Em Goiânia, animais abandonados ganham um lar graças à ação de grupos e protetores independentes
Senhora de 54 anos cuida sozinha de mais de 40 cães e oito gatos. Apesar das dificuldades, ela nunca pensou em parar de ajudar
Dona Gilda, de 54 anos, vive em uma casa humilde, mas onde não falta amor. Ela cria sozinha mais de 40 cachorros e oito gatos, todos resgatados. Muitos chegaram até a senhora por acaso, outros foram encontrados na rua. A maioria estava com sarna, desnutrição, vermes e alguns com fraturas, resultado de acidentes.
Em Goiânia, o resgate e o cuidado dos animais abandonados são realizados por pessoas como dona Gilda. Ela conta que cria animais desde a infância, mas que começou a adotar quando trabalhava em um petshop. Muitos cães e gatos chegavam ao local machucados e acabavam sendo deixados pelos donos.
Atualmente, dona Gilda é diarista e o dinheiro que recebe com o trabalho mal consegue colocar comida na mesa, que dirá alimentar as quase 50 bocas das quais ela é responsável. A senhora explica que quando algum dos animais adoece, ela fica “desesperada” e já deixou de pagar as contas para custear tratamentos veterinários. A dívida que acumulou em clínicas é grande, mas eventualmente os veterinários realizam consultas e procedimentos gratuitos por conhecerem a realidade que ela enfrenta.
A maioria dos cachorros de dona Gilda não tem raça definida. Essa é uma realidade entre os cães abandonados, uma vez que entre comprar um cão de raça e adotar um “vira-lata”, grande parte das pessoas opta por comprar. E nos abrigos e lares temporários, cresce o número de animais sem raça.
Vitória foi resgatada por um grupo de proteção à animais que procurou dona Gilda como lar temporário. A ideia era cuidar da cadela enquanto ela se recuperava e depois encontrar alguém que pudesse adotá-la em definitivo. O tempo passou, e mesmo com insistência da senhora para que a ONG pegasse de volta, o animal acabou ficando. Vitória é uma das mais velhas, e que está a mais tempo com Gilda.
Hoje, a senhora e os animais se mantém por meio de doações. Mas falta muito para suprir todas as necessidades dos animais.Como nem todos são castrados, muitos filhotes nascem no lugar. Para eles é mais fácil encontra dono, as pessoas preferem cães ainda filhotes.
O único problema em adotar um cão novo é não ter noção de como vai crescer. Muitos cachorros são abandonados pois cresceram demais e a casa em que estavam não suportam o tamanho. Por isso, é importante conversar com um veterinário para ter uma estimativa e não correr o risco de não poder ficar com o bichinho.
Além dos cães, a mulher enfrenta dificuldades com um gato doente. O animal está debilitado e precisa operar. Enquanto a cirurgia não é possível, os remédios para aliviar a dor são administrados pela dona em casa, mas não é sempre que ela consegue comprar os medicamentos.
Dona Gilda também precisa quitar sua dívida nas clínicas veterinárias e vacinar os animais. Mesmo com tantas dificuldades, a senhora continua dedicando a vida aos animais e nunca pensou em parar de acolher e cuidar daqueles que cruzam o seu caminho.
Quem se interessar em ajudar, pode entrar em contato com a senhora pelo número 32253978.
Protetores
As pessoas que resgatam e cuidam dos animais abandonados por conta própria são conhecidas por protetores independentes. O trabalho de um protetor independente consiste em resgatar os animais, encaminhar para tratamento veterinário adequado e ajudar o bichinho a encontrar um lar.
Além dos protetores independentes, muitas entidades realizam trabalhos de resgate de animais abandonados em Goiânia. Os grupos identificam os bichinhos na rua ou recebem pedidos de ajuda de pessoas que encontram os animais em situações precárias, muitas vezes machucados e doentes.
A Associação Protetora e Amiga dos Animais (Aspaan) é uma organização sem fins lucrativos que atua na proposição de políticas públicas e na conscientização para a questão dos animais em situação de rua. O grupo ministra palestras e ações em escolas e universidades para promover a educação acerca da posse responsável de animais de estimação.
De acordo com a presidente da Aspaan, Lessandra Maione, o último levantamento realizado sobre o tema, em 2015, indicou cerca de 250 mil animais nas ruas de Goiânia. O número atualizado é difícil de determinar, pois muitos animais já foram adotados e muitos reproduziram nas ruas por não serem castrados.
Lessandra explica que a associação trabalha com animais vítimas de maus tratos. Após denúncias, a organização providencia um modo de resgatar e encaminhar os animais para tratamento. Quando o tratamento veterinário termina, o bichinho é encaminhado para lares de temporários.
Além dos danos físicos, muitos cães e gatos resgatados chegam à Aspaan traumatizados e com muito medo de contato com seres humanos. Por isso, são mantidos de três a seis meses em observação para que aprendam a socializar novamente.
Após o período de ressocialização, os animais são encaminhados para adoção. A Aspaan realiza feiras de adoção em parceria com shoppings, empresas e escolas que cedem o espaço e ajudam na divulgação. Em todas as adoções os animais são entregues vermifugados, castrados e vacinados. O interessado em adotar precisa ter mais de 18 anos e passa por uma entrevista em que são orientados sobre a posse responsável. O último passo é assinar um termo de responsabilidade.
“As pessoas hoje são muito mais conscientes em relação à adoção e preferem adotar do que comprar um animal”, explica Lessandra. A presidente explica ainda, que apesar de muitas pessoas que maltratam e abandonam animais, há muitos interessados em ajudar.
A Aspaan sobrevive de voluntariado e doações. Nos doze anos de existência da associação, mais de 4.200 animais, entre cães e gatos, já foram resgatados e encontraram um lar.
Redes sociais
A internet é uma boa aliada dos grupos de proteção independente. Muitos deles mantém contas em redes sociais, que ajudam a divulgar eventos e conectar as pessoas dispostas a ajudar às que precisam de ajuda. O grupo Vida Lata existe há sete anos e já encontrou um lar para cerca de 800 animais em situação de rua.
Cinthia Siqueira faz parte da organização desde o início e explica que o foco é ajudar quem encontra um animal abandonado, oferecendo condições para custear tratamentos e encontrando lares temporários. Por meio da página no Facebook, são divulgados diariamente casos de animais com problemas e, quem puder ajudar, entra em contato.
Além disso, possuem uma ficha de adoção que direciona os interessados em adotar para o animal mais adequado. Por exemplo, se uma família quer adotar e relata que vive em apartamento, o grupo vai encontrar um animal pequeno, para não correr o risco do bichinho ser devolvido por não se adaptar.
“Não existem medidas públicas em relação ao abandono de animais. Existem leis que proíbem o abandono e maus tratos, mas não são cumpridas. Não existe campanhas de castração e conscientização da população sobre isso”, conta Cinthia. Apesar disso, a protetora acredita que as pessoas estão melhorando e se abrindo mais para as possibilidades de adotar.
* Amanda Sales é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lôbo.