Aparecida de Goiânia

Defesa Civil vistoria Ocupação Alto da Boa Vista, em Aparecida de Goiânia

Após parecer, juíza pode determinar prazo da desocupação; comunidade também recebe inspeção própria, nesta terça-feira

Defesa Civil finaliza relatório das condições da Ocupação Alto da Boa Vista

A Defesa Civil esteve na Ocupação Alto da Boa Vista na última sexta-feira (7) para fazer a vistoria determinada pela juíza Vanessa Estrela, em 29 de janeiro, ocasião em que magistrada reforçou sua decisão pelo despejo das cerca de 300 famílias, mas sem definir data. A previsão é que um parecer oficial seja emitido em dez dias, conforme explica o advogado dos ocupantes do terreno às margens da Avenida Cristus, Vila Delfiori, Vilmar Almeida – ele defende as famílias que vivem no local pelo Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas (MLB), que é dá suporte os moradores.

“Na decisão a juíza determinou que o corpo de bombeiros e a defesa civil realizassem uma vistoria tanto na ocupação quanto nos galpões que foram disponibilizados para que as famílias em extrema vulnerabilidade sejam realocadas”, explicou o jurista. “Após a vistoria, eles irão juntar o relatório no processo e, a partir daí, o despejo poderá acontecer. O que é mais absurdo é que até o momento não sabemos sequer quantas são as famílias [que serão] remanejadas, já que falam que só serão aquelas em extrema vulnerabilidade, sem especificar o que seria essa extrema vulnerabilidade.”

Questionado se ainda pode haver contestação desta vistoria, ele diz que sim. “Na terça-feira (10), uma assistente social, uma psicóloga e um arquiteto irão realizar uma vistoria, e nós iremos juntar os devidos pareceres na próxima semana”, aponta ele sobre uma análise própria da defesa.

Destaca-se que, à época da decisão da juíza Vanessa Estrela (da Vara de Fazenda Pública Municipal), a defensora pública Tatiana Bronzato, que acompanha o caso pela Defensoria Pública e atua de forma coletiva na defesa das famílias, já havia informado que a ação seria novamente aberta para o contraditório após a vistoria. Segundo ela, o intuito é lutar para que as famílias não fiquem em situação de rua, com essa ação de reintegração de posse.

Vistoria

De volta ao advogado Vilmar, o mesmo relatou que a forma como a vistoria ocorreu chamou a atenção. Quem detalhou a passagem dos fiscais foi Jackeline Pires da Silva, membro da associação da Ocupação, que andou lado a lado com os profissionais.

Participaram, segundo ela, cerca de 13 agentes da defesa civil, três funcionários da prefeitura de Aparecida de Goiânia, além de três membros do Corpo de Bombeiros (que chegaram depois). Também estavam presentes uma viatura da Polícia Militar (PM) e outra da Guarda Civil Municipal (GCM), detalhou Jackeline.

“Eles informaram que fariam a vistoria determinada pela juíza, sem favorecer A ou B”, disse a líder da comunidade. De acordo com ela, eles começaram juntos, mas depois se separaram, uma vez que a comunidade é grande. “Eles tiravam fotos do lado de fora das casas e nós questionamos, pois queríamos mostrar a realidade da ocupação, como é a vida das pessoas. Mas eles diziam que não tinha necessidade.”

Conforme relatado por Jackeline, eles só entraram no interior da casa dela após muita insistência. “Fotografaram, também, as redes [elétricas] que puxamos. Disseram que imaginavam ser pior, mas viram que eram os fios corretos [não foram usados os de telefone, que podem causar incêndio]”, pontuou. “Me perguntaram quantas famílias viviam ali e informei que eram mais de 300. Perguntaram dos poços artesianos e respondi que eram quatro, pois muitos não tinham condições de furar cisternas, então, as famílias se juntaram.”

Ela relata, por fim, que a visita durou aproximadamente uma hora e meia. De acordo com ela, o Corpo de Bombeiros chegou mais ao fim e só visitou os comércios e o local onde é construída uma creche – que servirá tanto as crianças da ocupação quanto do setor Vila Delfiori. Também foram tiradas fotos. “Quando terminaram de andar pela ocupação, agradeceram por nós acompanhá-los e disseram que foram bem recebidos e que isso seria relatado. Disseram mais uma vez que não beneficiariam nenhum dos lados.”

Respostas

A prefeitura de Aparecida de Goiânia foi procurada e informou, por meio de nota, que a “Defesa Civil fez uma vistoria ao local da ocupação irregular no Alto da Boa Vista. A vistoria faz parte da determinação da Justiça que determinou a desocupação da área, que receberá em breve o resultado do relatório em breve”. Os Bombeiros também foram procurados, mas não se posicionaram até a publicação desta matéria.

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