Defesa de bombeiro morto pela namorada em Trindade quer provar que mulher não agiu em legítima defesa
À Polícia, a autora do crime ocorrido no início de março disse que atirou contra o homem, pois era agredida constantemente física e verbalmente
A defesa da família do bombeiro militar Rafael Moreira dos Santos, morto pela namorada em Trindade, tem reunido elementos para provar que a mulher não agiu em legítima defesa. À Polícia, a autora do crime ocorrido no início de março disse que atirou contra o homem, pois era agredida constantemente física e verbalmente. Os parentes da vítima, no entanto, afirmam que o soldado não era agressivo e que a investigada tinha atitudes abusivas, como ciúmes e ataques de raiva.
Em entrevista ao Mais Goiás, a advogada Débora Camargo afirmou que, em 5 de março, Rafael e a namorada passaram o dia bebendo em um churrasco com os familiares da mulher. Depois, foram até a casa de uma tia dela. Lá, continuaram ingerindo bebida alcoólica até que a autora passou a ficar agressiva. O casal começou a brigar, e, em determinado momento, a mulher jogou uma lata de cerveja no rosto do militar, que não teria esboçado reação.
Em razão da briga, a tia da investigada a expulsou da residência e ordenou que Rafael ficasse no local, já que havia bebido bastante. “A tia viu que a sobrinha estava muito alterada e chamou um motorista de aplicativo para que ela retornasse para casa. A autora começou a fazer escândalo querendo que ele fosse embora também”, explicou
O bombeiro acabou dormindo na residência da tia da namorada e retornou para casa, em Trindade, por volta das 5h30. Segundo a advogada, Rafael entrou no imóvel, tirou o cinto tático e o deixou em uma cômoda, juntamente com a arma. Em seguida, foi para o fundo da residência onde tinha um templo religioso. A mulher, então, se dirigiu até o local onde o militar estava e eles começaram a discutir.
“Ela retornou para dentro da casa, e, ao invés de fugir, pega a arma, volta ao templo e atira no Rafael. Ela não agiu em legítima defesa. Além disso, acionou a Polícia Militar, e não o Corpo de Bombeiros para socorrê-lo”, comentou. O soldado foi encaminhado ao hospital, mas acabou morrendo oito dias depois.
Ainda conforme Débora, o relatório inicial da Polícia Civil, feito na data do crime, descartou legítima defesa. O Mais Goiás teve acesso ao documento. No relatório, lê-se: “cercados de todos esses elementos, somados ao interrogatório da autuada e à declaração da mãe da vítima, não vislumbro essa ter agido sob o manto da excludente de ilicitude da legítima defesa, ou qualquer outro”.
Além disso, o relatório também indicou contradições no depoimento da investigada. “Conforme laudo do Instituto Médico Legal, as lesões apresentadas pela autuada, embora recentes, não são contemporâneas ao fato, mas de um ou dois dias antes […] a versão apresentada pela autuada apresenta contradições e indica a possibilidade de um desfecho diferente do ocorrido”.
Investigação do caso do bombeiro morto pela namorada em Trindade
À reportagem, o delegado Douglas Pedrosa, responsável pelo inquérito, disse que a mulher não tem antecedentes criminais. Ele informou que um exame de corpo de delito confirmou que a mulher apresentava hematomas decorrentes de agressões de dois a três dias antes do crime.
Segundo o investigador, a polícia está trabalhando para levantar evidências que provem ou não a tese de legítima defesa.
Investigada afirma que era agredida pelo militar
À Polícia, a investigada alegou que agiu em legítima defesa após o namorado, que teria consumido álcool, ameaçou matá-la com uma faca. A mulher relatou que Rafael ficava agressivo todas as vezes que ingeria bebidas alcoólicas e, ainda, que ela era agredida com frequência. Inclusive, segundo a autuada, uma semana antes da noite do crime, o bombeiro havia lhe agredido fisicamente.
Também de acordo com a mulher, no dia 6 de março, Rafael começou a brigar com ela enquanto estava com uma pistola na mão. Ele, entretanto, teria deixado a arma em um móvel e dito que a mataria esfaqueada. Neste momento, a investigada diz que pegou a arma e efetuou os disparos.
A mulher ainda detalhou aos policiais que nunca denunciou o companheiro por medo.
Relacionamento conturbado
A advogada Débora Camargo disse que Rafael e a namorada se conheceram em um centro religioso e mantiveram relacionamento, entre idas e vindas, por cerca de 1 ano. Dois meses antes do homicídio, os dois passaram a morar juntos. Segundo a defensora, a mulher tem um filho criança e estava sem lugar para morar. Em razão disso, o soldado a convidou para residir na casa dele.
A defensora narra que o relacionamento entre os dois era conturbado por conta da mulher. “Ela era muito ciumenta. Reclamava das amizades e pediu até para o Rafael trocar de batalhão, pois onde ele era lotado é comandado por uma mulher. Ele chegou a falar com amigos que não queria mais, pois a autora brigava muito, era invasiva e ciumenta”, disse.
De acordo com Débora, a família está destruída com a morte de Rafael. “A mãe é humilde e batalhou para os três filhos estudarem. Ele era um rapaz honesto e querido por todos. Sabemos que muitas mulheres sofrem violência, mas esse não é o caso. É preciso pontuar caso a caso para também não esvaziar a luta de mulheres que realmente sofrem”.