializada em gestão empresarial, de negócios e gestão pessoal. Com uma equipe de vasta experiência no mercado internacional, prestando serviços para empresas e pessoas físicas oferecendo credibilidade, profissionalismo e segurança. São mais de 5.000 clientes já atendidos, com resultados expressivos.”

Apesar disso, o denunciante relata não haver mais local para atendimento físico. “A empresa não tem nem escritório, só dão informações pelo site. A empresa prometia retorno sobre os lucros. Eles vêm nos enrolando desde maio, com pagamentos atrasados. Mas o contrato no nome do meu amigo, a família investiu tudo junto: quase R$ 600 mil.” A fonte diz que conheceu a All Invest por meio de um amigo.

Questionado sobre o contato na empresa, declarou: “Único contato que tenho da empresa é uma consultora. Ela toda semana manda notas com falsas promessas de pagamento desde maio sempre adiando.”

Prints

O entrevistado que não quis se identificar também tem conversas com a consultora. Em 19 de novembro, ele pergunta se a quitação será efetuada na data, e recebe a resposta de que pode cair a qualquer momento do dia – o que não acontece.

Em 6 de dezembro, ele pergunta se há previsão de pagamento para o dia 10, o que é confirmado pela mulher. Mas ele afirma que também não foi feito. No dia 24, pede por novidades. E é respondido: “Por conta do expediente bancário reduzido na véspera de Natal, e no feriado de Natal, os pagamentos serão compensados quinta-feira, dia 26.”

Diálogo entre uma fonte e um consultor pelo Whats App

Já no dia 26, a consultora avisa: “Olá o prazo para compensação dos pagamentos está para os próximos dias úteis, tendo como prazo máximo sexta-feira dia 3.”

Nesta sexta-feira (3), outra nota: “Olá o prazo para compensação dos pagamentos está para os próximos dias úteis tendo como prazo máximo terça-feira dia 07/01. Qualquer informação extra vinda de terceiros não vinculado a all invest não procede com a verdade, favor desconsiderar.”

Cheque sem fundo

Outra fonte, que também pediu para ficar anônima, disse ter investido R$ 200 mil. “Meu sócio colocou mais de R$ 100 mil.” Ele ainda citou conhecer pessoas que colocaram R$ 1 milhão.

De acordo com ele, a empresa só envia notas informativas, sempre dizendo que devem pagar logo. Assim como a advogada, o homem alega que também recebeu cheque sem fundos. E diz que valor do cheque é de cerca de R$ 609 mil. Referente a um montante do investimento dele, do sócio e de familiares. “É uma esquema de pirâmide. Não sei como não estão presos.”

Cheque devolvido, segundo uma outra fonte

 

Destaque negativo

Vale destacar que a All Invest também constou na lista do Portal do Bitcoin, feito no fim do ano passado, como uma das empresas que mais deu prejuízo aos brasileiros em 2019.

No texto, o site escreve: “Sediada em Goiânia, a All Invest dizia operar com investimentos na Bolsa de Valores. Seu lance mais conhecido foi o calote de R$ 7 milhões que deu na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) após patrocinar a Copa Verde, no começo de 2019. A empresa, que desde agosto é alvo de reclamações por atrasos em pagamentos, também está na mira do Ministério Público de Goiás por suspeita de ser pirâmide financeira.”

Posicionamentos

A Polícia Civil foi procurada pela nossa equipe. A comunicação oficial informou que, de fato, existe um inquérito na Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor do Estado de Goiás (Decon), mas que segue em sigilo. Por isso, não foram repassados mais detalhes.

O Mais Goiás tentou contato com a consultora citada pela primeira fonte, mas ela disse que não poderia se posicionar. Segundo a mulher, a empresa encaminharia uma nota oficial. O contato foi feito na quinta-feira (2) e até a publicação da matéria não houve posicionamento oficial. O Portal também ligou no telefone disponibilizado pelo site da All Invest (62 3636-5369), mas o número nem mesmo chamou.

A advogada Ana Carolina da Mota Pais, com quem falamos no começo da matéria, também alegou dificuldades em manter contato com a empresa nos últimos meses.