Com salários atrasados, professores da rede estadual podem paralisar atividades
Cerca de 200 profissionais da rede estadual de Educação realizaram protesto na manhã desta sexta-feira…
Cerca de 200 profissionais da rede estadual de Educação realizaram protesto na manhã desta sexta-feira (11) na Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte (Seduce). Os servidores reivindicam o pagamento do salário do mês de dezembro e, em assembleia realizada no local, eles deliberaram para a paralisação das atividades caso o Governo de Goiás não regularize os vencimentos. A decisão, contudo, foi feita a revelia do principal sindicato da categoria.
“Não vamos conseguir voltar para o colégio por dificuldade financeira mesmo. Como voltar sem condições de transporte? O professor ainda recebe um pouquinho mais, mas e o pessoal do administrativo e as merendeiras, que tem salário bem menor? Não tem como voltar”, explica o professor Thiago Martins.
Os professores, assim como grande parte do funcionalismo estadual, não receberam o salário referente ao mês de dezembro do ano passado. Ronaldo Caiado (DEM) culpa a gestão anterior que, segundo ele, entregou o Estado sem dinheiro para cumprir essa e outras obrigações. Já o antecessor, José Eliton (PSDB), diz que deixou o governo com recursos financeiros para iniciar o pagamento da folha de dezembro e ressaltou que há mais de R$ 100 milhões em caixa oriundos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).
A falta de clareza em relação às contas públicas foi uma das principais reivindicações do grupo. “Estamos revirando as contas do Estado porque as falas do Caiado e da secretária são muito genéricas. Nós precisamos de dados mais detalhados, mais fundamentados. Precisamos saber da verba do Fundeb, por exemplo”, ressalta o professor Sérgio Inácio.
Para amenizar a crise, Caiado solicitou ontem que prefeitos negociem com comerciantes para que eles vendam ‘fiado’ aos servidores estaduais até que os salários de dezembro sejam pagos. A proposta gerou indignação na categoria.
“Nós não estamos no século 19. Onde a gente tem a confiança do dono do mercado para vender fiado? Então como a gente vai fazer? Não é só comida e remédio. A gente tem água, luz, internet, aluguel. Não dá para ficar dessa forma”, argumenta o professor Marcos Roberto Santos.
Possibilidade de greve
Com gritos de “sem salário, sem retorno”, os profissionais presentes na manifestação votaram e aprovaram a proposta de não retornar aos trabalhos sem a regularização dos pagamentos. Dessa forma, caso o salário de dezembro não seja pago, o retorno das aulas, previsto para o dia 17 de janeiro, estará comprometido.
O protesto desta sexta-feira não contou com o principal sindicato da categoria, que os manifestantes acusam de não ter se posicionado de forma adequada perante a crise. Por isso, como forma de pressionar os dirigentes, eles também deliberaram que vão fazer uma manifestação no dia 17, quando o Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Estado de Goiás (Sintego) e a secretária de Educação, Fátima Gavioli, devem se reunir.
A assessoria de imprensa do Sintego informou que, em reunião realizada com o governador no último dia 03, o sindicato decidiu esperar até o dia 17, data em que fará uma nova reunião com o governo. Só depois desse encontro que a entidade irá se posicionar em relação a possíveis paralisações.
Reivindicações
Depois de deliberarem pelo não retorno das atividades, os manifestantes invadiram a Seduce. Como os seguranças impediram a entrada organizada do grupo, os educadores então começaram a passar por debaxio da catraca da entrada do prédio.
A chefe do gabinete, Helene Bezerra, e o superintendente executivo da pasta, Manoel Barbosa, foram até os manifestantes e receberam deles uma carta com uma série de reivindicações. Além do pagamento do salário de dezembro, eles também pediram auditoria nas contas da Educação com participação da população; transparência na utilização do Fundeb; equiparação do salário dos contratos em relação aos efetivos; pagamento do piso, inclusive os valores retroativos; novo concurso para professores e administrativos; convocação dos concursados; e investimento na prevenção e cuidado da saúde do servidor.
Helena conversou com os manifestantes e os avisou que a secretária de Educação de Goiás, Fátima Gavioli, estava em reunião com as áreas de Planejamento e Finanças do governo estadual, e por isso não estava no prédio para atendê-los. Ela destacou que a secretária tem interesse no diálogo e ficou de repassar a carta de reivindicações a ela.
Em nota, a Seduce ressaltou que reconhece a legitimidade das manifestações e aponta o diálogo como a “forma essencial” para o enfrentamento dos “desafios da gestão da Educação pública.” O texto ainda informa que o governador Ronaldo Caiado está trabalhando incansavelmente para resolver os problemas financeiros do Estado e que ele e sua equipe econômica estão empenhados em apresentar soluções o mais breve possível