Davi Passamani: igreja de pastor suspeito de crimes sexuais teve cultos temáticos ‘Tinder’ e ‘Vem, novinha’
Ex-líder da igreja 'Casa' se tornou alvo de investigações após denúncias de fiéis e acabou preso
Alvo de acusações de assédio e importunação sexual, o pastor evangélico Davi Passamani foi preso no início de abril no Jardim Goiás, em Goiânia. Entre os cultos promovidos no núcleo jovem da igreja Casa, onde o “religioso” atuou como presidente e líder, estavam encontros intitulados “Tinder” e “Vem, novinha”.
“Prontos para dar um match?” dizia o convite virtual para o culto jovem “Tinder”, realizado em agosto de 2022. “Sábado é dia do culto de jovens mais fora da curva do Brasil”, continua o texto.
A Casa Share, grupo jovem da igreja Casa, também divulgou o culto “Vem, novinha”. “A tour do Share já começa com um tema um pouquinho polêmico”, lê-se na legenda.
‘A Casa’ faz “culto” com tema Tinder:
‘Se valeu da vulnerabilidade’
Davi Passamani era pastor da igreja “Casa” e foi acusado de crimes sexuais contra membros do templo religioso pelo menos duas vezes. Em dezembro de 2023, ele renunciou ao cargo de presidente e líder do grupo após a denúncia de uma fiel.
O pastor teria usado versículos da bíblia para ganhar a confiança de uma fiel que o denunciou, posteriormente “pedindo para que a vítima se tocasse” e “realizasse atos sexuais nela mesma”, como detalha a delegada Amanda Menuci, da Delegacia Estadual de Atendimento Especializado à Mulher (Deam).
“Ele se valeu da vulnerabilidade dela, que havia descrito um problema de relacionamento. O pastor abordou ela nesse sentido, com toda uma conotação religiosa para o discurso, e realizou a ligação de vídeo onde praticou os toques, em seus órgãos genitais, incidindo na prática de importunação sexual“, diz Amanda.
Em um dos casos, a vítima disse que o pastor descobriu que o relacionamento dela havia acabado. Ele pediu, então, que a mulher fizesse algumas “confissões”, e passou a narrar uma fantasia sexual. Ainda segundo a mulher, ele fez uma chamada de vídeo, mostrou o pênis, desligou a câmera e iniciou uma masturbação. Então, desligou o celular e enviou novas mensagens. Ela não respondeu.
Antes, em 2020, outra fiel denunciou Davi Passamani e disse que ele perguntou sobre sua vida sexual durante uma conversa. O pastor teria dito, ainda, que queria “sentir seu beijo” e contou ter tido um sonho com ela. No mês seguinte do mesmo ano, outra mulher procurou a polícia e denunciou o “religioso” pelo mesmo crime.
A advogada de defesa das vítimas, Taisa Steter, disse que Passamani encontrava “meios de descobrir o telefone” das vítimas, frequentadoras da igreja, para então começar “sua empreitada de violência de gênero para satisfazer seus desejos sexuais”.
O advogado Leandro Silva classifica as informações do inquérito que baseou a prisão do pastor como “vazias, lacunosas e genéricas” e diz ter entrado com pedido de habeas corpus.
“Davi Passamani nunca foi condenado criminalmente por tipo penal de assédio sexual e a defesa nega tais acusações. Reafirma-se, mais uma vez, que tudo não passa de uma conspiração para destruição de sua imagem e investida ilegítima de seu patrimônio, ruína financeira, bem como o impedimento de qualquer prática religiosa. No momento estratégico adequado, seus conspiradores, todos eles, serão representados e seus nomes divulgados”, afirma a defesa.
Polêmica de desembargadores
Durante uma sessão de julgamento em março deste ano, o desembargador Silvânio de Alvarenga, do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), fez comentários controversos enquanto analisava uma ação de reparação de danos movida por uma jovem que denunciou assédio sexual pelo pastor Davi Passamani. Silvânio referiu-se ao caso como “caça aos homens” e insinuou que a jovem denunciante era “sonsa”.
O desembargador sugeriu que casos como esses prejudicariam as interações entre homens e mulheres e questionou a possibilidade de estabelecer relacionamentos sem “ataques”, colocando a palavra entre aspas. Leia na íntegra!
*Com informações do O Globo