Empresa de reciclagem cujo incêndio deixou três mortos já tinha registrado fogo em 2018
A empresa de reciclagem EcoVR já tinha registrado um incêndio em outubro de 2018. Um…
A empresa de reciclagem EcoVR já tinha registrado um incêndio em outubro de 2018. Um vídeo mostra que o fogo atingiu justamente a máquina que realizava a retirada do gás butano de dentro dos frascos de desodorantes. O galpão da fábrica ficou totalmente destruído após uma explosão, seguida de incêndio, que deixou três funcionários mortos no último dia 30 de maio.
Nas cenas é possível verificar que os próprios funcionários se mobilizam para apagar as chamas da máquina com o auxílio de extintores. Consta no Corpo de Bombeiros um registro de ocorrência no dia 24 de outubro de 2018, por volta das 10h30 da manhã, em que era relatado um princípio de incêndio no local. Porém, a corporação não chegou a ir até a empresa após ser informada que as chamas tinham sido controladas.
Um ex-colaborador da empresa, que preferiu não se identificar, classificou o incêndio como “uma tragédia anunciada” e disse que a empresa fiscalizava o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) no período em que trabalhou no local. “É muita negligência tudo o que ocorreu, pois, ao invés de colocar essa máquina para funcionar, acabaram colocando novamente os funcionários em risco e isso resultou nessa tragédia”, conta.
O Mais Goiás entrou em contato com o delegado à frente das investigações do incêndio, Diogo Barreira, mas foi informado que o mesmo estava em diligências. Por meio de nota, a empresa EcoVR alegou que “está disponibilizando às autoridades competentes todas as provas de que cumpria as normas de segurança do trabalho, individuais e coletivas, o que envolve desde acompanhamentos diários dos colaboradores, treinamentos constantes e orientações para utilização dos EPIs e correto manuseio de objetos, instrumentos e veículos”.
Além disso, a empresa disse que, em relação aos EPIs, “possui todos os registros diários com assinaturas dos colaboradores, atestando que receberam o material no momento de ingresso ao trabalho, provas as quais também serão enviadas às autoridades. Tal fato pode ser evidenciado pelo próprio vídeo do dia do acidente, divulgado por diversos meios de comunicação, onde as imagens mostram que os colaboradores faziam uso dos referidos EPIs no momento do incêndio.”
“Por fim, a empresa esclarece que possui licença ambiental válida até 2022 para a realização da atividade de reciclagem de resíduos industriais, incluindo descaracterização de aerossóis, estando adequada à todas as exigências necessárias para a obtenção do referido licenciamento”, finalizada a nota.
Relembre o caso
O incêndio ocorreu na noite do último dia 30 de maio. Na ocasião, uma grande explosão fez com que as chamas se espalhassem rapidamente pelo local e destruísse tudo pela frente. Três pessoas morreram e outras três ficaram feridas. As vítimas fatais foram Antônio Filho dos Santos Araújo, que foi encontrado carbonizado ainda no local do incêndio, Jeferson Andrade Silva e Luis Jerferson Almeida Rosa, que morreram no Hospital de Urgências Governador Otávio Lage (Hugol).
Outros dois trabalhadores ainda continuam internados na unidade, sendo eles Adriano Silva Castro e Lucas Paca da Silva. Por meio de nota, o Hugol informou que ambos estão internados na UTI e em estado grave. Adriano respira com ajuda de aparelhos e Lucas encontra-se consciente e respira espontaneamente. O terceiro ferido, Cezar Ribeiro de Souza, teve alta na última quarta-feira (5).
Também no última quarta, a Polícia Civil (PC) apresentou laudos nos quais mostraram que a causa da explosão e incêndio foi a grande quantidade de gás butano presente no local. Um outro vídeo mostra a dinâmica para expelição desse gás de dentro dos cilindros de desodorantes para ter início ao processo de reciclagem. “Trata-se de um gás mais denso que o ar e altamente inflamável. Ele formou uma espécie de ‘cobertor’ sobre ao solo. A primeira explosão teve início após essa espécie de cobertura ter entrado em contato com algum ignitor”, afirmou o perito Celso Faria de Souza.
Na ocasião, o delegado Diogo Barreira, da 7ª Delegacia de Polícia, disse que os laudos serão anexados ao inquérito e que os sobreviventes e responsáveis pela empresa foram ouvidos. “São informações fundamentais para o nosso trabalho. Ouvimos o dono da empresa e o gerente da unidade. A tragédia resultou em mortes e, por isso, os responsáveis podem responder por homicídio culposo”, ressaltou.