DIA DOS PROFESSORES

Desafio dos professores é se reinventarem na pandemia

Educadores apontam problemas que já eram existentes na sala de aula e que se intensificaram na pandemia

Em setembro deste ano, Goiás comemorou o feito de ter sido a única unidade da Federação a bater meta individual estipulada para 2019 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), atingindo o primeiro lugar nacional no ranking. Num evento de anúncio do resultado, a secretária da Educação, Fátima Gavioli, atribuiu aos professores a maior parte do crédito pela façanha. E são eles, os educadores, que, em 2020, durante uma pandemia, têm se desdobrado na luta contra as dificuldades da profissão para manter a qualidade do serviço oferecido à sociedade.

Afastados das salas de aula desde março, devido à suspensão das aulas presenciais como medida de prevenção contra o novo coronavírus, os professores da rede pública precisam lidar com, além do problema de desinteresse e falta de acesso à tecnologia por parte de alunos e pais, também o estresse emocional e a pressão psicológica da função.

A professora Cláudia Dias, de 49 anos, leciona ciências da natureza para turmas do 6º ao 9º ano em um colégio estadual do município de Nazário. Cláudia, que dá aulas há cerca de 26 anos, conta que está no regime remoto de ensino desde o dia 18 de março, quando, assim como todos os outros professores, assumiu o compromisso de transformar o computador e o celular na sala de aula. No entanto, a educadora admite que não tem sido fácil.

Cláudia destaca a dificuldade que alguns professores apresentaram (e ainda apresentam) quando o sistema remoto foi implementado. Segundo ela, alguns profissionais sequer tinham um celular compatível com as ferramentas. Além disso, há ainda os imprevistos e atrasos de se dar aula online.

Em aula online, Cláudia usou massinha de modelar para ensinar as camadas da terra | Foto: Arquivo pessoal

“Nas salas de aula nós encontrávamos dificuldade, sim. Mas está sendo muito mais trabalhoso essas aulas remotas. Porque você planeja aula, e tem aquele aluno que não consegue entrar no Google Meet, você posta no Whatsapp, faz um vídeo, não fica bom, faz outro. Tem tomado mais da gente e o triste é que, às vezes, a cobrança vem muito. A gente percebe que o professor às vezes não é valorizado”, desabafa.

Somando-se a esse, há ainda o problema de desinteresse por parte dos pais e alunos. Cláudia relata que tem tentado ser criativa em suas aula para prender a atenção dos estudantes, com a realização de gincanas, vídeos interativos e etc. Mesmo assim, o retorno nem sempre é o esperado.

“Eu não sei o que anda acontecendo com os pais de hoje, eles entregaram muito pra escola a responsabilidade de educar. Isso aí é o que torna nosso trabalho tão difícil. Porque além de professor, a gente tem que fazer o papel dos pais”, pontua a professora.

Alunos longe da tecnologia

A professora de língua portuguesa e inglesa, Edineia Pereira, tem 45 anos, com 25 deles dedicados à sala de aula. A educadora, que atua na rede municipal com o ensino de jovens e adultos e na rede estadual, com o ensino médio (2º e 3º ano), expõe o que considera ser a maior dificuldade do professor no período da pandemia: a falta de acesso do aluno à tecnologia.

Para Edineia, se antes da pandemia a precarização das estruturas das escolas já era um problema para as aulas, depois da pandemia a questão se agravou ainda mais. Segundo a educadora, torna-se inviável propor aulas mais abrangentes uma vez que os alunos mal têm acesso à internet. “Tanto professores quanto educandos não têm acesso aos instrumentos. Não adianta ter uma organização se os alunos não têm acesso à internet, que é o básico. A um celular de qualidade, a um ambiente de estudo onde as pessoas possam ter uma capacidade concentração”, pondera.

A professora conta ainda que também precisam lidar com a falta de apoio financeiro por parte do Estado. Conforme Edineia, os profissionais, que tiveram que se readaptar e fazer novas aquisições, como novos celulares e computadores, para poderem dar conta das aulas remotas, não tiveram nenhum tipo de ajuda por parte do governo de Goiás.

Edineira Pereira dá aula há 25 anos | Foto: Arquivo pessoal

No entanto, ainda mais que o financeiro, o psicológico parece ter sido a parte mais afetado dos professores. Segundo Edineia, os profissionais da educação foram muito afetados pela pandemia e vivem sob forte estresse, sem poder contar com nenhum tipo de amparo por parte do Estado.

“Muitos profissionais ficaram abalados psicologicamente […]. Mudou o horário de trabalho do professor, aluno manda mensagem 24 horas, final de semana, feriado. Sem falar que tanto alunos quanto professores têm tido seus familiares atingidos pelo coronavírus. Então o professor precisa lidar com a questão da doença de seus familiares e com essa novidade toda de aula remota”, relata.

A reportagem do Mais Goiás entrou em contato com a Secretaria de Estado de Educação de Goiás (Seduc) sobre os pontos aqui levantados. Conforme informado pela pasta, o governador Ronaldo Caiado pagará uma ajuda de custo a todos os servidores da Seduc no próximo mês de dezembro. De acordo com a secretaria, os benefícios somam R$ 100 milhões e serão destinados tanto aos profissionais efetivos, como também aos comissionados e àqueles que possuem contratos temporários.

Já quanto ao amparo psicológico, o governo informou que “várias ações estão sendo realizadas”. Conforme a Seduc, foi criado, em parceria com o Sebrae, um ‘Emocionário’ que está hospedado no portal de conteúdos da Seduc Goiás  (portal.educacao.go.gov.br) para dar suporte tanto para os alunos quanto para  os profissionais da educação.

Além disso, ainda de acordo com a secretaria “estão sendo realizados cursos em parceria com o Instituto Península, por meio da plataforma Vivescer, sobre autoconhecimento” e “um grupo de psicólogos da Seduc está atendendo via Skype todos os servidores da Educação”.