Noite de Conflito

Denúncia de ‘negligência médica’ resultou em confusão com PMs na Célia Câmara, dizem funcionários

Insatisfeitos com o atendimento o casal teria ligado para um assessor e solicitado apoio para terem prioridade

O casal solicitou um atendimento de emergência, mas o médico não considerou a situação como prioridade (foto: reprodução Prefeitura de Goiânia)

Uma falsa denúncia de ‘negligência médica’ teria causado a confusão registrada entre equipe de saúde e policiais militares (PMs) no Hospital e Maternidade Célia Câmara, em Goiânia, na noite desta sexta-feira (6/12). O relato foi transmitido ao Mais Goiás por funcionários plantonistas da unidade de saúde, os quais não terão identidade revelada. A denúncia, segundo os servidores, foi feita depois que o marido de uma gestante se revoltou com o fato de a mulher não receber atendimento prioritário. Desse modo, ele acionou o escritório de um vereador, cujo assessor compareceu e chamou a corporação. Um maqueiro e uma enfermeira foram presos.

Conforme expõem os trabalhadores, a influência política do casal foi determinante para provocar o alvoroço, visto que a paciente em questão foi atendida na triagem, que considerou que o seu quadro não era de atendimento prioritário. “A gestação da paciente é de 39 semanas e quatro dias. Ela pediu um procedimento que a equipe de saúde considerou não indicado naquele momento”, revelou uma profissional.

Denúncia de negligência médica é falsa’, segundo profissional de saúde

De acordo com a fonte, um médico avaliou que a mulher não estava em trabalho de parto e decidiu não realizar a internação ou o parto. “O atendimento não foi negado em nenhum momento. A equipe prestou todo o suporte necessário, mas não podemos interferir em decisões médicas”, explicou.

A situação piorou com a chegada da Polícia Militar (PMGO), chamados por um homem que chegou após o início do incidente e se apresentou como advogado da paciente. No entanto, descobriu-se que ele era, na verdade, assessor de um vereador e usou sua influência para acionar a polícia. Segundo o relato, a presença dele aumentou a tensão, levando à intervenção policial.

Confusão com PMs e prisões no Hospital e Maternidade Célia Câmara

Conforme a funcionária, os policiais passaram a questionar a equipe de enfermagem e pediram os nomes dos médicos de plantão. A equipe explicou que já havia prestado o atendimento necessário e que decisões adicionais cabiam aos médicos. Também informaram que não tinham autorização para divulgar os nomes dos profissionais e sugeriram que essas informações poderiam ser obtidas pela ouvidoria ou diretoria, que atuam apenas em horário comercial.

O desentendimento escalou quando um policial acusou uma enfermeira de desacato e a agrediu fisicamente, empurrando-a contra um vidro e tentando jogá-la ao chão. Um maqueiro, que tentou ajudar, também foi agredido.

O Mais Goiás entrou em contato com a Polícia Militar e com a Prefeitura de Goiânia, mas, até o momento, não obteve resposta. O Sindisaúde e a Maternidade Célia Câmara se manifestaram em apoio aos servidores e lamentaram o ocorrido (veja as notas a seguir). Ambos lembraram que, apesar dos salários e benefícios estarem atrasados, os servidores continuam prestando atendimento à população.

Nota do hospital

O Hospital da Mulher e Maternidade Célia Câmara (HMMCC) esclarece que segue rigoroso protocolo de Classificação de Risco, prestando assistência às pacientes de acordo com a urgência que cada caso exige.

A paciente citada tentou ser atendida em desacordo com o protocolo, exigindo passar à frente de outras mulheres, situação que não foi permitida pela equipe.

O HMMCC lamenta a conduta ofensiva da Polícia Militar com os profissionais que seguiam as diretrizes da assistência eficaz, respeitosa e segura, e informa que a Fundahc/UFG, gestora da unidade, acionou uma advogada criminalista para conduzir a situação.

Mesmo com a triste circustância, o hospital mantém o atendimento às pacientes que procuram a Emergência da unidade. O cuidado com a saúde da população não pode parar.

Assessoria de Imprensa Fundahc/UFG
06/12/2024

Nota do Sindisaúde

O Sindsaúde-GO manifesta sua perplexidade e indignação diante das cenas de violência e abuso de autoridade registradas nesta sexta-feira (6), na Maternidade Célia Câmara, em Goiânia, onde dois trabalhadores da saúde foram presos de forma truculenta durante a troca de plantão. As imagens chocantes retratam uma situação inadmissível e inaceitável, especialmente em um contexto no qual os profissionais da saúde já enfrentam sobrecarga de trabalho, atrasos salariais, condições precárias de atendimento e a constante falta de insumos e segurança.

De acordo com relatos de testemunhas, o episódio teve início quando uma paciente gestante, classificada como ficha verde – condição de menor gravidade e sem risco imediato à vida – chegou à unidade durante a troca de plantão. O marido da gestante, insatisfeito com o tempo de espera, acionou o assessor de um vereador, que compareceu ao local, iniciou filmagens e convocou a polícia. Quando os policiais chegaram, ignoraram os protocolos de triagem da unidade e agiram de forma autoritária e desproporcional.

O Sindsaúde se solidariza com os profissionais covardemente agredidos, lamenta profundamente o ocorrido e repudia veementemente a ação truculenta e o despreparo da polícia, que deveria agir para proteger a integridade física e emocional dos cidadãos, e não para intimidar e violentar os profissionais de saúde que dedicam suas vidas à assistência da população. A postura abusiva e desrespeitosa evidenciada no episódio não apenas fere os direitos humanos dos trabalhadores, mas também agrava a crise na saúde pública, ao desmoralizar e desvalorizar ainda mais os servidores já exaustos pelas condições degradantes enfrentadas diariamente.

É inaceitável que, em vez de serem protegidos e apoiados, os trabalhadores da saúde sejam tratados como vilões de uma crise que é resultado direto da negligência e da omissão do poder público. Principalmente, da maioria do Poder Legislativo, que foi conivente com a incompetência do poder executivo e sempre barganhou cargos e mercadejou com o sofrimento e dor das pessoas que utilizam o sistema público de saúde. É preciso identificar e punir o assessor e o vereador que tentaram fazer tráfico de influência na maternidade. Isso é inadmissível!