Com veículos irregulares, empresas de ônibus direcionam passageiros para embarque fora do terminal
Entrada de veículos em situação irregular é negada pela rodoviária e pela ANTT. Como “solução”, viações direcionam passageiros para outros locais afim de proceder com embarque; Agência condena a conduta
Passageiros que pretendiam viajar de Goiânia para a cidade de Paraíso do Tocantins, na noite de segunda-feira (16), tiveram que replanejar o deslocamento depois que o ônibus da empresa R.A. Viagens foi proibido de entrar no terminal rodoviário da capital em razão de “cadastro desatualizado”. Com mais de 2 horas de atraso, a solução encontrada pela empresa foi enviar os passageiros para embarque fora da rodoviária, no estacionamento da viação, no Setor Aeroporto, medida criticada pelos clientes e caracterizada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) como irregular.
Foi o caso da dona de casa Maria Aparecida Vieira Alves, de 43 anos, que se tornou vítima do mesmo esquema duas vezes nesta semana, com empresas diferentes. Moradora da cidade de Paraíso do Tocantins, ela decidiu embarcar na segunda à noite por que precisava participar de uma audiência às 8h de terça-feira (17), à qual não pode comparecer por causa do imbróglio. Veja vídeos feitos pela sobrinha de Maria, Lara Prado, durante a confusão na segunda:
“Comprei passagem na segunda, mas não fui porque funcionários da empresa afirmaram que o ônibus não podia entrar por causa de cadastro desatualizado. Disseram que o embarque ia ser na garagem da empresa, no Setor Aeroporto, e que pagariam táxis para conduzir os passageiros até lá. Não quis ir, fiquei com muito medo. Deus me livre”. Veja o embarque de passageiros em táxis rumo ao Setor Aeroporto, onde ficaria a garagem da empresa R.A:
Por segurança, Maria foi até o guichê e recebeu de volta o seu dinheiro, com o qual adquiriu uma passagem em outra empresa, a Cidão Transportes e Turismo, para as 11h do dia seguinte.
Nova celeuma
Já na terça, Maria Aparecida foi novamente vítima de descaso. “Cheguei para pegar o ônibus e, de novo, aconteceu a mesma coisa. Dessa vez disseram que o veículo estava em situação irregular, não tinham pago taxas na rodoviária e não poderiam entrar”.
Na ocasião, passageiros foram direcionados por funcionários da Cido Transportes e Turismo à área de táxis, onde encaminhariam os clientes para embarque fora da rodoviária.
“A alternativa deles era pegar o ônibus na garagem da transportadora. Também não quis ir nesse negócio clandestino, perigoso. Peguei meu dinheiro de volta, comprei outra passagem. Dei sorte dessa vez, consegui embarcar na rodoviária e cheguei em casa às 3h desta quarta (18)”. O embarque de passageiros em táxis foi novamente registrado, assista:
Risco
De acordo com o coordenador de fiscalização da ANTT, Jesiel Júnior, esse tipo de operação não necessariamente trata-se de transporte clandestino, no entanto, é uma conduta irregular. “Estão operando de forma irregular. Não é permitido colocar passageiros para embarcar em pontos que não constam no esquema operacional da empresa. Se o veículo não entrou na rodoviária, é porque não estava dentro do que a legislação estabelece. Embarque externo nem sempre é clandestino, mas este procedimento, em particular, está errado e coloca em risco os passageiros”.
Para Jesiel, as empresas podem ser autuadas em até R$ 7.500. “Esta é uma prática que vem acontecendo e que temos combatido com veemência. A gente pede que o usuário também não se submeta a esse tipo de irregularidade e comunique à ANTT na sala existente na rodoviária ou pelo número 166. Assim poderemos verificar essas irregularidades”.
Conforme expõe o coordenador, o órgão conduz uma operação no terminal rodoviário para coibir este e outros tipos de irregularidades. “Estamos fazendo um controle maior, fazendo inspeções cadastrais, veiculares, documentação, habilitação do motorista, licenciamento, presença de itens obrigatórios, checando laudo de inspeção, seguro de responsabilidade civil, entre outros para coibir esse tipo de conduta nos terminais”.
O gerente de operações do Terminal Rodoviário de Goiânia, Eleir Prachedes, também considera irregular a conduta das referidas empresas. Ele explica que a entrada na rodoviária é autorizada por um sistema, que checa os cadastros das viações nos órgãos reguladores como ANTT e Agência Goiana de Regulação (AGR).
“Checamos também as condições do veículo, inspeções, autorização para explorar a linha. Acolhemos aqui as empresas de transporte regular e também servimos de ponto de apoio para que órgãos fiscalizadores realizem seu trabalho. Em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a ANTT realiza operações no entorno e rodovias para combater esse tipo de prática, por isso aqui essa atividade irregular é menos percebida”.
Respostas
O Mais Goiás tentou contato com a administração da R.A Transportes, mas funcionários e o advogado da empresa, que não quis revelar o próprio nome, dificultaram o contato.
Segundo um homem identificado apenas como Emerson, a denúncia da passageira não procede. “Não estou sabendo dessa história, passageiro fala o que quer. Isso é calúnia e vou processar o jornal de vocês”.
O advogado, por sua vez, afirmou que o transporte da empresa não é clandestino e que pode ter ocorrido uma inconsistência no sistema da ANTT. “Quanto ao procedimento adotado diante disso, não sei dizer porque não sou funcionário do operacional”.
Este portal solicitou contatos do responsável pelas operações, mas até o fechamento desta matéria, a demanda não foi atendida.
A redação também tentou contato com a Cido Transportes e Turismo, mas as ligações para o gestor não foram completadas.