Em dificuldade, pedagoga sustenta família com venda de doces em Goiânia
Com produção e venda de doces, Maylla faz parte dos goianos que vivem na informalidade
Em meio ao pior momento da pandemia de covid-19 no Brasil e a uma taxa de 12,4% de pessoas desempregadas no último ano no estado de Goiás, a informalidade se tornou fundamental para inúmeras famílias sobreviverem, segundo dados do IBGE. A pedagoga Maylla Ferreira da Silva Barrozo relata como a confeitaria tem sustentado ela e os dois filhos na capital goiana.
A produção e venda de doces, tortas e ovos de chocolate fazem parte da vida de Maylla bem antes do início da pandemia. Atualmente, com 48 anos, ela explica que deixou o trabalho como pedagoga há três anos atrás, pois precisava acompanhar o marido no tratamento de hemodiálise.
“Para não ficar sem renda escolhi trabalhar com doces, pois é uma área que gosto muito. As encomendas começaram a surgir a partir de indicações e estou até hoje. Gosto do que faço, mesmo que não tenha encomenda estou sempre pensando em algo novo para fazer”, afirma.
A realidade da confeiteira é constatada em pesquisas do IBGE, divulgadas na última quarta-feira (31). Em Goiás, durante todo o ano de 2020, quase 40% da população trabalhava de maneira informal. Aumento influenciado pelos efeitos da pandemia e do crescente número de goianos desempregados.
Se comparados há três anos atrás, quando Maylla começou a vender os doces, Goiás tinha 9,2% da população desocupada. Em 2020, esse número subiu para 12,4%. Uma pesquisa da Central Única de Favelas (Cufa) revelou que pelo menos 400 mil pessoas vivem abaixo da linha de pobreza no território goiano.
Impactos da Covid-19
A pandemia escancarou a vulnerabilidade do trabalho informal, com 12 milhões de brasileiros sem emprego nos primeiros seis meses de crise, segundo o IBGE. Apesar de já ter iniciado o trabalho com os doces há alguns anos, Maylla afirma que a covid-19 teve um impacto imensurável na vida dela e da família.
“Durante a pandemia perdemos meus esposo para a Covid e a nossa situação financeira se desestabilizou. Tivemos ajuda de amigos e parentes e hoje dependo ainda mais das vendas dos doces para conseguir manter minha casa em ordem”, relata Maylla.
A pedagoga explicou que atualmente essa é sua única atividade de trabalho. Ela recebe ajuda financeira dos dois filhos, que trabalham e vivem com ela. Além disso, contou com o apoio do auxílio emergencial. “Não tenho equipe. Quando aceito uma encomenda maior, são meus filhos que me ajudam”, diz ela.
Auxílio Emergencial
Assim como Maylla, aproximadamente 70 milhões de brasileiros foram beneficiados com o auxílio emergencial. Através dele, muitas famílias foram amparadas e, principalmente, puderam ficar em casa, a fim de reduzir as contaminações por coronavírus.
A partir de abril, o auxílio voltará a ser pago, mas com o valor reduzido. A decisão foi amplamente criticada em todo o país, já que a média de R$300,00 que deverão ser pagos, não são suficientes nem mesmo para a cesta básica, na maioria das capitais.
A confeiteira reforça a realidade. “Para um pequeno negócio como o meu, que nem sempre consegue manter um estoque, quando surge alguma encomenda e tem que correr no mercado para comprar os ingredientes, se assusta com os preços. Dificulta bastante”, lamenta.
Páscoa
Faltando poucos dias para a celebração da páscoa, feriado que potencializa a venda de doces, especialistas afirmam que os goianos devem investir em ovos caseiros. Isso porque, uma pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) revelou que os ovos de chocolate estão, em média, 11% mais caros neste ano.
Ao Mais Goiás, o economista Bruno Fleury disse que acredita que a tendência é que o consumidor fuja dos altos preços ao consumir ovos caseiros e marcas mais acessíveis. “Os ovos artesanais devem tomar o lugar dos industrializados, até porque muita gente perdeu emprego e essa pode ser uma boa oportunidade de ganhar um dinheiro extra”, explicou o especialista.
Maylla concorda com Bruno, mas afirma que não tem boas expectativas. “Minha expectativa para a páscoa esse ano não está muito boa, já tive anos melhores. A maioria das pessoas não estão com uma vida financeira tão confortável, com isso as vendas tendem a cair infelizmente” lamenta a confeiteira.
Ela diz ainda que decidiu não inovar por não ter condições financeiras de se arriscar no momento. “Vendi menos do que teria vendido no ano passado. Me sinto um pouco apreensiva, pois muitas pessoas estão migrando para o ramo da alimentação como forma de complementar suas rendas. Tenho fé que ainda vai melhorar”, diz ela.
Mesmo com todas as dificuldades, a confeiteira não desanima. “A gente sempre pensa em aumentar, diferenciar as produções, ter uma divulgação melhor. Hoje em dia mostro meu trabalho pelo Instagram e com indicações, confeccionando doces para festas infantis e casamentos. Quando se faz o que gosta a gente persiste e não desiste”, reforça ela.