Criança estava no colo da avó quando foi atacada por cão, em Goiânia
Especialista aponta possíveis causas para a atitude agressiva do animal que foi recolhido e está em observação no Centro de Zoonoses
A criança de um ano atacada por um pastor alemão na manhã desta terça-feira (19), na Vila Maria Luiza, em Goiânia, estava no colo da avó no momento do acidente. A Polícia Civil, por meio do 19° Distrito Policial, iniciou as investigações para apurar as circunstâncias do ocorrido.
O delegado que comandou a ação, Elton Diogo Fonseca, explicou que as investigações devem ser transferidas para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), mas devido à urgência do caso, as apurações foram iniciadas pela delegacia da região. O titular esteve na residência da família da menina e conversou informalmente com alguns familiares, mas nenhum deles prestou depoimento de maneira oficial.
Elton contou que os levantamentos iniciais apontam para a hipótese de que o cão de 12 anos estava solto na casa, quando pulou na avó e arrancou a criança de seus braços. Após pedidos de ajuda da idosa, um vizinho também de idade pulou o muro da residência e ajudou a tirar a menina de dentro da boca do cão. O idoso também foi ouvido pelo delegado.
O delegado explicou que o caso ainda vai ser investigado, mas é possível que a hipótese se confirme, já que o cão é de grande porte. “Nós vamos investigar com muito respeito e sem invadir a família e se ficar provado os proprietários do cão podem ser responsabilizados. Mas isso ainda não foi provado, nós respeitamos o momento da família e ainda não interrogamos formalmente nenhuma pessoa. O que houve foi uma fatalidade”, relatou.
Na última atualização do estado de saúde da criança, o Hospital Estadual de Urgências da Região Noroeste de Goiânia Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) informou que a vítima está em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica em estado grave e respirando com ajuda de aparelhos. A menina sofreu lesões na cabeça e no pescoço, segundo o Corpo de Bombeiros.
Cão foi recolhido
O diretor de vigilância em zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Gildo Felipe de Paula, confirmou ao Mais Goiás que o cão foi recolhido pelo órgão a pedido da família da criança. O animal não é um pastor alemão puro, mas tem raça mista e grande porte.
Segundo Gildo, não há sinais de que o cão esteja doente, mas ele deve ficar em observação pelo período de dez dias para que qualquer hipótese de doença seja descartada. Após o prazo, os proprietários voltam a ser acionado para saber se querem o animal, caso não queiram, o centro de zoonoses se encarrega de procurar um lar adotivo.
Sobre a possibilidade de sacrifício do cão, Gildo afirma que pode acontecer. “Se os nossos profissionais verificarem que o animal é realmente agressivo pode acontecer. Mas só após o acompanhamento de dez dias. Vamos esperar para ver a reação do cão”, explica.
Surto
Em entrevista ao Mais Goiás, a comportamentalista especializada em cães e adestradora há mais de 30 anos, Carolina Castro contou que há várias possíveis análises para a atitude do cão. O mais provável é que o animal tenha tido um surto motivado por fatores emocionais e por condições relativas à idade avançada.
Carolina conta que os pastores alemães de raça pura são mais dóceis e tem uma tendência à proteção, sobretudo de idosos e crianças, situação oposta a que aconteceu nesta terça-feira. O fato do cão não ter raça pura, segundo a comportamentalista, faz com que o animal tenha uma tendência maior à agressividade, o que pode servir como ponto de partida para compreender o ocorrido.
Além disso, Carolina esclarece que na idade avançada, o cão pode sofrer problemas neurológicos e isso pode resultar em um comportamento mais “ranzinza” ou mesmo dores físicas. A audição, a visão e o olfato do animal também podem ficar comprometidas, que pode gerar distúrbios de comportamento que fazem com que o cachorro não reconheça as pessoas ao seu redor.
No entanto, a hipótese mais provável é que o cão tenha sentido ciúmes da criança. “Nós temos uma questão já emocional, sendo que pode ter sido acumulado com o tempo. O cão ficou a doze anos da família, a criança chegou a um ano. O fato do cão tirar a criança do colo pode ser um momento em que a avó sentiu medo e o cachorro agrediu a criança achando que ela é um potencial ataque”, conta.
Para a especialista, a agressividade do animal significa que ele tinha intenção de machucar a criança. Carolina explica que quando o cão quer alertar ele morde apenas uma vez, o que não foi o caso do ocorrido, já que o animal mordeu diversas vezes a criança.
*Amanda Sales é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo