Em abraçaço, multidão demonstra apoio ao Hospital Araújo Jorge
Unidade, que é referência no tratamento de câncer, passar por uma crise e pode ter que suspender serviços
Um abraçaço mobilizou, na manhã desta quarta-feira (31), dezenas de pessoas sensibilizadas com a atual situação do Hospital Araújo Jorge, em Goiânia. Segundo a Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG), gestora da unidade, mais de 500 pessoas estiveram presentes na manifestação.
O abraçaço é parte da campanha lançada nas redes sociais intitulada #SomosTodosACCG. O objetivo é demonstrar apoio à instituição e mobilizar sociedade e poder público para encontrar soluções para a crise por qual passa o hospital.
“Foi um ato simbólico da população, dos pacientes, dos familiares dos pacientes e dos voluntários. Um sinal de proteção ao hospital contra a suspensão de serviços ou qualquer corte que venha a afetá-lo”, afirma a assessora Márgara Morais. “Foi realmente muito bonito.”
Crise
A crise do Hospital Araújo Jorge veio à tona no início deste mês por meio de sua própria diretoria, que busca amparo da população e do poder público para evitar a suspensão de serviços. A unidade é referência no tratamento de câncer em Goiás, atendendo pacientes de diversas parte do Brasil, e pode ser obrigada a não oferecer mais tratamentos como o transplante de medula.
De acordo com o presidente da ACCG, Paulo Moacir de Oliveira Campoli, a atual crise financeira nacional provocou abalos significativos no balanço econômico do hospital. Os aumentos nos preços do combustível, da energia elétrica e principalmente do dólar – que provoca incremento nos custos de diversos medicamentos que são cotados na moeda – fizeram com que setores que antes eram superavitários passassem para o outro lado da balança. Da mesma forma, os que já causavam prejuízo começaram a impactar ainda mais as finanças da unidade, que desde o início do ano sofre perdas de cerca de R$ 1,3 milhão por mês.
Desse montante, os maiores déficits são causados por quatro setores: oncologia pediátrica, pronto-socorro, UTI e o transplante de medula. Somente este último é responsável por perdas de aproximadamente R$ 500 mil.
“O transplante de medula custa hoje cerca de R$ 120 mil e nós fazemos uma média de quatro ou cinco procedimentos do tipo por mês”, relatou o presidente. “O SUS não atualiza sua tabela desde 1999 e, com isso, a remuneração que eles passam é de R$ 23 mil por cada transplante, o que dá uma diferença de quase R$ 100 mil.”
No último dia 23, uma reunião no Ministério Público Federal (MPF) com os secretários municipal e estadual de Saúde, respectivamente Fernando Machado e Leonardo Vilela, terminou sem nenhum acordo que garanta a viabilidade da continuidade dos serviços da unidade. Na ocasião, ficou acertado, apenas, que as partes envolvidas deverão entregar até o dia 2 de setembro um documento que apresente os motivos para a crise e as medidas que estão sendo efetuadas para saná-la.
Na última segunda (29), uma tarde inteira de audiências com o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, com o secretário municipal de Saúde, e por último, com o secretário municipal de Finanças, Stenio Nascimento da Silva, também não trouxe nenhum resultado.
O presidente da ACCG se disse muito preocupado com a situação atual, com a possibilidade cada vez mais concreta de fechamento de serviços vitais no tratamento do câncer, como o Setor de Transplante de Medula Óssea. “O poder público está virando as costas para a população, ao não garantir a complementação devida pelos serviços prestados pelo Hospital Araújo Jorge. Estamos correndo contra o tempo, já que o câncer não espera por medidas de longo prazo, a situação exige resposta emergencial”, concluiu Paulo Moacir.