HISTÓRIA

Como Lázaro, Pareja também desafiou a polícia e ganhou fama em Goiás; relembre

Semelhanças, contudo, param por aí; Pareja ficou conhecido por sequestro, assalto e uma rebelião no Cepaigo

Como Lázaro, Leonardo Pareja também desafiou a polícia; relembre (Foto: Reprodução)

A habilidade do serial killer Lázaro Barbosa para desafiar a polícia trouxe à memória dos goianos a história de um outro criminoso que ficou nacionalmente conhecido pelo mesmo motivo em 1996. O nome dele era Leonardo Rodrigues Pareja, um jovem que liderou uma rebelião cinematográfica no antigo Cepaigo (hoje Casa de Prisão Provisória) em Aparecida e fez como refém o então desembargador Homero Sabino.

A foto de Pareja virou capa da revista Veja naquele ano. A revista disse que Pareja “fazia a polícia de boba”, mesma frase que o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, usou para se referir a Lázaro em entrevistas concedidas nesta terça e quarta.

Capa da revista Veja com Leonardo Pareja em 1996

A história de Leonardo Pareja começou com um assalto. Em setembro de 1995, o jovem que tocava violão e tinha fama de namorador assaltou um hotel em Feira de Santana, na Bahia e manteve a sobrinha do então senador Antônio Carlos Magalhães (ACM), Fernanda Viana, como refém por três dias.

Ele negociava com a polícia coberto por lençóis, a fim de não ser acertado por atiradores. Pareja conseguiu fugir depois de liberar a garota. Durante um mês, o bandido deu entrevistas a rádios e televisões, referindo-se sempre à polícia com tom de deboche.

Em fuga, Pareja percorreu três estados até chegar a Goiás, onde se entregou. No Cepaigo, passou a ser porta-voz de melhorias e negociava com a direção em nome dos presos.

Cepaigo

Em abril de 1996, Pareja foi um dos líderes de uma rebelião que durou seis dias. Ele e mais 43 internos fizeram várias autoridades reféns: delegados, promotores, PMs e até o presidente do Tribunal de Justiça de Goiás, à época, desembargador Homero Sabino de Freitas.

Pareja assumiu as negociações e conseguiu manter todas as autoridades vivas. Além disso, uma cena que ficou marcada foi ele tocando violâo, em cima da caixa d’água do presídio.

Pareja toca violão em cima da caixa d'água do Cepaigo (Foto: Arquivo)
Pareja toca violão em cima da caixa d’água do Cepaigo (Foto: Arquivo)

“Eram patriotas que estavam dentro da rebelião. Gritando por liberdade. Mas não só a liberdade do muro. A liberdade de vida, do ser humano dentro de um presídio. Para descontrair, eu cantei uma música do Zé Ramalho”, disse Pareja na época, antes de fugir.

O bandido foi preso um dia depois da fuga – imposta como condição para libertação dos reféns. Antes, porém, parou um bar de Goiânia, pagou uma rodada de bebida para os presentes e distribuiu autógrafos.

Morte

Já preso outra vez, Pareja participou da produção de um documentário sobre a sua trajetória: “Vida Bandida”. Em dezembro de 1996, contudo, a Folha de S. Paulo noticiou a descoberta de um túnel por agentes penitenciários. Cinco homens, então, fizeram uma emboscada e mataram o preso famoso com disparos de um pistola calibre 45.

Os assassinos foram condenados em 2015 a 45 anos e seis meses de reclusão. Foram eles: Eduardo Rodrigues Siqueira, o Pigmeu; Eurípedes Dutra Siqueira, José Carlos dos Santos, Ivan Cassiano da Costa e Raimundo Pereira do Carmo Filho. Outros três presidiários foram mortos naquele momento.

Ele era filho de pais de classe média. Estudou inglês, espanhol, piano e até programação de computador antes de enviesar para o mundo do crime. A diferença mais marcante com relação a Lázaro é de que não há notícias de que Pareja tenha assassinado alguém. Lázaro tem pelo menos seis acusações desta natureza para responder.

Linha do tempo

– Quarta-feira (9) – A onda de crimes tem início quando o suspeito invade uma casa em Ceilândia. Lá, ele teria matado o empresário Cláudio Vidal, 48; dois filhos dele, Gustavo Marques, 21; e Carlos Eduardo Vidal, 15; e sequestrado a mãe deles, Cleonice Marques, 43.

– Sexta-feira (11) – Polícia Militar do DF inicia buscas pelo suspeito.

– Sábado (12), à tarde – polícia encontra o corpo de Cleonice Marques. Cadáver estava próximo de um córrego na região de Sol Nascente (DF). Mulher estava nua, de bruços e apresentava cortes na região das nádegas.

– Sábado (12), à noite – Três pessoas são baleadas em uma casa na zona rural de Cocalzinho de Goiás. Suspeito teria forçado vítimas a fazer comida para ele enquanto as obrigava a fazer consumo de drogas. No local, Lázaro supostamente rouba duas armas de fogo e munições.

Feridos estão hospitalizados, dois deles em estado grave.

– Domingo (13), à tarde – Chácara é invadida em Cocalzinho de Goiás. Proprietário encontra imóvel revirado e dá falta do carro, um Corsa vermelho.

– Domingo (13), noite – veículo é abandonado na BR-070, após avistar bloqueio policial próximo à cidade de Edilândia. Suspeito foge à pé, supostamenete para região de mata. Investigadores ainda não confirmaram se responsável por abandonar carro é mesmo Lázaro.

Polícias militar e rodoviária federal destacam 120 policiais para o cerco, que tem auxílio de 3 helicópteros

– Segunda-feira (14), manhã – Mais policiais se juntam à operação de captura. Agora, são 210 agentes da PM-GO, PM-DF e Polícia Federal (PF) que atuam para detectar e prender Lázaro. Secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodnei Miranda acompanha os trabalhos in loco.

– Segunda-feira (14), noite – Lázaro pede comida em uma chácara em Edilândia, mas diante da negativa do caseiro atira com uma pistola contra a propriedade. O caseiro, que também estava armado com uma espingarda, revida, fazendo com que o procurado fuja do local correndo a pé.

– Terça-feira (15), tarde – Moradores de uma fazenda em Cocalzinho de Goiás afirma ter avistado Lázaro passando pela propriedade. Desesperados, eles orientam os policiais sobre o caminho que ele seguiu.

– Terça-feira (15), tarde – Três pessoas – uma mulher e duas crianças – foram mantidas reféns de Lázaro Barbosa em uma propriedade rural que fica a 5 km de distância do povoado de Edilândia. Os reféns foram libertados após troca de tiros com a polícia e o suspeito fugiu por um Rio próximo da fazenda.

– Terça-feira (15), noite – Lázaro teria retornado a uma propriedade que invadiu pela manhã em busca de alimentos. O proprietário encontrou a casa revirada e deu falta de produtos alimentícios.

– Terça-feira (15), noite – Secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda diz que equipes estão mais perto de capturar Lázaro e que não deixarão o local sem o suspeito.

O procurado

A série de crimes atribuída a Lázaro Barbosa, 32, teve início em entre 8 e 9 de abril de 2020, quando ele teria invadido uma propriedade rural de Santo Antônio do Descoberto. Quatro idosos estavam no local. Um deles foi atingido com golpe de machado na cabeça, mas sobreviveu, embora apresente sequelas, segundo a Polícia Civil goiana. Os outros idosos também foram agredidos, com menos gravidade. Lá ele roubou bens e celulares que depois foram recuperados pelos investigadores. À época ele foi indiciado por crime de roubo mediante restrição da liberdade das vítimas, emprego de arma branca e por tentativa de latrocínio.