Depois de operação no Ingoh, advogado atribui origem de investigação a “fofoca comercial”
Instituto sugere que denúncias façam parte de uma perseguição feita por concorrentes. PC aponta elementos de que suposto conluio tenha gerado desvios na ordem de R$ 50 milhões
Após ter sócios apontados em denúncias de corrupção que geraram cumprimento de mandados de busca e apreensão executados na manhã de quinta-feira (12), a diretoria do Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (Ingoh) se manifestou nesta sexta-feira (13). Por meio do advogado Iure de Castro, a empresa classificou como “fococa comercial” as denúncias que levaram a unidade a se tornar alvo de investigação por superfaturamento de atendimentos realizados por meio do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo). Para ele, a situação decorre de informações falsas “ventiladas de forma leviana pelos concorrentes”.
Segundo informações levantadas pelo Grupo Especial de Combate à Corrupção (Geccor), um auditor robô foi utilizado para alimentar um esquema que criava ausência de glosas, ou seja, de bloqueio de valores indevidos. De acordo com a corporação, R$ 50 milhões foram desviados. Mandados cumpridos também afetaram antigos servidores do Ipasgo e ex-diretor do Hospital de Urgências de Goiânia.
Em entrevista nesta sexta (13), o presidente e diretor técnico do Instituto, Yuri Vasconcelos, também reforçou as palavras do advogado ao negar que o Ingoh tenha feito parte de um esquema criminoso. Ele também sublinhou que um conluio dos concorrentes provocou uma rede de denúncias reiteradas contra o estabelecimento. “Em nosso sistema aqui, eu digo plenamente que não tenho nenhum robô fazendo qualquer processo de faturamento. Do Ipasgo eu não sei. O superfaturamento não existe porque a tabela é única pra todo mundo. Diferentemente de uma clínica concorrente que participava do programa, eu tinha o maior volume de atendimento”, explica.
As acusações, para Vasconcelos, teriam sido feitas por clínicas do seguimento de tratamento oncológico com o intuito de tirar a credibilidade da unidade de saúde e afetar o credenciamento do Ingoh junto ao Ipasgo, uma vez que Instituto detinha cerca de 82% dos pacientes quimioterápicos do convênio. “Isso foi uma questão de mercado. Uma questão de ordem econômica”, alegou o presidente. Os autores da ação civil, como sugere Vasconcelos, pertencem ou participam de forma societária ao quatro empresas do seguimento.
Denúncias
Castro reconheceu que esta não é a primeira vez que o instituto recebe denúncias anônimas com os mesmos questionamentos: suposto recebimento por uso de sala, pagamento de frasco cheio de medicação e duplicidade em guias do Ipasgo, apontando superfaturamento. Segundo ele, as denúncias de um conluio entre o Ingoh e o Ipasgo surgiram pela primeira vez em 2014, mas, como afirma o advogado, foram arquivadas em 2017 pelo próprio MP.
O único ponto que não foi apurado pelo Ministério Público, na época, foi o óbito do paciente Alexandre Francisco, que fazia tratamento na unidade contra um câncer de pulmão e teria tido a medicação modificada para uma de baixo custo. O falecimento ocorreu também no ano de 2017, mas após o encerramento das investigações.
“Essa ação judicial que foi ajuizada em 2019 não foi uma ação contra o Ingoh. Um grupo de médicos entrou com uma ação contra a Unimed e, no bojo, desta ação juntou a cópia integral da denúncia que foi protocolizada no Gaeco/MP, no dia 2 de outubro de 2018, anonimamente. Como uma denúncia anônima foi parar num processo de um grupo de médicos contra a Unimed? Isso é o que não conseguimos explicar. Um processo contra a Unimed pedindo documentos do Ingoh, o que é mais inusitado ainda”, declarou o advogado.
Outro ponto que reforça a inclinação do Instituto em atribuir as denúncias à concorrência, segundo alega o advogado, foi o caso de pacientes do estabelecimento passarem a receber cópias das denúncias, que eram utilizadas depois para questionar a administração. “Essa denúncia começou a ser entregue, justamente, com essa pecha de eventual subdosagem de medicamentos, de provocação de morte de pacientes. Agora imagine um paciente oncológico no Ingoh recebendo uma fofoca comercial de que havia a aplicação inadequada de medicamentos aqui. Dentro de um universo de aproximadamente 170 mil pacientes”, sugere.
Presidente do Ingoh, Yuri Vasconcelos, e o advogado da unidade, Iure Castro (Foto: Thaynara Cunha / Mais Goiás)
Morte
Em 2018, os já mencionados questionamentos de 2014 foram feitos ao Ministério, novamente, de forma anônima. No início deste ano, o óbito de Alexandre começou a ser apurado pelo órgão, que incluiu os pontos abordados na denúncia à uma ação civil pública, que tornou o instituto alvo de investigações e suspeito de autoria de homicídio do paciente.
“Alexandre estava com um quadro avançado de câncer no pulmão e havia feito dois tratamentos anteriormente em clínicas concorrentes. O paciente [Alexandre] teve efeitos colaterais relacionados a este segundo tratamento e, então, iniciou um novo tratamento junto ao Ingoh.”, declara o advogado.
À imprensa, o presidente e diretor técnico do Instituto, Yuri Vasconcelos, afirmou que o paciente foi atendido apenas uma vez pelo Ingoh e que a medicação ministrada a ele, Tarceva 150mg, fazia parte do novo tratamento. Vasconcelos negou, ainda, que a medicação fosse de baixo custo, uma vez que cada caixa contendo 30 cápsulas custava R$ 6,5 mil.
*Thaynara da Cunha é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Hugo Oliveira