Comemorações dos 60 anos de Brasília são canceladas em meio ao coronavírus
Em isolamento, uma senhora sexagenária precisará cancelar sua festa de aniversário por causa da pandemia…
Em isolamento, uma senhora sexagenária precisará cancelar sua festa de aniversário por causa da pandemia do coronavírus e agora planeja uma comemoração virtual no lugar do festão que pretendia dar no fim de abril. A aniversariante decepcionada é Brasília, a capital do país, que completa 60 anos em 21 de abril.
Com o comércio fechado e as orientações do Ministério da Saúde, os shows e outras atrações na rua que marcariam a data –que, ironicamente, colocaria a cidade no grupo de risco para a doença se fosse uma pessoa– não irão acontecer, diz o secretário de Cultura do Distrito Federal, Bartolomeu Rodrigues.
“Nós não temos condições de fazer qualquer evento público”, afirmou ele. Na quinta-feira (26), o governo distrital anunciou que as comemorações seriam adiadas, mas Rodrigues diz considerar inviável fazê-las ainda em 2020. “Imaginou-se até poucos dias atrás deixar tudo para julho, mas eu acho que o ano todo está prejudicado. Seria uma irresponsabilidade, mesmo que o surto comece a diminuir em maio ou junho”, disse à reportagem.
Entre os planos que ficaram para trás está o convite à Orquestra Sinfônica do Rio para se juntar à Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, unindo a antiga e a atual capital na interpretação da Sinfonia da Alvorada, composta por Tom Jobim e Vinícius de Moraes para homenagear Brasília.
Por isso, em tempos em que reunir 10 pessoas já não é recomendado, a ideia de juntar 100 mil, público esperado para as apresentações, se tornou impossível. Para a data não passar em branco, a pasta busca alternativas, como shows virtuais com artistas brasilienses. “A gente está formatando e pensando em alguns projetos que possam atrair os artistas da cidade e fazer tipo programação online, com concursos, de uma forma que a gente possa agitar e contribuir com esse segmento artístico, que foi tão afetado pela crise”, diz Rodrigues.
O Distrito Federal foi o primeiro a tomar medidas restritivas contra o novo coronavírus. Em 11 de março, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou a suspensão das aulas e de eventos públicos, medida que está em vigor até ao menos 5 de abril. Em São Paulo, estado mais afetado até o momento pelo coronavírus, a decisão de mandar os alunos para casa veio dois dias depois, em 13 de março.
Depois, o emedebista foi progressivamente suspendendo a abertura de cinemas, teatros, parques, shoppings, zoológico, academias e casas noturnas até que, em 19 de março, o fechamento atingiu bares, restaurantes e todo o comércio considerado não essencial.
A exemplo de outras cidades, moradores tentam mitigar os impactos do vírus no comércio e em populações mais vulneráveis.
No WhatsApp, com as feiras canceladas, circulam listas de delivery de produtores locais de hortaliças e vegetais. Impedidos de funcionar, restaurantes montaram entregas improvisadas.
Ajuda
Moradores da Asa Sul, o designer Dudu Lessa e seu namorado, o professor Rafael Soares, organizaram uma campanha para levantar fundos para três lares que atendem, juntos, 199 idosos carentes do entorno da capital. “Logo que começou a pandemia, pensei nos velhinhos que estão em situação de risco e que provavelmente não tinham esses materiais”, conta Dudu.
O casal e mais 11 pessoas levantaram R$ 960, que foram doados aos lares para serem revertidos em compras de material de higiene.
Na área da cultura, mais um evento preocupa a secretaria: o festival de cinema de Brasília, que ocorre entre setembro e novembro. De acordo com técnicos da secretaria, ainda há prazo para a organização, mas a impossibilidade de reuniões dificulta o andamento do projeto. “Eu já deveria estar criando comitê, curadoria”, diz o secretário.
As medidas duras colocaram o governador em rota de colisão com o presidente Jair Bolsonaro, que vem criticando os fechamentos do comércio por parte dos chefes dos Executivos estaduais.
Com base em uma notícia falsa, o presidente ironizou Ibaneis, dizendo que o governador iria reabrir o comércio as escolas. Horas depois, ao site Metrópoles, o governador rebateu: “sigo cuidando do meu povo”.
Apesar disso, o emedebista sinalizou um movimento de abertura. Afrouxou as regras do isolamento nesta sexta, permitindo a reabertura de lojas de conveniência de postos de combustível e de casas lotéricas.