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Uma equipe do jornal O Popular ficou em choque ao saber da morte do entregador Bruno Henrique Mendonça Viana, de 17 anos, ocorrida no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo).
Na última segunda-feira (08/09), a equipe do jornal fazia uma reportagem sobre a falta de raio X no Centro de Atenção Integral à Saúde (Cais) Campinas, quando encontrou o jovem deitado em uma maca no corredor do centro de saúde.
De acordo com a publicação, bem humorado, fez brincadeiras durante a entrevista, arrancando risadas da mãe, a comerciante Cléia Carneiro de Mendonça, de 55, sentada na cadeira ao lado da maca onde o filho estava. “Não preocupa não. Isso foi coisa à toa. Moto tem esses contratempos mesmo”, dizia o rapaz. Ao posar para a fotografia que estampou a capa do jornal no dia seguinte, ele fez um pedido: “Não quero sair feio, viu. Por favor, me deixe bonito na foto”.
No segundo encontro da equipe do jornal com Bruno Henrique, na tarde de ontem, ele era velado no Cemitério Parque Memorial. Como no Cais, Cléia estava sentada em uma cadeira ao lado do filho, mas só chorava. Quando se aproximou das 17 horas, momento do enterro, a mãe se relutou em fechar o caixão. Abraçada à urna onde estava o caçula de cinco filhos, ela dizia: “Te amo tanto meu filho, vou sentir muito a sua falta”.
Além da tristeza natural da perda de um ente querido, o sentimento entre os parentes de Bruno era de revolta. “É difícil para a gente aceitar, porque foi um acidente banal. Se fizessem os procedimentos rapidamente, talvez ele ainda estivesse vivo”, disse a irmã, Flávia Mendonça Alves, de 27.
Para a mãe, a morte de Bruno não foi uma fatalidade, mas o resultado de uma sequência de omissão e desrespeito. “Ficamos com o menino para lá e para cá até chegar ao Hugo. O pessoal fala que lá é hospital de referência, só se for referência de morte. Ficamos lá mais de 24 horas e nenhum médico foi ver meu filho. Apenas enfermeiras”, reclama.
O CASO
Bruno sofreu um acidente enquanto trabalhava de entregador de farmácia, por volta das 12 horas de segunda-feira, no Parque Atheneu. Com suspeita de fratura na coxa direita, ele foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levado para o Cais Campinas, onde deveria conseguir um exame de raios X. Mas nesse dia, radiologistas da empresa que presta o serviço de diagnóstico por imagem haviam feito uma paralisação, e o rapaz precisou aguardar por horas até que chegasse outra ambulância, às 18h30, para transferi-lo ao Centro de Referência em Ortopedia e Fisioterapia (Crof).
No Crof, a radiografia confirmou a fratura no fêmur direito. Segundo o coordenador-geral da unidade, Eduardo Abrão da Silva, a fratura no fêmur necessitava de tratamento cirúrgico. Por isso, o sistema de regulação foi acionado e Bruno acabou transferido para o Hugo.
Levado para o Hugo por volta das 22 horas, o rapaz esperou cerca de duas horas em uma maca no corredor, até conseguir um leito na enfermaria. A mãe conta que deixou o rapaz dormindo, durante a madrugada, e a irmã, Flávia, chegou para acompanhá-lo na manhã seguinte.
Segundo a família, a primeira medicação foi dada por volta das 13 horas. Até o fim da tarde de terça-feira, o rapaz estava bem, mas começou a reclamar de secura na boca e sentia muita sede. Após receber um segundo medicamento, por volta das 19 horas, o jovem apresentou uma piora brusca no quadro de saúde. De acordo com a irmã, por volta das 20 horas ele começou a vomitar “sangue vivo”.
A mãe reclama que, mesmo com o filho escarrando sangue, as enfermeiras do Hugo demoraram a atendê-lo. Quando as enfermeiras chegaram, segundo Cléia, levaram Bruno para a sala de reanimação e disseram que fariam exames. Logo depois, uma funcionária do hospital pediu que ela tirasse as coisas do rapaz da enfermaria e aguardasse na recepção.
“Passei a noite inteira na recepção e ninguém dava informação sobre o meu filho”, relata Cléia. Por volta das 6h40, a família foi avisada da morte do rapaz. “O médico disse que ele teve duas paradas cardiorrespiratórias e não resistiu.”
DIRETOR DO HUGO NEGA FALHA
O diretor-geral do Hospital de Urgências de Goiás (Hugo), Ciro Ricardo de Castro, afirmou que o entregador Bruno Henrique Mendonça Viana foi vítima de uma embolia pulmonar e nega que o paciente tenha sofrido algum tipo de omissão. Castro também afirmou que o caso de Bruno, uma fratura fechada, não é o perfil de cirurgias realizadas no Hugo, que atende vítimas com fraturas expostas.
“Fratura fechada não é perfil nosso. Isso deveria ter sido resolvido lá no Centro de Referência em Ortopedia e Fisioterapia (Crof) ou encaminhado para a rede conveniada”, justificou Castro. Mesmo assim, o hospital recebeu o paciente e, segundo o diretor, fez tudo que podia ser feito.
“Ele recebeu todos os cuidados necessários. Respeitamos a dor da família, mas não venham responsabilizar o hospital por uma intercorrência que não é de responsabilidade do hospital”, afirmou.
(Por Gabriela Lima)