Cooperativas de Goiânia sofrem com redução de material reciclável na pandemia
Prefeitura reforça que frota não foi alterada durante a pandemia
Apesar dos cerca de 16 caminhões da coleta seletiva destinados a levar resíduos às cooperativas de reciclagem em Goiânia, o volume de entrega caiu de forma expressiva durante a pandemia do novo coronavírus, o que resultou na redução de pessoal. A informação é do presidente de uma das 14 cooperativas que realizam este trabalho, Claubi Teixeira, da Beija-Flor. Segundo ele, a entidade já recebeu até dez caminhões em um dia. Hoje, no máximo três. Além disso, de acordo com ele, na prática, são 14 e não 16 caminhões.
“Todas as cooperativas têm despesas altíssimas. A nossa, a Beija-Flor, precisou reduzir o quadro de 26 para 16, na pandemia. A de um colega caiu de 45 para 19”, lamenta. De acordo com ele, hoje as cooperativas empregam cerca de 400 pessoas diretamente – 800, se considerar o serviço indireto. Isso, segundo ele, porque somente de 3% a 4% dos resíduos produzidos são reciclados.
“Em Goiânia, somos 1,6 milhão de habitantes, com uma produção diária de 1,5 kg de lixo por habitante ao dia. Na verdade, haveria a possibilidade de aproveitar 40% de todo o lixo, que poderia ser separado”, expõe e garante: “Com isso, seria possível gerar 8 mil empregos, entre diretos e indiretos.”
Para Claubi, o necessário é uma atuação mais intensa da prefeitura, mas a justificativa é que os 14 caminhões da coleta seletiva já são mais onerosos que os outros 40 que fazem a coleta regular. Ele também defende a inclusão de condomínios horizontais na coleta, que atualmente são excluídos por lei.
Cooprec
Diretora da Cooperativa de Reciclagem (Cooprec), Nair Rodrigues Vieira confirma que muitas cooperativas precisaram, de fato, reduzir o número de cooperadas. Essa, contudo, não foi a realidade de Coprec, que tem 26 associados.
Segundo Nair, eles optaram por reduzir o rateio, com todos ganhando menos, mas manter todo o quadro. “Tem semanas que chegamos a trabalhar só dois dias e meio”, relembra as dificuldades.
De acordo com ela, chegavam cerca de três caminhões cheios por dia, na Coprec. Hoje, apenas um e, mesmo assim, não é cheio. “Quem tem 40 cooperados, por exemplo, precisa de, pelo menos, seis caminhões por dia. Muitas tiveram que reduzir o pessoal por causa disso.”
Nair aproveita para propor. Segundo ela, em alguns condomínios a prefeitura não faz essa coleta e os resíduos acabam indo para o aterro. “Então, é só passar o endereço para a cooperativa, que elas buscam. Temos caminhões”, reforça.
Prefeitura
Por meio de nota, a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) de Goiânia informou que “a frota disponibilizada para o Programa Goiânia Coleta Seletiva conta com 16 caminhões que fazem o transporte dos materiais recicláveis deixados porta a porta seguindo um cronograma específico de coleta dos resíduos que varia de acordo com o volume separado em cada bairro. A Prefeitura de Goiânia ressalta que mesmo nos momentos com medidas mais restritivas de isolamento social a frota não foi alterada”.
O texto diz, ainda, que o volume de resíduos sólidos recicláveis coletado pelo Programa Goiânia Seletiva caiu com o início da pandemia de Covid-19, o que impactou tanto o consumo das famílias quanto a destinação dos materiais. “Durante os períodos de fechamento de estabelecimentos comerciais, foi observada uma redução de até 30% no volume coletado, mas após a retomada do funcionamento das atividades econômicas a quantidade de resíduos sólidos recicláveis coletada tem retornado gradativamente aos patamares habituais.”
Ainda segundo a agência, com o novo protocolo de gestão e manejo desses resíduos, sempre que alguma pessoa estiver com sintomas de contaminação pelo novo coronavírus, todo o material, ainda que reciclável, utilizado por esse morador deve ser descartado como rejeito ou seja, não é enviado para a coleta seletiva, o que pode impactar o volume total coletado pelo município. No entanto, a medida – junto com outras estabelecidas pela Prefeitura de Goiânia em conjunto com o Ministério Público de Goiás e as cooperativas de catadores –, visa proteger a segurança e saúde dos trabalhadores envolvidos na cadeia de reciclagem.
Projeto para inclusão de condomínios
Na Câmara de Goiânia já existe um projeto que inclui condomínios horizontais na coleta seletiva da cidade, por meio da isenção da cobrança decorrente da coleta de lixo. Do vereador Lucas Kitão (PSL), a medida visa corrigir a terceirização que acontece na coleta, que é embutida nas taxas de condomínio desses grandes geradores e que permite que esse material recolhido muitas vezes seja despejado diretamente nos aterros sanitários da capital e da Região Metropolitana, sem passar pelas cooperativas.
“Vamos incentivar o aumento da reciclagem e essa mudança terá um grande impacto ambiental, com redução de materiais dispensados no Aterro Sanitário de Goiânia, que já não vai tão bem e, por fim, vai gerar muito emprego e emprego limpo”, declara.